Ele promete baixar os impostos sobre os combustíveis. Ele promete baixar o IVA da restauração no primeiro ano de governo e chama-lhe “compromisso solene”.
Ele promete uma auditoria aos gastos do último governo e, se for caso disso, levar à justiça eventuais responsáveis pela má gestão dos dinheiros públicos, “mal o Chega ponha o pé numa maioria parlamentar ou de governo”.
Eis André Ventura na pele de grande prometedor e “candidato a 1º ministro”, conforme se lê na frente do púlpito móvel da sua campanha eleitoral. Para já, porém, o deputado único do Chega contenta-se com menos: “Em terceiro estamos [nas sondagens] e em terceiro vamos ficar”, garantiu. E mesmo que nas ruas lhe chamem “fascista”, “extremista”, “radical”, “racista” ou até mesmo “herdeiro do Salazar”, ele não se apoquenta: “Escolherei sempre o lado em que me ofendem, mas escolherei sempre os portugueses, do que o lado em que todos gostam de mim, mas estou a gamar os portugueses”.
“O melhor comício”
Sábado, 22, no centro de congressos da Alfândega do Porto, o Chega teve o momento alto do caminho até agora andado destas eleições.
É verdade que havia gente de Braga e até candidatos a outros círculos eleitorais no jantar-comício, mas eram quase 400 comensais munidos de bandeirinhas, cachecóis e até gravatas do Chega espalhados por dezenas de mesas onde repousavam rosas e velas. Cada um pagou 30 euros pela refeição. E o ambiente, com efeitos de luzes a namorar um glamour já raro nestas campanhas de toca e foge, incluiu uma ementa requintada q.b., a fugir aos repastos industriais de lombo de porco e vitela assada, caídos em desuso no arregimentar das massas. O Chega “aperitivou” com folhados de queijo da serra e mel e crocantes de cogumelos, para depois agasalhar o folhado de pato num tinto do Dão, tudo em modo design gastronómico. A animação era evidente e, quando chegou a sua vez de subir ao palco, o líder exultou: “É o nosso maior comício até ao momento”, reconheceu. E não estava a mentir.
Para trás, tinham ficado as músicas do artista Jay C, a ocasião em que Ventura ensaiou uma breve interpretação de Purple Rain, de Prince, e o discurso de Rui Afonso, líder distrital, que, aos gritos, pareceu querer parafrasear, ainda que do avesso, um velho grito revolucionário: “Socialismo ou Liberdade!”, berrou e repetiu, dando o mote para o que, segundo ele, estará em causa nas eleições de dia 30. “Estou convencido de que podemos eleger três a quatro deputados no Porto”, assumiu o cabeça-de lista pelo distrito, numa breve conversa com a VISÃO. Confrontado com as suspeitas de que, em caso de eleição de apenas um deputado, abdicará a favor do “peso-pesado” Diogo Pacheco de Amorim, que surge em segundo lugar na lista, Rui Afonso é claro: “Não pedi nada ao partido. O André é que me convidou para encabeçar a lista e ocuparei o meu lugar na Assembleia, como é óbvio”, esclareceu.
Quanto a Ventura, dedicou a maior parte da sua intervenção de pouco mais de 20 minutos a falar dos “tempos escuros que vivemos” por culpa dos últimos seis anos de socialismo. O líder garante que o Chega é “a única voz verdadeiramente incómoda”, enquanto desfilam “alianças, pedidos de casamento ou de namoro” à direita e à esquerda e os portugueses sentem na pele “a tirania, o desperdício e a corrupção”. Ventura deixou o palco ao som de Maniac, tema do filme Flashdance, e, desta vez, não houve a habitual sessão fotográfica com militantes, mas apenas umas poucas selfies tiradas a partir do palco.Como alertou o dirigente nacional Ricardo Regalla, os quilómetros são muitos e a exaustão está à vista. One man show do seu partido, Ventura tem de ser poupado. Não há outro e, pelos vistos, o partido nem saberia o que fazer à sua vida sem ele.