Qual a sua opinião sobre esta pré-campanha presidencial?
António Costa Pinto (ACP): A pré-campanha, como seria de esperar dada a quase colagem com as legislativas, não tem sido muito esclarecedora, com os candidatos a comentarem casos que a comunicação social vai destacando.
Adelino Maltez (AM): A procissão ainda vai no adro. Mas na pré-campanha a propaganda já passou pelo largo da praça e deu várias vezes a volta à aldeia. Desde que se considere que a melhor forma de propaganda é aquela que não parece propaganda, a que se difunde por osmose, como a chuvinha do molha-tolos.
E sobre os debates televisivos?
ACP: Esses sim, apesar de não serem muito vistos até agora, vão permitindo aos candidatos serem mais conhecidos e sobretudo demarcarem-se de Marcelo Rebelo de Sousa. O único que não precisava deles. Com os partidos menos presentes, só os debates podem mobilizar os portugueses para o voto.
AM: Somos uma teatrocracia e um consequente Estado-Espectáculo. Logo, em tempo de “homem videns”, o eleitorado pode passar a “share”, mera audiência de certos atores que, às vezes, não são autores, mesmo quando são “one man show” do “star system”.
Que pergunta(s) gostaria de fazer aos candidatos ou a um candidato em especial?
ACP: Para dizer a verdade, nenhuma, porque tenho uma ideia da resposta antes de a fazer…. Talvez a única seja para Marcelo Rebelo de Sousa. Se ganhar vai alterar (na prática, porque na forma só com uma revisão constitucional) o modo de relacionamento com o primeiro-ministro?
AM: Como encara a hipótese de fazer um referendo sobre o eventual regresso a uma república com rei, conforme as exigências constitucionais, da manutenção da forma republicana de governo? É que nesta república, a maior parte dos presidentes que figuram no museu não foi eleita por sufrágio universal e direto, como Sidónio Pais, Óscar Carmona, Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva. Excluo os eleitos no Estado Novo que, obviamente, têm de ser demitidos da lista, por fraude evidente.
Porque é que faria essa(s) pergunta(s)?
ACP: Porque o próximo presidente, perante um governo minoritário, vê os seus poderes aumentados na prática, e vai estar em “coabitação”.
AM: Porque alguns não reparam que as melhores repúblicas do mundo são monarquias democráticas. E apetece ser do contra, de forma politicamente incorreta, num país de tradição de rei eleito, pelo menos, no começo de uma dinastia, de D. João I a D. João IV.
Acha que vai haver segunda volta ou alguém ganhará à primeira? Quem e porquê?
ACP: Se o eleitorado de Marcelo for mobilizado para ir votar, e para isso não se ignore a importância dos partidos, este ganha à primeira volta.
AM: Depende da passagem do “share” ao “eleitorado” porque, às vezes, muitas vezes, o normal é haver anormais. As normas do reino da opinião publicada são feitas para serem violadas.
Como avalia o facto de haver 10 candidatos? Excessivo, sinal de maturidade democrática…
ACP: Não. É a vida de uma democracia…. porque as candidaturas cumprem mais funções do que eleger o Presidente: fixar eleitorado de um partido, dar notoriedade e assegurar por vezes a sobrevivência a um dirigente político, tentar forçar o favorito a uma segunda volta, oferecer protagonismo a cidadãos com vocação (e dinheiro…) para serem influentes na vida pública, etc.
AM: O melhor regime democrático será aquele onde possa haver tantos candidatos como eleitores. Para que quem é presidencializado possa ser presidente. Infelizmente só há duas mulheres. E anda tudo à procura de uma espécie de anti-Cavaco.