O Irão reagiu esta segunda-feira, pela primeira vez, ao ataque sofrido pelo escritor Salman Rushdie, na passada sexta-feira, 12, em Nova Iorque. Foi através do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que negou “categoricamente” qualquer intervenção iraniana no sucedido e apontou o dedo ao autor do livro “Os Versículos Satânicos”.
“Apenas Salman Rushdie e os seus apoiantes são culpados do que lhe aconteceu”, declarou Nasser Kanani, na sua conferência de imprensa semanal, acrescentando que “a liberdade de expressão não justifica os insultos de Salman Rushdie a uma religião e a ofensa das suas santidades”.
Desde 1989 que o britânico de origem indiana tem sobre a cabeça uma sentença de morte (fatwa), decretada pelo então líder religioso do Irão, o ayatollah Rouhollah Khomeini, na sequência da publicação do referido livro, considerado uma “blasfémia” no mundo islâmico. A motivação do recente ataque nos Estados Unidos da América – 12 facadas em várias partes do corpo, que obrigaram Rushdie a estar ligado a um ventilador e o deixam em risco de perder um olho – ainda não foi esclarecida oficialmente, mas tudo indica que o agressor, um norte-americano de 24 anos, de origem libanesa, que se declarou inocente, através do seu advogado, na primeira audição em tribunal, tenha agido em nome dessa fatwa emitida há mais de três décadas.
Nas suas declarações de hoje aos jornalistas, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano afirmou ainda que Salman Rushdie, “ao ultrapassar linhas vermelhas de mais de 1,5 mil milhões de muçulmanos e de todos os adeptos das religiões divinas, expôs-se à cólera e à raiva das pessoas”, para reforçar a ideia de que o próprio é o responsável pelo crime de que foi alvo em Nova Iorque.
O escritor continua hospitalizado “em estado crítico”, mas apresenta algumas melhorias, de acordo com informações prestadas pelo seu filho Zafar Rushdie. “Embora os ferimentos que lhe mudaram a vida sejam graves, o seu sentido de humor corrosivo e desafiador permanece intacto”, escreveu em comunicado, declarando-se “extremamente aliviado” por o pai já não estar ligado ao suporte de vida e ter recomeçado a falar.