Por causa da Caravana VISÃO, andei oito dias pelo Alto Minho com poucos jornais e nenhuma têvê. Já escrevi que foi com dificuldade que dei pela campanha eleitoral para as legislativas do próximo domingo. Num dia, apanhei um folheto tamanho A6 de Ilda Figueiredo e, noutro dia, assisti a uma “arruada” com Pedro Passos Coelho, cujos preparativos (autocolantes, bandeiras e, sobretudo, bombos) duraram mais do que o acontecimento em si. Na véspera de me vir embora para Lisboa, também vi Fernando Medina, cabeça de lista do PS por Viana do Castelo, a distribuir panfletos no centro histórico de Valença pelos comerciantes de atoalhados.
Não gosto de deixar arrastar os problemas e, por isso, há já algum tempo que decidi em que partido é que vou votar no próximo domingo. Não me orgulho particularmente da minha escolha nem tão-pouco quero persuadir os outros a seguir a mesma opção. Para mim, é importante deitar a cabeça na almofada à noite sabendo que dessa inquietação já me livrei. E, ao contrário do que possa parecer, fi-lo com convicção. Escolhi dentro das opções que tenho neste momento, podem não ser as ideais, mas são as que existem.
Apesar do pragmatismo com o qual decidi resolver a questão do sentido do meu voto, continuo a olhar para o próximo domingo como uma espécie de primeiro dia do resto das nossas vidas. Nada é irreversível, é verdade. Mas também é verdade que andamos há tempo de mais enrolados nesta encruzilhada que, de ano para ano, nos tem afastado da coisa pública. Já não é esta a altura dos improvisos, se é que alguma vez o foi, de substituir a leitura do calhamaço aborrecido pelo resumo mastigado da Europa-América. Não pertenço à chamada “geração à rasca”, a maior parte dos meus amigos tem trabalho e, com mais ou menos dificuldade, consegue pagar as suas contas. Sei que sou uma privilegiada, mas já não é de agora que sinto que andamos há demasiado tempo entretidos com as nossas vidinhas privadas, os nossos filhos, os nossos empregos, as nossas férias, as nossas viagens, os nossos hobbies.
Há uns tempos, o sociólogo Pedro Magalhães, com quem aprendo sempre muito, disse numa entrevista ao jornal Público que, depois de coligações, governos maioritários e minoritários, só nos faltava experimentar políticos e eleitores mais exigentes. É justamente para isso que eu sinto que devemos estar mais disponíveis: para sermos mais exigentes perante tudo aquilo que vemos, lemos e ouvimos, exigirmos governos mais competentes, ministros mais bem preparados, jornalistas mais habilitados, cidadãos mais atentos. E, sim, isso implica sair da bancada dos conformados inconformados com o-estado-a-que-isto-chegou.