Há oito meses, a vitória de Joe Biden nas eleições primárias do Partido Democrata estava quase selada, depois de derrotar o seu oponente Bernie Sanders em vários Estados decisivos. Apesar disso, várias vozes do Partido alertavam para os problemas estruturais da sua campanha: fracas angariações de fundos, poucos recursos humanos e uma grande falta de organização interna. Para Biden ter hipóteses de derrotar Trump, estas falhas tinham de ser resolvidas o mais rápido possível.
Perante este cenário, Biden decidiu ouvir as críticas internas. No início de março, o Washington Post anunciava que o candidato presidencial tinha nomeado uma nova diretora de campanha: Jen O’Malley Dillon. “Ela vai ser uma grande mais valia para a campanha, que está a tornar-se mais forte para enfrentar a luta contra Donald Trump, em novembro”, disse Biden quando fez o anúncio.
O percurso no Partido Democrata
O nome de O’Malley Dillon não era uma novidade nas hostes democratas. Em 2000, com apenas 24 anos, já era diretora regional de campanha de Al Gore, o candidato do Partido Democrata que veio a perder a eleição para George W. Bush. Mais tarde, foi diretora de campanha de “Estados-chave” na primeira eleição de Obama e diretora-geral adjunta de campanha na sua reeleição, em 2012. Ao longo dos anos, consolidou o seu lugar no núcleo duro de conselheiros políticos do ex-presidente norte-americano.
No ano passado, a estratega política de 44 anos destacou-se ao ajudar a criar uma plataforma de troca de dados do Partido Democrata, que permitiu uma maior circulação de informação entre as campanhas do partido e grupos afiliados – uma iniciativa que foi reconhecida como fundamental para conseguir acompanhar os programas de dados rivais do Partido Republicano. Entre os círculos do Partido Democrata, Dillon sempre foi considerada “disciplinada, organizada e com um grande sentido estratégico.”
Nas eleições para a presidência americana de 2020, Dillon já tinha apoiado outro candidato nas primárias do Partido Democrata: Beto O’Rourke, opositor de Biden. Quando o candidato desistiu da corrida, a estratega política voluntariou-se para ser assessora de campanha de Biden, tendo ficado ligada à equipa como assessora informal – até ser nomeada diretora de campanha, em março.
Uma campanha à distância
Na sua primeira reunião como diretora de campanha, O’Malley Dillon recebeu a notícia de que iam mudar as regras do jogo: a sede da campanha do Partido Democrata, em Filadélfia, ia ser encerrada por causa da Covid-19. A partir do dia seguinte, toda a equipa ia começar a trabalhar à distância.
Depois de uma eleição primária que tinha deixado muito a desejar para Joe Biden, era necessário reunir todas as forças para derrotar Trump – um opositor mais hostil do que Bernie Sanders nas primárias democratas. Para além deste combate díficil, a nova diretora de campanha tinha agora outro desafio: dirigir toda esta operação de forma remota, diretamente do seu sótão.
Apesar deste contratempo, a equipa conseguiu ajustar-se às mudanças. Todos os eventos do Partido Democrata, como as convenções e angariações de fundos, passaram a ser realizadas através do Zoom. Em agosto, o discurso de aceitação de Biden na Convenção do Partido Democrata foi transmitido por vídeo e foi um sucesso.
A comunicação através das redes sociais foi essencial para chegar a mais eleitores – em especial os mais jovens. Em agosto, Biden anunciou Kamala Harris como sua Vice-Presidente através do Twitter – atingindo mais de 800 mil “gostos”:
Investir nos Estados certos
A grande contribuição estratégica de O’Malley Dillon na vitória de Biden foi o foco em determinados Estados, como o Michigan, a Pensilvânia e o Wisconsin – a chamada blue wall, que tinha caído para o lado de Trump há quatro anos e foi recuperada pelos Democratas este ano.
Dillon sempre foi muito disciplinada e nunca quis gastar tempo e dinheiro em Estados que considerava difíceis de ganhar. Preferiu focar-se nos Estados que considerava terem uma demografia alinhada com o perfil de Biden e que garantissem 46 votos do Colégio Eleitoral. Assim foi: ao todo, Biden chegou a ir 13 vezes à Pensilvânia – o Estado que foi essencial para a sua vitória.
Para além deste investimento em determinados Estado, O’Malley Dillon disse que a sua equipa também se focou “na conexão e envolvimento com as pessoas.” Ao longo da pandemia, os membros da campanha iam ligando a pessoas de todos os EUA e conversavam com elas sobre o seu sofrimento por causa dos impactos da Covid-19. Em paralelo, foram organizadas equipas de voluntários que faziam máscaras e deixavam comida em bancos alimentares de diferentes Estados.
No final, Joe Biden venceu as eleições e Jen O’Malley Dillon foi a primeira mulher a dirigir uma campanha presidencial bem-sucedida do Partido Democrata. O anúncio de vitória de Biden nas redes sociais correspondeu às expetativas que Dillon deixou durante os últimos oito meses, com um vídeo que já atingiu mais de 3 milhões de “gostos”: