No “campeonato” dos partidos sem assento parlamentar (quase) todos perderam, mas uns mais do que outros. Faltando contar os votos no estrangeiro, os dados já disponíveis não deixam margem para o otimismo. O novo mapa eleitoral cor-de-rosa também “arrasou” os mais “pequenos”, que, no total, conseguiram 76 mil votos, contra os 146 mil alcançados em 2019.
Neste universo, o mais votado foi o RIR, de Vitorino Silva, popularmente conhecido como “Tino de Rans”, que obteve 22.553 dos votos (ou 0,42%), embora menos cerca de 12 mil do que há dois anos.
O MAS e o Juntos Pelo Povo (JPP) foram os único destes partidos que cresceram – logrando um feito que, nestas eleições, só foi alcançado por PS, Chega, IL e Livre. Ainda assim, o resultado do MAS ficou aquém do esperado, sobretudo, depois da visibilidade conquistada pela porta-voz do partido, Renata Cambra, no rescaldo da sua prestação (que se tornou viral) no debate da RTP, entre os partidos sem representação parlamentar. O MAS somou 5.896 votos (ou 0,11%), praticamente dobrando a votação de 2019 (quando 3.158 pessoas tinham votado no partido).
Na cauda da tabela, o Aliança, apenas à frente do Partido Popular Monárquico (impedido de votar nos círculos eleitorais do Continente), que não foi além dos 1.902 votos (ou 0,04%). O partido fundado por Pedro Santana Lopes, agora presidido por Jorge Nuno de Sá, deu um autêntico “trambolhão” nas urnas, depois de, nas Legislativas anteriores, ter conseguido 39.318 votos (ou 0,77%), apenas atrás do RIR e dos partidos que elegeram deputados para o Parlamento.
A VISÃO foi ouvir os líderes de três partidos – RIR, MAS e Aliança –, para compreender o que, afinal, falhou para convencer o eleitorado (se é que algo falhou), no passado domingo, dia 30 de janeiro.
“Espero, sinceramente, que o voto útil não se torne inútil”, afirma Vitorino Silva
Vitorino Silva, ou “Tino de Rans”, não tem dúvidas: o RIR foi “prejudicado pelo voto útil [no PS]”. O partido, que, em 2019, tinha conseguido 35 mil votos, tinha como objetivo “eleger um ou dois deputados”, mas acabaria por perder mais de 12 mil eleitores nestas Legislativas, ficando (ainda) mais longe do objetivo.
“À esquerda, votou-se no PS com medo; à direita, Rui Rio não teve a coragem de fechar a porta à extrema-esquerda. E, depois, as empresas de sondagens fizeram o resto. Os resultados estiveram sempre inquinados, a proximidade de que falavam, na verdade, não existia, e isso acabou por ser decisivo”, afirma Vitorino Silva.
Agora, o multifacetado politico – que até chegou a tentar uma carreira musical, ao lançar o tema “Pão com manteiga” – só espera “que o voto útil não se torne inútil”, uma análise que, segundo o próprio, só poderá ser feita ao longo da legislatura: “Só nos próximos quatro anos é que poderemos fazer um balanço”, diz.
E onde estará o RIR e o “Tino de Rans” daqui a quatro anos? “As pessoas já conhecem o RIR e gostam de nós. Quero continuar a mostrar que o nosso projeto político é sério. Por isso, vamos continuar a lutar. Acredito que mereço estar na Assembleia da República, que seria útil ter um verdadeiro representante do povo no Parlamento. Já estive mais perto de ser eleito, mas não vou desistir”, confirma.
“A luta contra a extrema-direita também se faz nas ruas, e é onde estaremos”, diz Renata Cambra
Nas legislativas de 2019, o MAS arrastou-se pelo fundo da tabela, com a participação em apenas nove círculos e pouco mais de três mil votos. Dois anos depois, o partido apresentou-se em processo de renovação e de rejuvenescimento, marcando presença, pela primeira vez, em todos os círculos eleitorais, beneficiando ainda, ao longo da campanha, da atenção mediática dedicada a Renata Cambra, porta-voz do movimento – e a mais jovem líder partidária destas eleições.
O partido quase dobrou a votação, mas continuou com expressão pouco significativa. À VISÃO, Renata Cambra faz um “balanço positivo” da campanha, mas não deixa de lamentar os resultados. “Estes resultados explicam-se com a pressão gigante do voto útil, para impedir a subida ao poder da direita – em particular, para travar uma eventual coligação entre PSD e Chega. É um desfecho que não pode deixar ninguém de esquerda satisfeito. E é preocupante: pela maioria absoluta, que permite ao PS ter carta branca para gerir os fundos do PRR e também pelo crescimento da extrema-direita no Parlamento”, explica.
A líder do partido que se propunha a “acordar a esquerda”, destaca o “orgulho pelo trabalho” realizado pelo MAS, ao longo da campanha, que, de acordo com Renata Cambra, “permitiu mostrar as ideias do partido a mais pessoas”.
A luta, essa, vai continuar. E, desta vez, para “adormececer” a extrema-direita. “A luta não passa só pelo Parlamento, que tem, obviamente, o seu papel, mas também tem de ser feita nas ruas. Aliás, nunca foi no Parlamento que, historicamente, a luta a contra a extrema-direita. E é aí, nas ruas, ao lado das pessoas, dos movimentos, que o MAS esteve, está e estará”, garante.
“É preciso analisar se faz ou não sentido continuar este projeto político”, confessa Jorge Nuno de Sá
Em termos percentuais, o Aliança é o grande derrotado destas Legislativas. O partido que “é um dos amores” de Pedro Santa Lopes (que o fundou), teve uma estreia promissora nas Legislativas de 2019, com cerca de 40 mil votos, mas, dois anos depois, concorreu a apenas sete círculos eleitorais e obteve 1.902 votos – razões que levam o presidente Jorge Nuno de Sá, ex-presidente da JSD e antigo deputado do PSD, a admitir que “é preciso analisar se faz ou não sentido continuar este projeto político”.
Contudo, líder que é líder vê o copo “meio cheio”: “Pelo menos, cumprimos o nosso objetivo, que era fazer uma campanha com dignidade. Estamos num processo de reestruturação do partido, que estava agora a começar. E, ainda assim, esta campanha permitiu servir como um ponto de partido para isso”, afirma.
Antes das eleições, Jorge Nuno de Sá apontava como objetivo ideal “Portugal acordar, no dia 31 de janeiro, com um Governo de direita”. Falhada a meta, o líder do Aliança tenta agora perceber se o partido tem espaço (à direita) no atual panorama político nacional, tendo em conta o crescimento de Chega e IL (e até as dificuldades para sobreviver do próprio CDS).
“Já sabíamos que não teríamos um grande resultado, dadas as dificuldades, mas preferimos fazer um balanço final depois de contados todos os votos [no estrangeiro]. Depois, tem de se analisar se faz ou não sentido continuar este projeto político. É uma análise e reflexão que, após todos os votos contados, tem de ser feita”, confessa.