O deputado do PS Ascenso Simões enviou esta sexta-feira um e-mail aos restantes 107 membros da sua bancada no qual critica “total divórcio [do Parlamento] relativamente ao País”. Isto porque, alega o socialista na mensagem a que a VISÃO teve acesso, “ninguém compreende que as regras de afastamento das pessoas [por causa do coronavírus], em situação normal, sejam superiores a um metro e que os deputados se encavalitem uns nos outros no plenário”.
Em declarações à VISÃO, Ascenso Simões vinca que “enquanto ex-secretário de Estado da Proteção Civil e ex-secretário de Estado da Administração Interna”, ambas as funções desempenhadas no Executivo chefiado por José Sócrates, aquilo que está a verificar-se na Assembleia da República, com os trabalhos a decorrerem com normalidade – numa altura em que o Governo vai declarar estado de alerta – é de “uma total irresponsabilidade”.
“É uma vergonha para o País”, frisa o antigo governante, que considera que a opção da Conferência de Líderes de que os trabalhos prossigam com um número reduzido de deputados “demonstra que o Parlamento não percebeu a grave situação” com a qual nos deparamos.
“Ninguém entende que num espaço, em qualquer serviço, onde alguém esteve em contacto com o vírus, esse seja encerrado e no Parlamento, onde já há deputados retidos em casa, essa preocupação não exista”, lamenta ainda Ascenco Simões na mensagem de correio eletrónico remetido esta sexta-feira aos colegas do grupo parlamentar.
“Claro que há o argumento máximo de nos revelarmos conjuntamente um órgão de soberania. Sim, também em Agosto quando o parlamento fecha por completo e para férias. Um argumento patético e que nos quer fazer acreditar que todos os outros parlamentos europeus, que já encerraram, deixaram de ser órgãos de soberania e os seus membros deixaram de ser gente com sentido de Estado. A posição do Governo, de decretar o estado de alerta em que se podem obrigar os cidadãos ao cumprimento compulsivo de obrigações também não releva na posição da conferência de líderes”, aponta também o deputado.
A rematar, Ascenso Simões sublinha que assistimos a “decisões inacreditáveis e que não devem deixar de ser lamentadas e devidamente repudiadas pelos parlamentares”, numa mensagem que destoa por completo daquilo que afirmou, também esta sexta-feira, Maria da Luz Rosinha, em nome da conferência de líderes, depois da reunião extraordinária convocada por Eduardo Ferro Rodrigues.