Parece ter saído de um guião de ficção, mas o relato do que aconteceu no Ministério das Infraestruturas, no dia 26 de abril, ainda não foi desmentido por ninguém – por muito incrível que possa parecer.
Depois de ter sido despedido, por telefone, pelo próprio João Galamba, Frederico Pinheiro ter-se-á dirigido ao Ministério das Infraestruturas, nessa mesma noite, com o objetivo de recuperar aquele que tinha sido o seu computador de trabalho, nos últimos anos. Ao aperceberem-se da sua presença, quatro elementos do ministério – entre os quais a chefe de gabinete de João Galamba, Maria Eugénia Correia Cabaço – terão tentado impedir o agora ex-funcionário de levar consigo o equipamento, sugerindo que ao fazê-lo este estaria a cometer “um crime” de furto.
Ter-se-ão seguido “gritos”, “altercações” e “agressões”, segundo as testetmunhas no local. Como conta o Expresso, a assessora de comunicação, Paula Lagarto, terá ficado com “escoriações físicas visíveis e foi às urgências do hospital nessa mesma quarta-feira à noite”. A assessora já terá, inclusive, apresentado queixa na polícia contra Frederico Pinheiro.
Perante esta situação, as assessoras refugiaram-se numa casa de banho e ligaram para o 112.
Entretanto, Frederico Pinheiro tentava sair do edifício, mas as portas foram fechadas. Nesse instante, o ex-adjunto terá atirado a sua bicicleta contra as portas de vidro do ministério. Sem conseguir sair, contactou a PSP – com quem acabaria por deixar o local.
Frederico Pinheiro conseguiria chegar à sua casa com o computador. O Ministério das Infraestruturas terá, então, participado o “roubo” do equipamento do Estado com “documentos classificados” ao Serviço de Informações e Segurança (SIS), que entrou logo em cena.
Ao Expresso, o ex-adjunto garante que, pouco depois, devolveu o computador às autoridades de “livre vontade” e “sem intervenção de entidade policial”. O computador já se encontra na posse do Estado.
Um caso, duas versões. Quem mente?
Recorde-se que Frederico Pinheiro foi exonerado por João Galamba por “comportamentos incompatíveis com os deveres e responsabilidades” inerentes ao exercício das funções. Sabe-se, agora, que o ministro das Infraestruturas acusa o ex-adjunto de lhe ter escondido as notas da polémica “reunião secreta”, realizada a 17 de janeiro, entre a CEO da TAP, Christine Ourmiéres-Widener, e membros do governo e do grupo parlamentar do PS – que, alegadamente, terá servido para preparar a audição da então presidente da transportadora na comissão parlamentar de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação –, entretanto, pedidas pela comissão parlamentar de inquérito (CPI).
“A propósito da exoneração de Frederico Pinheiro, esclarece-se que a mesma decorre do facto de o então adjunto ter repetidamente negado a existência de notas de reunião que eram solicitadas pela CPI, o que poderia ter levado a uma resposta errada à CPI por parte do Gabinete do MI”, lê-se em comunicado do ministério.
Fernando Pinheiro nega esta versão. E contra-ataca. O ex-adjunto diz que, pelo contrário, terá sido o próprio ministro João Galamba a tentar esconder as notas da “reunião secreta” à CPI e acrescenta que, afinal, não houve uma, mas sim duas reuniões preparatórias, entre TAP e governo, tendo em vista a audição parlamentar de Christine Ourmiéres-Widener – e que João Galamba esteve mesmo neste primeiro encontro, tendo informado a ex-CEO da TAP da necessidade de se reunir, também, com o grupo parlamentar do PS.
“No dia 16 de janeiro de 2023, de manhã, realizou-se uma reunião preparatória na qual participaram o ministro das Infraestruturas, João Galamba, a então CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, Frederico Pinheiro, adjunto do ministro, e Manuela Simões, diretora do departamento jurídico da TAP”, divulga Frederico Pinheiro em comunicado, acrescentado que o objetivo do encontro passava por “articular com a TAP a gestão da informação a ser efetuada pela CEO na audição parlamentar agendada para essa semana, dia 18 de janeiro”.
Foi nesse encontro que João Galamba terá informado Christine Ourmières-Widener de que iria ter “uma reunião preparatória” da sua audição com o grupo parlamentar do PS, garante o ex-adjunto.
João Galamba reagiu, negando esta versão. “O ministro das Infraestruturas nega categoricamente qualquer acusação de que, por qualquer forma, tenha procurado condicionar ou omitir informação prestada à CPI da TAP”, responde, num curto comunicado.
Entretanto, PSD e Chega querem que Frederico Pinheiro seja ouvido na comissão de inquérito. No requerimento, os sociais-democratas pedem mesmo que essa audição se realize “com máxima urgência”.