No programa de entrevistas da VISÃO desta semana, o Irrevogável, João Soares, 72 anos, militante e dirigente histórico do PS, desdramatiza as questões do populismo, em Portugal. “Não devemos falar do lobo antes de o lobo aparecer… Não vejo qualquer ameaça fascista no Chega. Aquilo está muito longe de ser o lobo. O fascismo é algo muito sério. E até apreciei a forma como o André Ventura fez o elogio do Jorge Sampaio”.
Sobre o PCP, diz que continua a ser imprescindível na sociedade portuguesa, até pela sua implantação em faixas da população que já teriam sido tomadas pelo populismo, se os comunistas não continuassem a ter a força que têm.
Falando sobre as eleições autárquicas na capital, de que cuja câmara já foi presidente, João Soares tem absoluta confiança na gestão de Fernando Medina e declara-se desiludido com Carlos Moedas: tenho consideração pelo candidato do PSD, mas as suas propostas são muito demagógicas e isso é ainda pior num candidato que, durante o período da tróika, teve o papel que teve, num governo que tanto agravou as condições de vida dos mais desfavorecidos.”
Aproveitando para contar algumas histórias deliciosas, João Soares recordou, ainda, o período da gestão autárquica com Jorge Sampaio, desaparecido esta semana, com quem teve um relacionamento de trabalho intenso e próximo, durante quase seis anos. E não esqueceu Santana Lopes, por quem foi derrotado, em Lisboa, em 2001: “Tiro-lhe o meu chapéu! O homem tem sete fôlegos! Eu tinha obra feita, em Lisboa, mas, às vezes, os eleitores preferem a cigarra à formiga, como parece estar a acontecer na Figueira da Foz… O Santana Lopes parece que tem mel… Não sei se o mel já está um pouco estragado, mas tem…”
Sobre o recente ataque de negacionistas ao presidente da Assembleia da República e segunda figura do Estado, Ferro Rodrigues lembrou que também ele foi alvo de ações similares, quando era presidente da Câmara. “Chamaram-me de tudo, comuista, traficante de marfim… Já desisti de desmentir essas calúnias do traficante e quando me perguntam como vai o negócio do marfim até costumo dizer que vai bem, continuo a trabalhar… Eu que nem sei se alguma vez toquei num pente de marfim… Aiás, nem sei se existem pentes de marfim…” Na verdade, justifica, com os meios tecnolgicos que agora existem, este tipo de ações e de protestos – e de ataques nas redes sociais – têm um impacto e uma propagação maior. “Mas sempre existiram, até nas “folhas de couve” do início do século XX…”
Mais a sério, João Soares recorda a forma como saíu do Governo de António Costa, por ter prometido duas bofetadas a um colunista do Público, e justifica que fez o que fez por não ser politicamente correto: “Nunca bati em ninguém. E, nessa altura, limitei-me a citar três linhas de um artigo que já tinha escrito dez anos antes, quando tinha sido caluniado pelo mesmo articulista. Desde Eça de Queiroz que a ‘bengalada’ tem a sua tradição quando se polemiza, mas é evidente que tudo isso é meramente metafórico”. E remata: “Ninguém me pode apontar nada no plano da honestidade pessoal. Quando morrer, que espero que seja daqui a 30 anos, ou mais, quero que se diga de mim: ‘Este era um tipo decente'”.
Apreciador de touradas, João Soares critica o fundamentalismo dos que querem proibir a festa brava: “Prezo muito a liberdade e não me agrada o fundamentalismo ‘desembolado’ dos movimentos anti-touradas”. De uma forma geral, insurge-se contra o politicamente correto e o revisionismo histórico. Por exemplo, não tem dúvidas de que “Os Descobrimentos foram a grande aventura portuguesa!”
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