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Um ano depois de os capitães terem desencadeado o movimento que conduziu ao fim do regime autocrático de 48 anos e restituiu a liberdade e a democracia a Portugal, o povo português teve a oportunidade de votar. Para três gerações, avós, pais e netos, era a sua primeira vez. Os portugueses saíram à rua, em massa, numa espécie de segunda revolução. Foi um tempo de estreias e de experiências: montar a máquina eleitoral (recenseamento obrigatório, campanhas de esclarecimento, elaboração de mesas de voto, planeamento para a contagem dos votos e até cobertura jornalística e televisiva). Finalmente, depois de tanto tempo, o povo podia pronunciar-se e escolher. Não admira, assim, que os portugueses tenham aderido em massa: 92% de votantes, um recorde de participação no mundo ocidental. Esta adesão legitimava, por si só, se tal fosse necessário, o novo regime democrático.
As eleições não estiveram isentas de polémica. Um setor mais radical do MFA, secundado pelo PCP, pretendia cancelar ou, pelo menos, adiar o ato eleitoral, sobretudo depois dos acontecimentos de 11 de março, que precipitaram a tónica revolucionária. Militares e políticos moderados, cobraram, porém, a promessa, feita pelo MFA, de realizar, no prazo máximo de um ano, as eleições para uma Assembleia Constituinte. O não cumprimento desse desiderato teria resultado na total descredibilização dos capitães. Mesmo assim, alguns setores militares fizeram uma intensa campanha pelo voto em branco, alegando que os portugueses não se sentiam inteiramente esclarecidos. Que não se abstivessem, mas votassem em branco, que o seu voto contaria. Contaria… a favor do MFA, como denunciou Mário Soares em diversos comícios: “Não peço que votem no PS! Mas votem, ao menos, no partido da vossa simpatia!” Os eleitores corresponderam: ninguém queria desperdiçar a oportunidade da escolha.
O desencanto de quatro décadas de avanços e recuos, sucessos e desilusões, retiraram a inocência ao povo e às novas gerações. A abstenção anda, agora, em dias bons, pelos 40 por cento. Mas o livre arbítrio, essa máxima bíblica, continua a ser o princípio sagrado que meio século de ditadura tinha negado. Vote-se ou não se vote.