A noite começou morna, com a notícia da (mais do que provável) vitória clara do PS – e uma enorme expectativa de como, então, se arrumariam os números à direita.
Talvez por isso, o espaço New York, no hotel Marriott, em Lisboa, tenha ficado entregue aos jornalistas, surpreendidos, durante as três horas seguintes, perante uma sala de cadeiras vazias (e a consequente ausência de reações), apenas ocupadas pelas bandeiras enroladas, esquecidas, sem mãos para as agitar – pois direção, candidatos, militantes e apoiantes preferiram combater o nervoso miudinho da noite eleitoral no bar do hotel, ao sabor do gin.
Finalmente, pelas 23h00, já sem as inibições iniciais (fosse por que fosse), ao quartel-general da noite eleitoral escolhido pelo partido de André Ventura começaram a chegar, a conta gotas, as primeiras pessoas… Uma, duas, três… A contagem chegou à meia centena – mas a euforia, essa, continuou a crescer, até dobrar ou triplicar.
O Chega passou de partido de deputado único para terceira força política nacional – como, aliás, tinha prometido André Ventura durante toda a campanha –, elegendo 12 deputados: André Ventura, Rui Paulo Sousa, Rita Matias e Pedro Pessanha (Lisboa), Rui Afonso e Diogo Pacheco Amorim (Porto), Jorge Valsassina Galveias (Aveiro), António Peixoto (Braga), Pedro Pinto (Faro), Gabriel Mithá Ribeiro (Leiria), Pedro Santos Frazão (Santarém) e Bruno Nunes (Setúbal).

“Seremos a oposição em Portugal”, diz André Ventura
Apoteótico. André Ventura entrou na sala às 23h35. O presidente do Chega, sempre acompanhado pela mulher, recebeu o banho de multidão que se esperava. “Pouco importa, pouco importa, se eles falam bem ou mal, queremos o André Ventura a mandar em Portugal!”, gritou-se ao líder – que, sem surpresa, assumiu o papel de grande vencedor das Legislativas… à direita.
“Apenas devemos esta vitória ao nosso trabalho, às centenas de milhares de portugueses que, apesar de todos os dias receberem mentiras, receberem ataques dos outros partidos políticos, saíram hoje de casa para votar. Depois de tudo o que disseram sobre nós, que vinha aí o fascismo, que vinha aí a extrema-direita, das reportagens… O povo português, hoje, não se deixou ficar e não se deixou enganar. Transmitiu uma mensagem direta ao coração do País e à direita portuguesa: Queremos o Chega como solução de qualquer Governo à direita em Portugal!”, afirmou.

A desfrutar o presente, André Ventura não deixou de olhar para o futuro – e, no papel de “vencedor da noite”, começou a disparar contra o PS e António Costa: “António Costa, eu vou atrás de ti agora! Se o PSD não fez o seu trabalho, nós fazemos agora, e seremos a oposição em Portugal”, afirmou, deixando, ainda, uma promessa para a próxima legislatura: “A partir de agora tudo será diferente no Parlamento. No Parlamento, não haverá mais aquela oposição fofinha a António Costa, a partir de agora haverá quem diga a verdade. E não será um em 230, serão 10 ou 12 em 230… Será um grupo parlamentar fortíssimo na próxima legislatura”, disse. Numeroso, pelo menos, será.
“Assumimos o papel de fazer a verdadeira oposição ao PS!”, concluiu, perante uma sala entregue à euforia, regada a champanhe, música e dança.