Quando Marcelo Rebelo de Sousa é eleito presidente do PSD, em 1996, a estrutura social-democrata no concelho de Espinho, Aveiro, está por um fio. Sem implantação e sem quadros, a limpeza dos cadernos de militantes que Rui Rio, então secretário-geral de Marcelo, faria no primeiro ano de mandato, a partir da sede da São Caetano à Lapa, tornava as contas ainda mais humilhantes: de 600 militantes, a concelhia passava a contar apenas com 50. Inverter esta tendência e ganhar a Câmara Municipal aos socialistas, confortavelmente instalados, é o primeiro grande desafio político de Luís Montenegro, então com 23 anos.
Portuense só de berço. Montenegro cresceu e montou a sua vida toda a partir de Espinho. Apesar das várias tentativas, nunca chegou a presidente da Câmara Municipal, ficando-se pela vereação. Todavia, “foi graças ao trabalho dele que chegámos lá depois”, diz Paulo Leite, o atual presidente da concelhia e um dos jovens que, na década de 90, o “Ervilha” (como era conhecido Montenegro entre os amigos da terra, por causa da cor do seu equipamento de futebol) recrutou numa espécie de “concurso de talentos” que fez para reconstruir o PSD local. Estavam ambos envolvidos na comunidade, na direção de associações sociais e culturais, tinham ideias e acreditavam que a comissão política espinhense conseguiria recuperar “após uma pesada derrota contra o PS”. Montenegro “pegou num PSD de adultos, quando era ainda um miúdo, e tornou o partido em Espinho o que é hoje – forte”, continua Paulo Leite, 57 anos.