O antigo eurodeputado e ex-governante Manuel dos Santos recebeu ordem de expulsão do PS pelo facto de, em 2017, ter chamado “cigana” à atual presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro.
A decisão da Comissão de Jurisdição do Porto foi comunicada no início de maio ao militante, mas ele não se ficou. “No exercício dos meus direitos, e também dos meus deveres para com o partido e a grande maioria dos meus camaradas, recorri da decisão e voltarei a recorrer, incluindo justiça civil, se for preciso, até que o assunto transite em julgado”, explicou à VISÃO. O caso está agora nas mãos da Comissão de Jurisdição Nacional, confirmou Luciano Vilhena Pereira, presidente daquele órgão federativo.
O episódio remonta a 16 de junho de 2017 quando Manuel dos Santos criticou o apoio dos deputados eleitos pelo Porto à candidatura de Lisboa a sede da Agência Europeia do Medicamento: “Luísa Salgueiro, dita a cigana e não é só pelo aspecto, paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas”, escreveu então, no Twitter, gerando uma vaga de indignação entre socialistas e nos adversários. A polémica estalou a meses das eleições autárquicas que Luísa Salgueiro disputou num ambiente de acesa confrontação interna. A então candidata oficial do PS acabaria por ser eleita presidente da Câmara de Matosinhos, embora sem maioria absoluta.
Na altura, o próprio secretário-geral António Costa defendeu a expulsão do ex-dirigente do partido: “Há muito que Manuel dos Santos desonra o seu passado. Hoje tornou-se uma vergonha para o PS. Espero que a Comissão Nacional de Jurisdição rapidamente nos liberte da companhia de quem partilha preconceitos racistas”, afirmou, logo no próprio dia do tuíte incendiário do eurodeputado.
Luísa Salgueiro fala à VISÃO
Numa entrevista à edição desta semana da VISÃO, Luísa Salgueiro fala pela primeira vez em público sobre o assunto:
“Fui chamada ao processo e escrevi uma carta em que disse que Manuel dos Santos é xenófobo, machista, sectário e misógino, mas não lhe dou importância ao ponto de pedir a sua expulsão, nem lhe reconheço categoria para me ofender. Quis espezinhar-me e não ficou por aí. Ainda no ano passado esteve de férias em Tavira e ouviram-no dizer: «Fui às compras, encontrei uma cigana e lembrei-me logo da Luísa.» E continua a dizê-lo, telefonam-me a contar. É desprezível. Expulso ou não, não me interessa. Mas o PS tem regras”, esclareceu a autarca.
Luísa Salgueiro refere ainda que nunca mais dirigiu palavra ao antigo vice-presidente do Parlamento Europeu. “Há mínimos. Ele não me chamou cigana por ser morena. Fê-lo por sugerir que faço negociatas e menosprezou a comunidade cigana. Manuel dos Santos não tem lugar na política, que é um espaço de nobreza, de convicções”, concluiu.
Secretário de Estado do Comércio por poucos meses no primeiro governo de António Guterres (1995-1999), Manuel dos Santos admite agora levar o assunto ao Tribunal Constitucional e escrever um livro sobre o tema. Ontem como hoje, desvaloriza a polémica com Luísa Salgueiro: “Não procurei ofendê-la pessoalmente, muito menos a comunidade cigana, o que seria um absurdo”, afirma, qualificando o caso de “perseguição política” e “ajuste de contas” por parte da direção socialista e do próprio António Costa. Contudo, no ano passado, Manuel dos Santos voltou a defender posições controversas. “O politicamente correto e o predomínio das agendas de minorias destruirão, se não forem contidos, a sociedade ocidental!”, escreveu, a 1 de janeiro de 2019, no Twitter.