Caso não haja uma mudança de postura do PS, Ricardo Rio, autarca social-democrata de Braga, só vê uma forma de o PSD chegar à governação do País: constituir uma coligação dos partidos de centro-direita, capaz de “afirmar uma alternativa ao PS” e à sua união com o BE e PCP. Uma espécie de geringonça de direita? “Em certo sentido sim. Pelo menos, enquanto não houver “uma mudança de postura do PS”, respondeu, durante a sua participação no Irrevogável, o programa de entrevistas da VISÃO. Esta é a saída possível perante a dificuldade atual de fazer um entendimento de governo com o PS, reavivando o Bloco Central.
“Vivemos situações que há anos eram impensáveis, em que quem não ganhasse umas eleições não seria governo. Hoje, não basta ganhar eleições. É preciso constituir uma maioria alternativa que possa dar estabilidade parlamentar. Caso contrário, será um trinfo agridoce”, contextualizou. Destes possíveis acordos à direita, não exclui a participação do Chega, de modo a garantir “um normal funcionamento da democracia”.
No seu entender, “criar uma maioria parlamentar no contexto nacional, como aconteceu nos Açores, será mais ou menos incontornável”. Dependendo do mapa eleitoral, só uma coisa estaria fora da equação: não daria ao Chega “responsabilidades governativas, ao contrário do que é a pretensão do seu líder”. Mas facilitaria acordos para “uma governação sustentada”.
Pronunciando-se sobre os três anos de liderança de Rui Rio, o autarca de Braga considera que “houve fragilidades e erros vários que o partido no seu todo foi acumulando” e que “o próprio presidente terá tido, aqui e além, opções menos corretas”. Mas sublinha a importância de “o partido, no seu todo, ter outra capacidade de mobilização e afirmação de um conjunto de ideias muito claras para o país e de se corporizar numa alternativa”. Elogiou a escolha de Carlos Moedas para Lisboa, pois conquistar, nestas autárquicas, concelhos de grande dimensão será essencial “para afirmar uma alternativa a nível nacional”. Já sobre Suzana Garcia, “estar bem para a Amadora será algo que os amadorenses ajuizarão”, mas para o parlamento não sabe se seria “uma eleita alinhada com o grosso das posições do PSD”.
Acordo com o Chega em Braga é que não
Ricardo Rio governa em Braga em coligação com o CDS e o PPM. Já para as próximas eleições, convidou a IL a juntar-se, mas esta força política recusou. Quem vai juntar-se será a Aliança. Mas estes sinais de abertura política não se estenderam ao Chega. “Nem é um partido, nem a nível nacional nem local, que os seus protagonistas mereçam qualquer tipo de credibilidade para poderem ser envolvidos no projeto que eu represento”, respondeu.
“Tenho de valorizar a intervenção na sociedade de quem possa enriquecer os projetos. E neste caso, ao nível do que são os protagonistas locais do Chega, não lhes revejo nenhuma capacidade de poderem aportar esses mesmos contributos. Nunca o tiveram até hoje”, disse, de forma contundente.
Mas ao nível nacional, “a questão tem de ser analisada localmente”. Justifica: “Até admito que em determinados contextos territoriais pessoas que estejam nessas forças políticas possam, eventualmente, ser bem-vindas”.
Operação Marquês: sintonia com Fernando Medina
Ricardo Rio fez ainda questão de saudar as palavras de Fernando Medina relativamente às críticas a José Sócrates perante o resultado do processo da Operação Marquês. “Saúdo as palavras de Fernando Medina, que se despiu das vestes partidárias” e daqueles que parecem querer fazer uma justiça paralela, em que quem é do PS e simpatiza com José Sócrates acha que isto é tudo uma cabala” e outros acham “que ele vai sofrer consequências demasiado brandas”.
Adianta: “Naturalmente que há aqui um juízo ético sobre a conduta de um governante, que tem de ser questionável face ao que já hoje é sabido como certo. Mas mais do que as avaliações que podem ser feitas agora, é as ilações e as consequências que os responsáveis políticos tem sobre a matéria” e “o que é que cada uma das forças políticas vai fazer para poder corrigir as lacunas que agora se verificaram”.
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