Pandemia, funções presidenciais, justiça, regionalização e o tiro a Marcelo – mas também ao candidato ausente – foram os temas principais do debate das rádios, que reuniu seis dos sete candidatos presidenciais. André Ventura, candidato apoiado pelo Chega, que tem andado em campanha pelo Interior Norte do País, declinou o convite para participar, invocando razões de agenda.
Ainda assim, André Ventura, ou as suas bandeiras, não estiveram totalmente ausentes. Tiago Mayan Gonçalves que se esforça, à direita, por se diferenciar deste rival, abriu hostilidades, dizendo que não daria posse a um governo que incluísse um ministro defensor da prisão perpétua. Marisa Matias justificou a ausência de Ventura pelo facto de este querer evitar dar explicações pelo facto de, nos últimos dias, ter promovido ajuntamentos contra as indicações da DGS. E Ana Gomes afirmou que não se deve normalizar o facto de existirem forças que apelam ao ódio e ao racismo.
O ponto mais vivo do debate, que provocou a única onda de interrupções entre os candidatos, foi quando Ana Gomes trouxe para cima da mesa o tema da regionalização e Marcelo explicou que, segundo a Constituição, ela passa por um referendo. O debate aqueceu e até Tiago Mayan se definiu como regionalista mas ressalvou que não votaria a favor num referendo onde não ficasse bem claro, na pergunta, de que poderes abdicará o Estado central a favor das regiões. Mayan, por várias vezes, tentou centrar o debate no que considera essencial: o conteúdo e não a forma. E até quando se discutiu a Justiça, evitou a tentação da discussão da moda, sobre o crime económico, a corrupção ou a delação premiada, para defender que o grande bloqueio está na Justiça civill, na cobrança de dívidas, no cumprimento dos contratos e em toda a morosidade que afasta o investimento e os investidores internacionais. Marcelo concordou.
Do grande tema, a pandemia, extrai-se a conclusão de que este estado de emergência é uma confusão de exceções – e que isso está a colocar nas ruas mais gente do que o desejável. E falou-se de mlhares de mortes que podiam ter sido evitadas, com mais previsão e… mais atenção por parte do candidato incumbente.
Numa apreciação indivividual da perfomance de cada um poder-se-á dizer, a propósito, o seguinte:
Tiago Mayan tem crescido de debate para debate e, do ponto de vista quer da crítica ao atual Presidente, quer da passagem do que entende ser a sua mensagem, foi o mais acertivo e o mais eficaz.
Marisa Matias melhorou, relativamente a prestações anteriores, mas continua a ser difícil distinguir-se de qualquer das outras candidatas de esquerda: ao menos, João Ferreira traz a causa da Constituição e Ana Gomes, hoje mais clara nessa área, a da Justiça e da transparência. Marisa parece limitar-se a concordar com os outros, mas não tem uma causa que a distinga.
João Ferreira está programaticamente bem preparado, e conseguiu falar para fora da bolha do confinamento: há um País que trabalha, que não pode fparar, que garante os produtos e serviços essenciais – e são essas pessoas que devem ser protegidas, em quadro de pandemia.
Vitorino Silva traz ao debate as lições da sabedoria popular e pede que se suspenda a campanha nas ruas. As novas tecnlogias permitem que se chegue a mais gente, com mais segurança. E foram dele os ataques mais corrosivos a Marcelo – se excetuarmos os de Mayan -, quando acusa o PR de querer bater o recorde mundial dos políticos testados à Covid-19, como se andasse à procura do vírus para ter essa medalha no currículo. “Mais resguardo”, recomendou Vitorino, que afirmou que a tentação de aparecer de mais está na têmpera do atual PR e que, “se calhar, nem faz por mal”…
Ana Gomes apareceu concisa, preparada e focada na sua mensagem: combate à extrema direita, defesa das funções de soberania – Defesa e Segurança, aqui também com João Ferreira – e combate à corrupção.
Marcelo Rebelo de Sousa mantém a sua postura de Estado, pedagógica, paciente. Sem responder diretamente às críticas, continua apostado em demonstrar o que deve ser o perfil de um Presidente da República e o que deve fazer em contexto de pandemia. A sua voz, no debate, foi sempre a mais serena e racional – mas pouco empolgante.
Aqui estão algumas das frases ou das ideias que marcaram o último debate entre candidatos.
Ana Gomes:
“A banalização do estado de emergência é uma evidência. É preciso que o PR reforce a mão do Governo na negociação com os privados da Saúde. A requisição civil devia ser aplicada”
“As Forças Armadas devem ser utilizadas no apoio aos lares e, mais genericamente, no combate à pandemia. Entre outras atribuições, têm fomação na área da ameaça biológica”.
“As forças políticas que fomentam o ódio, a violência, o insulto, o rscismo, não devem ser normalizadas. O PR devia ter tido um papal no combate à infiltração das forças de segurnaça pela extrema-direita e contra os bloqueios na Justiça”
“Não defendo a delação premiada, mas sim a colaboração com controlo judicial, como está acontecer com Rui Pinto”
Tiago Mayan Gonçalves:
“Não dava posse a um governo que integrasse um ministro que defendesse a prisão perpétua”
“As medidas do estado de emrgência incluiram uma tômbola de exceções”
“Marcelo foi porta-voz das narrativas do Governo, como no caso da vacina contra a gripe ou da champions em Portugal, e guardou pactos de silêncio, como no caso do SEF e no do procurador europeu. Só se rege pela popularidade”
Vitorino Silva:
“Eu fiquei em casa. Vim aqui, mas depois volto para casa. Os políticos ainda não desceram à terra”
“Com tantos testes, Marcelo parece querer liderar o ranking dos políticos mundiais testados. Parece querer estar à procura do vírus, para ter a Covid-19 no seu currículo.”
“O PR devia resguardar-se mais. E se o comentador Marcelo comentasse o Presidente Marcelo, iria concordar comigo. Mas é da natureza dele, se calhar nem faz por mal…”
João Ferreira:
“O Povo não parou, não está em casa, muitos continuam a trabalhar e eu estive com eles.”
“Mais do que restrições, é preciso proteção para quem não pode estar confinado. Reforçar os apoios e reforçar as equipas de rastreio”.
“Estamos a eleger um Presidente que terá um papel fundamental no relançamento do País”.
“Os trabalhadores revelaram-se imprescindíveis, nesta pandemia, mas os trabalhadores não são protegidos”.
Marisa Matias:
“Sem os devidos apoios, e perante a necessidade de pôr comida na mesa, as pessoas cumprem menos o confinamento.”
“Temos aqui um ausente [André Ventura] porque não quer dar explicações sobre os ajuntamentos que promoveu, contra as indicações da DGS”.
Marcelo Rebelo de Sousa:
“Os parceiros politicos não aplicaram o pacto para a Justiça como seria de esperar. Os parceiros sociais fizeram-no melhor”
“É preciso reforçar meios, reformar o DCIAP, garantir a autonomia do Ministério Público e apertar a malha dos offshores”
“Não é indiferente o Estado ter uma participação na GALP” [alusão ao caso dos trabalhadores que poderão ser dispensados da refinaria de Matosinhos?]
“Este confinamento é diferente do outro: as fronteiras estão abertas, há exportações, mais atividades abertas, escolas abertas… É um contexto mais complicado”
“Não houve necessidade de requisição civil [dos hospitais privados] mas se houver necessidade, poderá haver essa requisição.Mas a ideia de que o sistema privado tem grande capacidade de resposta é errada. Não tem.”