Outro banho de multidão. Desta vez, em Coimbra. O sexto dia de campanha do PSD até começou pelo meio – Rui Rio cancelou a agenda da manhã, trocando a presença na Figueira da Foz (“de” Pedro Santana Lopes) por exames médicos, na sequência do sangramento do nariz, ocorrido na véspera. Mas nem isso foi suficiente para travar a “onda” laranja – que a comitiva social-democrata garante estar a crescer, de dia para dia, como “há muito não se via”. Nas margens do Mondego, duas centenas de apoiantes cantaram afinadas: “O PSD vai ganhar! Rui Rio é o homem certo!”. Porquê?, pergunta-se. “Porque é sério e honesto”, garantem em uníssono. E isso parece bastar.
Entre a comitiva, a confiança cresce – mas será, de facto, legítima? “A confiança é, evidentemente, legítima. Basta ter andado na campanha, em 2019. Está a acontecer! Há militantes que não vinham para a rua desde que Cavaco Silva era presidente do PSD. Rui Rio conseguiu impor o seu estilo! E a sua personalidade encaixa na perfeição no programa do partido. Sente-se que alguma coisa está para acontecer”, disse, à VISÃO, José Silvano, secretário-geral do partido, no meio do turbilhão.
Se está ou não para acontecer… terá de se esperar por 30 de janeiro. Para já, as duas centenas de pessoas serviram para encher de ruído e cor a Baixa de Coimbra. E reforçar (ainda mais) a confiança do candidato. Há dois anos, nem sempre Rui Rio encontrou mãos esticadas a quem dar os lápis da campanha. Desta vez, os pedidos sobrepuseram-se ao material escolar. E, na arruada de Coimbra, Rio não foi de modas: e admitiu, aos jornalistas, mais abertamente do que nunca, o feeling de vitória. “É muito difícil dizer quem vai ganhar [as eleições]. Eu pelo que vou sentindo e vou vendo, já levo muitas eleições, acho que a probabilidade de o PSD ganhar é mais elevada que o PS, mas vamos ver”, afirmou.

O candidato que, para os apoiantes, é “sério e honesto”
Por entre a multidão, marcaram presença várias gerações. Fernando, 72 anos, Luísa, 42, e Beatriz, 20, são alguns desses exemplos. Militantes e apoiantes do PSD e de Rui Rio, certo? Não necessariamente por inteiro. Pelo menos, no caso de Fernando. “Sou militante do PS, mas decidi apoiar Rui Rio nestas Legislativas. Porquê? É muito simples: quero apostar em pessoas sérias e honestas. Acho que é a pessoa certa para acabar com a corrupção, os roubos e a evasão fiscal que têm acontecido em Portugal nos últimos anos”.
Foi este, aliás, o diapasão ao longo de toda a jornada. E, neste caso, ninguém desafinou uma nota. Luísa insistiu nos adjetivos: “Sou militante do PSD há 30 anos. E sempre fui apoiante de Rui Rio. É uma pessoa séria e honesta, fez um trabalho sério e honesto na Câmara do Porto e acho que, agora, também pode fazer igual no Governo do nosso País”. Como Cristina e Beatriz, que pareciam irmãs, mas, afinal, eram mãe e filha, respetivamente. “Há muitos anos que não me tiravam de casa para vir a uma coisa destas. Rui Rio é sério e honesto”, disse a mãe. “Exatamente”, interrompeu a filha. “É sério e honesto, mas também é conciso e direto. É uma pessoa que não promete aquilo que não pode ou consegue cumprir”, disse, num tom maduro para a idade – não valeria perguntar mais; nem a mais ninguém. Na tarde desta sexta-feira, não haveria qualquer outra resposta possível.

Forcados visam PAN e cobram “linhas vermelhas”
Acompanhado sempre de perto por Mónica Quintela, cabeça de lista do PSD pelo círculo de Coimbra, e Salvador Malheiro, vice-presidente do partido, Rui Rio, de sorriso no rosto, mas sempre com o ar (meio) acanhado que lhe é característico, não se furtou aos cumprimentos da população. Entrou em lojas e cafés, recebeu palavras de incentivo, agradeceu a confiança em si depositada, e ainda teve tempo para trocar dois dedos de conversa numa retrosaria (emoldurada em novelos de lã). “A próxima vez que vier cá, sabe o que podia fazer? Um dos nossos cursos de tricot. Há muitos homens nos nossos cursos, não há Paula?”, desafiou a comerciante. “Podia, podia, mas, olhe, sinceramente, espero não ter de voltar aqui nos próximos tempos”, respondeu o líder social-democrata, com um piscar de olho – Rio quer “agarrar” S. Bento por quatro anos.
Ofertas, só teve direito a uma. Ainda assim, com relevante significado político: um barrete de campino oferecido por um grupo de jovens forcados, sempre pronto a recordar Rui Rio “das linhas vermelhas prometidas”, em relação a um eventual acordo pós-eleições com o PAN.
José Miguel Almeida, 31 anos, Gonçalo Amaral, 29, e Pedro Mendes, 26, três das quatro dezenas de elementos que compõem o Grupo de Forcados Amadores Académicos de Coimbra, aproveitaram a vinda do candidato à cidade para marcarem uma posição – o que, diga-se, nenhum dos partidos (PAN e PSD) já fez. “É um gesto simbólico por aquilo que Rui Rio tem defendido, a favor da tauromaquia. E também uma forma de mostrarmos o nosso apoio aos partidos que têm defendido o verdadeiro mundo rural”, afirmaram, numa pega ao partido de Inês Sousa Real. Para os eleitores do PSD, a solução terá de ser outra…
“Nazizinho”? “Costa vai ficar a falar sozinho“, disse Rio
A D. Fernanda acha “esquisita” a solução encontrada pelo Governo para que os eleitores infetados ou em isolamento possam votar no dia 30 de janeiro. “Quem?”, perguntará o leitor. A D. Fernanda, que, no palco instalado na Praça da Canção, foi entretendo os militantes e apoiantes do PSD, sentados e em silêncio, num género de stand-up comedy político-partidário (género inovador), que antecedeu mais uma sessão temática da campanha do PSD – “um substituto” aos habituais comícios, que, segundo Rui Rio, “torna a campanha muito mais digna”.
Assim foi, também, em Coimbra. O tema, desta vez, era o ambiente – nada mais adequado para abordar o mau ambiente que as palavras dirigidas a Rui Rio, horas antes, na ação de campanha do PS, na capital, haviam provocado.

Num encontro realizado em Monsanto, Lisboa, moderado pelo jornalista Luís Osório, António Costa discutia com 15 personalidades independentes, ligados ao desporto e à cultura, quando a ex-atleta e campeã Olímpica Rosa Mota apelidou o líder do PSD de “nazizinho”. O Primeiro-ministro foi lesto a demarcar-se do insulto, mas não foi suficiente.
Rui Rio não gostou. E reagiu à letra: “António Costa tem elevado o tom contra o PSD. Hoje, atingiu o máximo do cúmulo. Meteu numa sala, uns… Suponho que sejam ‘intelectuais’… E concluíram que eu era um ‘nazi’, um ‘nazizinho’. Até podia processá-los, não era? Mas, depois, não sei se seriam mesmo intelectuais… Ia a tribunal e dizia ao juiz: os ‘intelectuais’ chamaram-me ‘nazi’. E, depois, o advogado de defesa perguntava: que ‘intelectuais’?… Era uma defesa interessante, de facto”, disse, palavra a palavra, como se estivesse a contar um conto, para gargalhada geral.
“Se quiserem continuar a ir por aí… António Costa vai ficar a falar sozinho”, concluiu.