O presidente Joe Biden revelou esta segunda-feira numa reunião com o diretor da NASA, Bill Nelson, a primeira de um conjunto de várias imagens captadas pelo mais recente telescópio da agência, o James Webb, lançado a 25 de dezembro de 2021. A fotografia do telescópio já mereceu o título da “imagem infravermelha mais profunda e nítida do universo até hoje”, revelando “milhares de galáxias numa pequena lasca do vasto universo”, como explica, em comunicado, a NASA.
Os cientistas têm-se mostrado muito satisfeitos com os resultados obtidos pelo Webb e acreditam que o telescópio poderá ser uma porta de entrada para compreender os segredos dos primórdios do Universo. O que diferencia este instrumento de qualquer outro já desenvolvido pela agência, incluindo o seu antecessor, o Telescópio Hubble, é não apenas o facto de ser capaz de captar luz infravermelha, invisível ao olho humano, mas também o facto de ser cerca de 100 vezes mais sensível do que o próprio Hubble.
Este último, lançado em abril de 1990, foi criado para a captação de luz visível e as imagens que recolheu provaram-se decisivas para o atual conhecimento que temos do Universo, algo que se espera que o Webb também faça e que já tem, inclusive, feito.
Embora capte alguma radiação infravermelha, as capacidades do Hubble não permitem explorar os astros mais distantes, que representam também os mais antigos. Como explica a NASA, “por causa do tempo que a luz leva a viajar, quanto mais distante um objeto estiver, mais atrás no tempo estamos a recuar”, o que significa que quanto mais longe está um dado astro, mais antigo este é e mais rica é a sua história, importante para uma melhor compreensão do início do Universo.
A radiação infravermelha, captada pelo Webb através de um sistema composto por 18 espelhos hexagonais revestidos em ouro e com um total de seis metros e meio de altura, dá uma visão mais ampla de todos os astros escondidos ao olhar humano. Isto porque não só permite ver os objetos mais distantes, visíveis apenas através do infravermelho, mas também porque levanta o véu sobre algumas estrelas e planetas em formação que, normalmente, surgem escondidas entre “casulos de poeira que absorvem a luz visível” e que impedem estes astros de serem percetíveis ao olhar humano, como explica a NASA.
Criado com o objetivo de explorar a luz invisível do universo, o telescópio Webb tem permitido conhecer uma realidade mais distante do cosmos e até recuar no tempo para perceber o seu começo. Tal só é possível porque, com a distância, a luz vai transitando gradualmente no espetro eletromagnético passando de visível para infravermelha, ou seja, invisível, razão pela qual os astros mais distantes não são visíveis.
O mais recente telescópio da NASA é também o primeiro a ser capaz de se dobrar, uma tecnologia nova que nunca havia sido aplicada em nenhum outro telescópio espacial e que foi determinante no sucesso da sua missão. Por incluir tecnologia que até então não tinha sido desenvolvida, o projeto do Telescópio Espacial James Webb ultrapassou orçamentos e foi vítima de muitos atrasos, segundo a Space. Ainda assim, e apesar dos muitos obstáculos, os esforços parecem ter valido a pena dada a mais recente imagem do telescópio e os seus elevados níveis de nitidez e profundidade.
Outro aspeto igualmente surpreendente da fotografia divulgada esta segunda-feira é o facto de abrir a cortina a milhares de galáxias por descobrir, assim como a uma imensidão de diferentes astros, embora, tecnicamente, e como explica a agência, esta só cubra “um pedaço de céu aproximadamente do tamanho de um grão de areia mantido à distância de um braço por alguém no chão”.
“A imagem mostra o aglomerado de galáxias SMACS 0723 como era há 4,6 mil milhões de anos. A massa combinada deste aglomerado de galáxias atua como uma lente gravitacional, ampliando galáxias muito mais distantes atrás dele. O NIRCam do Webb trouxe essas galáxias distantes para um foco nítido – elas têm estruturas minúsculas e fracas que nunca foram vistas antes, incluindo aglomerados de estrelas e características difusas. Os investigadores em breve começarão a aprender mais sobre as massas, idades, histórias e composições das galáxias, à medida que o Webb procura as primeiras galáxias do universo”, explica em comunicado a agência.
As restantes imagens serão lançadas pela NASA e as respetivas agências colaboradoras espaciais durante o dia de hoje numa transmissão ao vivo do Goddard Space Flight Center da NASA em Greenbelt, Maryland. Dado o resultado da já publicada imagem, as expectativas para as restantes estão elevadas e não parece que irão desiludir. “O que vi comoveu-me enquanto cientista, engenheiro e enquanto ser humano”, admitiu o vice-administrador da NASA, Pam Melroy, que reviu as imagens, durante uma conferência de imprensa a 29 de junho.
Os resultados obtidos pelo telescópio Webb continuam a surpreender os cientistas, mas muito está ainda por descobrir, um grão de areia de cada vez.