Muitos americanos se recordam do momento em que Ron DeSantis deixou de ser um obscuro membro da Câmara dos Representantes, para se tornar uma personalidade conhecida em todos os EUA. Foi em agosto de 2018, pouco tempo depois de ter recebido o apoio do então Presidente Donald Trump na corrida a governador da Flórida e, com isso, passar a liderar as sondagens no estado. Acusado pelos adversários de não ter qualquer ideia própria e de se limitar a repetir que era o “escolhido de Trump”, ele lançou um pequeno vídeo de campanha para provar que era mais do que isso. Nele, a sua mulher, Casey, explicava como o marido era também um pai excelente, conforme mostravam as imagens: DeSantis a brincar com um dos filhos, com tijolos de plástico, a construírem um “muro”… conforme Trump pedia na época; DeSantis, com outro filho ao colo, a ler-lhe um livro de… Trump; DeSantis a ensinar uma filha a soletrar as frases de um cartaz de… Trump. O vídeo tornou-se viral e ajudou-o a vencer a eleição. Mas também o fez ganhar uma série de alcunhas: DeSantis passou a ser o “Mini Trump” ou o “Clone de Trump”.
Quatro anos depois, DeSantis fez desaparecer por completo a referência a Donald Trump na sua campanha de reeleição para governador da Flórida. E voltou a fazer um vídeo polémico, desta vez com total ausência de humor, a preto e branco, com uma música dramática a tentar dar um tom épico às imagens em que se vê o candidato, como governador, a interagir com diversas autoridades e cidadãos. Nem por uma vez se ouve o nome de Trump. A palavra mais repetida passou a ser Deus. E os primeiros segundos não deixam dúvidas sobre a mensagem, com a voz grave do narrador a proclamar: “E ao oitavo dia, Deus olhou para o paraíso e disse: ‘Preciso de um protetor.’ Então Deus criou um lutador” – aparecendo a imagem de Ron DeSantis, o homem que, no curto espaço de quatro anos, deixou de ser endossado por Trump para passar a ser um enviado de Deus. Com outra diferença substancial: em 2018, DeSantis derrotou o candidato democrata por menos de 0,5%. Agora, nas eleições intercalares de 8 de novembro, ele ganhou com uma diferença de quase 20%, a maior margem de vitória de um republicano desde 1868 num estado que, nas últimas décadas, registou sempre resultados renhidos e imprevisíveis.
