Sem a presença do primeiro-ministro e do ministro das Finanças, o debate de urgência no Parlamento, a pedido pelo PSD, serviu apenas para pedir à ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes (em representação do Governo) para passar recados aos colegas do Executivo. As perguntas dos partidos sobre a indemnização milionária paga pela TAP à agora ex-secretária de Estado Alexandra Reis (nome evitado pela bancada socialista) ficaram todas sem resposta e, da esquerda à direita, repetiram-se os pedidos de transparência ao Governo, fazendo notar que o caso que levou à demissão de um ministro “não é um casinho”.
O líder da bancada social democrata defendeu que “o ministro das Finanças foi incompetente, leviano e irresponsável”, porque no limite deveria ter verificado os antecedentes da sua secretária de Estado e questionado os contornos da sua saída da administração da TAP e entrada na NAV. Assim, na perspetiva do PSD, Fernando Medina “não tem condições politicas para continuar no cargo”, argumentou Joaquim Miranda Sarmento, que lamentou ainda a ausência do ministro visado no debate e do líder de um Executivo que “desbaratou, em nove meses, a confiança política que os portugueses lhe deram”.
A uma mão cheia de perguntas sobre os contornos da saída de Alexandra Reis da TAP, Ana Catarina Mendes limitou-se a garantir que o Governo já assumiu os seus erros e está mais concentrado “em resolver os problemas das pessoas”. O tempo da sua intervenção esgotou-o todo a elencar os sucessos dos governos do PS (desde os resultados do PIB, à redução do desemprego, aos apoios excecionais, à subida do salário mínimo nacional); ficando em silêncio perante as acusações de falta de transparência dos restantes partidos representados no hemiciclo.
O PS ainda subiria à tribuna, pelo pé da deputada Susana Amador, mas a parlamentar quase parecia ter trocado as notas com apontamentos possíveis para o debate de amanhã (quando o Parlamento discutirá e votará uma moção de censura ao Governo, interposta pela IL). A TAP voou do seu discurso, que se focou antes num balanço (positivo) da atuação do Executivo, sem mencionar o nome de Alexandra Reis.
Atitude que ainda espicaçou mais a oposição. Mariana Mortágua, do BE, quis relembrar os socialistas de que “isto não é um casinho” – “a TAP é uma empresa pública, que despediu centenas de trabalhadores e diminuiu salários”. O país precisa de saber “o que se passa na empresa”, disse, acusando a ministra Ana Catarina Mendes de fugir ao tema e de “proteger os responsáveis por esta crise”; instando o Governo a aprovar a proposta do BE para criar uma comissão parlamentar de inquérito para inspecionar este caso.
Também Rui Tavares, do Livre, se lançou no mesmo repto, chamando a atenção para a proposta bloquista e acusando depois o Governo de estar demasiado “seguro na sua maioria”. Bem como Inês Sousa Real, do PAN, que, perante a ausência de respostas do Governo às suas perguntas, pediu uma mudança de atitude.
“Nem durante a Geringonça houve tanta instabilidade”, criticou o parlamentar da Iniciativa Liberal Bernardo Blanco, referindo que os casos “são a uma velocidade tão grande que até nos esquecemos do anterior”. Blanco aconselhou ainda o PSD a refletir bem, nas próximas 24 horas, sobre o seu sentido de voto na moção de censura (que será de rejeição, já fez saber Luís Montenegro).
Por sua vez, o líder do Chega considerou “uma ofensa a todos os portugueses ver governantes a dizerem que está tudo bem” perante “a maior cobardia de que há memória em Portugal”, referindo-se ao adiamento (por um mês) do regresso ao Parlamento do ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santo.
Foi um “debate de faz de conta”, nas palavras do comunista Bruno Dias, mas o PSD fechou a discussão com a promessa de ainda ir “obrigar” Fernando Medina a prestar contas ao hemiciclo.