Há males que vêm por bem: é o que já terá pensado António Costa sobre a decisão do Tribunal Constitucional de anulação dos votos dos emigrantes no círculo eleitoral da Europa. Com a tomada de posse do novo Governo adiada para a próxima quarta-feira, 30 de março, o primeiro-ministro teve tempo de se adaptar a circunstâncias que não estavam na equação há dois meses, quando o País foi às urnas e deu uma maioria absoluta aos socialistas. Se a gestão em duodécimos, desde 1 de janeiro, parecia ser uma dor de cabeça, para determinadas áreas, como a gestão da “bazuca” europeia ou a mexida dos salários da Função Pública, os recentes acontecimentos provaram que se evitou que o País conheça um orçamento suplementar, como aconteceu no pico da pandemia. Mesmo que isso signifique que Costa tenha de arrumar na gaveta o bonitinho dossier do Orçamento do Estado com que acenou num debate com Rui Rio.
Desde 15 de fevereiro, o dia em que a decisão dos juízes do Palácio Ratton alterou a agenda de tomadas de posse, a Europa viu eclodir um conflito no seu seio, de que não se sabe qual possa ser a sua escala e que apanha as Forças Armadas portuguesas a tentar sair de anos de contenção orçamental; os combustíveis chegaram a valores incomportáveis, para as carteiras já impactadas por dois anos de pandemia e quando o País fechou as duas centrais a carvão que possuía; há milhões de refugiados ucranianos a serem distribuídos pelos países do Ocidente, maioritariamente mulheres e crianças; a inflação sente-se essencialmente na alimentação, um setor em que não há autossuficiência produtiva nacional; e a chuva tímida dos últimos dias não afasta um cenário de seca grave, que pode fazer disparar o número de fogos florestais este verão.