Conhecida por “a senhora ativista”, a forma como o embaixador da Rússia a tratou no Facebook após o seu nome ter sido um dos que foram entregues às autoridades de Moscovo pela Câmara de Lisboa no escândalo da cedência dos dados de manifestantes, Ksenia Ashrafullina garante que a invasão da Ucrânia segue um guião de Moscovo, que pretende devolver a popularidade a Vladimir Putin, a exemplo do que aconteceu aquando da invasão da Crimeia, em 2014. Uma estratégia contra a qual o PC russo parece nada fazer há vários anos, alertou.
Para a ativista russa, que também tem cidadania portuguesa, “nada vai parar Putin, a não ser que ele perceba que há uma força, infelizmente armada, que o vai parar”; ainda que as sanções já comecem a produzir efeitos.
Em entrevista ao Irrevogável, o Podcast semanal de entrevistas da VISÃO, numa semana em que a Finlândia anunciou a intenção de entrar na Aliança Atlântica, levando os governantes russos a ameaçarem com armas nucleares, Ashrafullina salientou que a posição de Moscovo face ao avanço geográfico da NATO não se traduz num sentimento popular.
“O Kremlin criou um dragão de muitas cabeças, uma dessas cabeças é a NATO. Mas 60% dos russos nunca saíram do País e a realidade que veem é muito limitada . Essa ameaça, para alguém que nunca saiu da Rússia, é uma forma de controlo e manipulação dessa população”, disse, lamentando a posição “naif” do presidente francês, Emmanuel Macron, que avisou que o fim da guerra não pode passar pela “humilhação” da Rússia.
“Há o mito de que nada está a acontecer com as sanções. A Rússia está a sofrer, porque as sanções não funcionam de um dia para o outro. Só, claro, que há umas sanções que ainda não foram aplicadas, como a mexida no gás e petróleo, que funcionariam de um dia para o outro. As sanções só agora começam a ter mais impacto. É uma coisa paulatina. Mas a Gazprom continua a usar o o sistema Swift – por isso, ainda há uma grande hipocrisia”, explicou, lembrando que a guerra levada a cabo pelo Kremlin vai funcionar como o “pico glicémico” que aconteceu com a Crimeia na popularidade de Putin. “Depois volta a descer”, defendeu, criticando o facto de o Partido Comunista da Federação Russa, o PCFR, sucessor do PCUS da União Soviética, ser o melhor exemplo de que “a oposição política não existe”.
“O Partido Comunista Russo é completamente impotente; que foi domesticado; que faz parte do sistema, e que, falsamente, funciona como se de uma oposição a Putin se tratasse”, argumentou.
Segundo Ksenia Ashrafullina, impossibilitadas que estão de se manifestarem nas ruas contra o regime, “porque ninguém estar preso 15 anos”, as vozes contra têm se feito ouvir em “plataformas como o YouTube”.
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