De pé no palco, onde se prepara para falar a uma sala cheia de “militantes e simpatizantes” – cerca de 600 reunidos ao almoço, em Alpiarça, pelas contas do partido –, os dedos de Jerónimo de Sousa tocam no palanque ao compasso do grito que lhe chega da plateia à sua frente: “A CDU avança, com toda a confiança”. O secretário-geral do PCP haveria de avançar, mas antes era preciso por os pontos nos is. As eleições de dia 6 de outubro servem “para eleger 230 deputados, não são para eleger nenhum primeiro-ministro, porque não há eleições para primeiro-ministro”. Lembrou Jerónimo. Mas disse mais. Na disputa entre quem deu o primeiro passo para construir a chamada “geringonça”, Jerónimo reclama os créditos dos comunistas.
“Fomos uma força que esteve na resolução do problema institucional que estava criado em 2015 em que, por força do PSD e do CDS, por força do então PR Cavaco Silva, por força da falta de força do PS que naquela noite apresentou os cumprimentos pelo resultado do PSD, eis uma força, o PCP, a CDU, que afirmou claramente que era possível uma solução institucional, que era possível um governo minoritário do PS”, assinalou o secretário-geral do PCP. Essa noite deixou claro que, nos pós-legislativas, tudo depende da relação de forças que se cria na Assembleia da República. E Jerónimo não quer deixar essa tarefa em mãos alheias. :“Não entreguem essa tarefa aos candidatos, sejam também candidatos, [porque] se ganharem um voto mais para a CDU, estão a cumprir a vossa missão de militantes..”
Há quatro anos, os comunistas tomaram uma decisão: avançar. “Fizeram-no sabendo quem era e quem é o PS”, esclarece o secretário-geral do PCP. “Não tivemos nenhuma ilusão de que o PS tivesse mudado, o que mudou foi conjuntura”, a tal “relação de forças”. Nesse momento, “afastar” o Governo PSD/CDS era “condição fundamental”. O líder comunista reconhece que os avanços da legislatura foram “insuficientes”, mas garante, nos últimos quatro anos, PCP e Verdes fizeram o podiam com os 8,25% de votos e 17 deputados. Lutaram contra a “opinião contra do PS, a resistência do PS” mas foram “persistindo e persistindo e persistindo” até acabar por “convencer” os socialistas a “alinhar” pelas propostas do PCP.
“Chegados aqui, nesta campanha eleitoral, a questão que vos coloco é esta: sim ou não, devemos fazer tudo para que as coisas avancem ou ficamos quietos e admitimos que andem apara trás?”, questiona o secretário-geral comunista. A interpelação à sala soa a pedido de pronúncia dos militantes sobre uma eventual nova geringonça. Jerónimo pergunta mas já vai ensaiando a resposta “Só temos uma opção: avançar” e “continuar o caminho de reposição de rendimentos”.
O caderno de encargos é extenso. O PCP quer continuar o aumento de salários, reformas e pensões, quer uma rede de creches públicas para as crianças até aos 3 anos e quer voltar a discutir as alterações à legislação laboral. O dossier esteve a ser negociado entre o PS e os partidos à esquerda, mas PCP e Bloco acabaram por saltar fora com críticas de que o diploma aumentava a precariedade dos trabalhadores. Aos que acusam os comunistas de “falar muitas vezes” na lei do trabalho, Jerónimo responde. “Falamos pois, porque um partido que se assume de esquerda tem de estar do lado dos trabalhadores e não contra eles.”
Esta semana, o secretário-geral comunista deu a um primeiro-ministro momentaneamente afastado da rua por problemas físicos a receita para continuar: ir buscar forças onde não sabia tê-las. A plateia grita que “a luta continua” e Jerónimo de Sousa garante: “Até me dão força para continuar esta batalha até dia 6 de outubro.”
Minutos antes de Jerónimo de Sousa subir ao palco, o cabeça de lista da CDU por Santarém já tinha apresentado as contas ao trabalho dos últimos quatro anos e lançado os objetivos para a próxima legislatura, no distrito e no país. reforço da rede ferroviária, reflorestação das áreas ardidas num distrito marcado pelos incêndios de 2017, melhoria das condições de saúde, fim das portagens. Pelo meio, um recado: “Aqui, ninguém luta por lugares, ninguém anda à espera de um seguro de vida, não houve mudanças de cadeiras.”