O deputado do CDS, João Almeida, defendeu, esta quarta-feira, que, nove meses após a morte ocorrida no aeroporto de Lisboa às mãos de inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), “o ministro da Administração Interna, pela atuação que teve ao longo deste processo, não tem condições para continuar nas funções”, e que não se deve avançar com uma reestruturação da polícia da imigração, principalmente à porta da presidência portuguesa da União Europeia.
“O ministro da Administração Interna fez uma gestão mediática da situação e isso não só pôs em causa a dignidade do Estado português perante o cidadão que morreu e a sua família, mas pôs também o SEF”, acusou o centrista, no Irrevogável, programa de entrevistas da VISÃO, onde defendeu que Eduardo Cabrita deveria ter “assumido uma postura digna perante a família do cidadão ucraniano que morreu à guarda do Estado português”
“Não só tem a ver com a transladação, que o Estado português deveria ter assumido desde o início, como falar de uma indemnização 10 meses depois, e não se ter falado, por exemplo, quando foi deduzida a acusação pelo Ministério Público”, apontou João Almeida, que foi secretário de Estado da Administração Interna, durante o Governo de coligação PSD/CDS, liderado por Passos Coelho, tendo tido sob a sua alçada o SEF e a Proteção Civil.
Segundo o deputado, desde março, aquando do acontecimento fatídico, até à conferência de imprensa de Cabrita há uma semana, o governante “quis convencer o país que o ministro da Administração Interna era a única pessoa que tinha lidado com este processo e que afinal andávamos todos enganados”.
“A ter em conta o tom que teve na semana passada, e que teve na Comissão [onde compareceu na terça-feira ao final do dia], o próprio ministro já percebeu que está numa situação fragilizadíssima. Foi ao Parlamento e nem sequer parecia o ministro Eduardo Cabrita que estamos habituados a conhecer. Parecia uma versão ‘light’, descafeinada do ministro“, apontou, descartando que o CDS não tenha sido interventivo neste processo.
Reestruturação para “tapar incompetência de ministro
Para João Almeida, a morte de Ihor “não é processo mediático, é um processo político”, mostrando-se contra o desmantelamento do SEF à porta da presidência portuguesa da União Europeia.
“Não se deve fazer uma reestruturação em cima de um caso concreto, como o desta gravidade. É verdade que havia uma referência no programa de governo [do PS], mas o governo não tinha feito nada até agora sobre esse facto – falava de procedimentos e não de fusões ou extinções de forças”, argumentou, ao destacar o enorme prestígio que o SEF possui internacionamente.
“Agora, o SEF vai ser diluído para tapar a incompetência deste ministro”, disparou, defendendo Magina da Silva, o diretor nacional da PSP que anunciou, após uma audiência em Belém, uma fusão do SEF com aquela força de segurança. De acordo com o centrista, Magina não teria sido tão expositivo se Cabrita tivesse avisado que “opiniões pessoais não podiam de forma alguma ser transmitidas” sobre este assunto.
Disponível para correr em São João da Madeira
Recusando abordar as alegadas críticas de que o líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, terá sido alvo na última reunião do partido, no sábado, João Almeida adiantou que o desafio lançado à deputada Cecília Meireles, para que abandonasse o Parlamento para ceder o seu lugar ao presidente centrista, não partiu do órgão nacional do CDS mas antes de “um único conselheiro nacional”. Disse ser “prematuro” fazer já uma avaliação pública da condução do partido por Rodrigues dos Santos e pediu que o CDS se foque nas autárquicas, para o qual mostrou disponibilidade para concorrer.
“Nas eleições autárquicas, estou perfeitamente disponível para ser candidato, representar o partido e procurar o melhor resultado como candidato autárquico”, disse, apontando-se como candidato a São João da Madeira.
Já quanto a Lisboa, admite que os ótimos resultados de Assunção Cristas, ex-líder, em 2017, foram a prova de que “um grande resultado na Câmara de Lisboa não assegura que o partido consiga grandes resultados a partir daí”. Lembre-se que, a partir dessa votação, Cristas começou a colocar a fasquia mais alta e passou a apresentar-se como a líder da pposição, principalmente no início do mandato de Rui Rio à frente do PSD.
“Reconheço que nem tudo correu bem nessa direção, por isso é que a Assunção Cristas se demitiu”, admitiu.
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