“Pelo facto de uma das partes no conflito ser um membro permanente com direito de veto, anula-se a capacidade de imposição do Conselho de Segurança [das Nações Unidas] e o sistema declara-se em bancarrota”, disse.
“Pelo facto de as decisões da Assembleia Geral das Nações Unidas não serem vinculativas, não foi adotada qualquer medida para pôr termo aos combates”, indicou no seu discurso de inauguração do Fórum Diplomático de Antália, um encontro internacional nesta cidade da costa mediterrânica turca.
O chefe de Estado turco criticou o facto de um único país poder contrariar a vontade dos restantes devido ao direito de veto que está atribuído no Conselho de Segurança aos Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França.
Neste contexto, recordou que há muito utiliza o lema “O mundo é maior que cinco”, para justificar a necessidade de uma reforma profunda das Nações Unidas.
A Turquia, um Estado-membro da NATO, disponibilizou a sua mediação entre Kiev e Moscovo, na sequência da intervenção militar russa, iniciada em 24 de fevereiro.
O país acolheu na quinta-feira em Antália (sul) as primeiras conversações diretas, desde o início da ofensiva, entre os chefes da diplomacia russa, Serguei Lavrov, e ucraniana, Dmytro Kubela.
Os dois ministros não conseguiram acordar num cessar-fogo, mas prometeram prosseguir o diálogo entre os dois países.
Apesar de pretender manter um equilíbrio equidistante entre as partes em conflito para manter os contactos diplomáticos, Erdogan apoiou hoje Kiev de forma explícita.
“Não podemos justificar os atos de agressão à soberania de um país vizinho. Rejeitamos todas as medidas ilegais que comprometem a integridade territorial da Ucrânia, começando pela anexação da Crimeia”, disse Erdogan no seu discurso, transmitido em direto pela cadeia televisiva turca NTV.
O líder de Ancara também acusou os países europeus de não terem fornecido no passado o apoio necessário a Kiev e sugeriu que a guerra na Ucrânia poderia ter sido evitada caso “o ocidente e o mundo” se pronunciassem contra a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.
“A Ucrânia foi deixada só”, assinalou.
Ancara rejeitou desde o início a anexação russa da Crimeia e permanece uma aliada da Ucrânia, a quem fornece drones de combate. No entanto, também conseguiu manter as suas relações com a Rússia, de quem depende fortemente na área do turismo e nos fornecimentos de trigo e energia, importando desse país 33% do gás natural que consome.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 564 mortos e mais de 980 feridos entre a população civil e provocou a fuga de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.
PCR // MLS