O cerco ao Movimento Zero tem vindo a apertar-se cada vez mais. No seio do grupo inorgânico, composto por elementos da PSP e GNR, assiste-se a uma desmobilização massiva de militantes, agora com o receio de se verem colados ao movimento, depois de terem tido conhecimento de que dezenas de colegas foram (ou ainda vão ser) encostados à parede por sanções duras, na sequência dos processos disciplinares resultantes dos atos ilegais cometidos por polícias e militares na manifestação do passado dia 21 de junho de 2021.
Nas vésperas dessa ação, o movimento – que, desde meados de 2019, assumiu uma linha reivindicativa dura, provocando embaraço a chefias, sindicatos da PSP e associações da GNR – apelou, nas redes sociais, aos colegas para que desobedecessem abertamente aos regulamentos internos das duas forças de segurança e que, durante o protesto, vestissem o polo de serviço e levassem consigo outros equipamentos de trabalho (como algemas, chapéus ou divisas). Centenas de elementos aceitaram o desafio, fazendo disparar os alarmes na direção nacional da PSP, liderada por Magina da Silva, e na GNR, comandada por Rui Clero, que logo trataram o episódio como um ato de rebelião interno a que era preciso responder imediatamente e com mão de ferro – colocando, definitivamente, um ponto final aos riscos que o grupo poderia, eventualmente, representar para a segurança e a ordem públicas.
O último bastião
As redes sociais continuam a ser o palco principal do movimento
Com as notícias da abertura dos processos disciplinares pela PSP e GNR, o caudal de informações publicadas e partilhadas nas redes sociais do Movimento Zero foi praticamente interrompido. Com mais de 79 mil seguidores, a página de Facebook do grupo, usada, durante meses, para fazer campanha diária contra dirigentes da polícia, sindicatos e políticos – com o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, a ser, em regra geral, o alvo principal –, serviu apenas, nos últimos dois meses, para publicar pequenos apontamentos (como o elogio ao vice-almirante Gouveia e Melo, pelo trabalho realizado na task force para a vacinação contra a Covid-19). Nos grupos privados, porém, as coisas correm de forma diferente. Os utilizadores continuam a partilhar conteúdos (como recortes de jornal, fotos ou vídeos) que procuram plantar a convicção de violência e insegurança no País. A corrupção e a impunidade – com habituais críticas à Justiça portuguesa – são outros temas que, habitualmente, “aquecem” o ambiente e a discussão dentro da comunidade digital.