A China está, neste momento, a sentir as repercussões do maior surto de covid-19 dos últimos dois anos. O aumento de casos faz-se sentir um pouco por todo o território chinês, sendo a província de Jilin, no nordeste do país, a mais afetada. No total, 37 milhões de pessoas estão confinadas, das quais 26 milhões vivem em Jilin, segundo dados da CNN.
Na terça-feira, dia 15 de março, o número de infetados disparou para 5100. As autoridades chinesas estão preocupadas e rapidamente ordenaram o confinamento total ou parcial dos grandes centros populacionais de Jilin, Changchun, Shenzen, Dongguan e Langfang.
Desde o início da pandemia, a China tem seguido aquilo a que chama uma política de “tolerância zero” em relação à covid-19, caracterizada por confinamentos severos após qualquer surto, independentemente da dimensão, e medidas rigorosas e constantes para conter a transmissão descontrolada do vírus. Daí este número de novos casos, 5100, que em muitos países seria recebido com alguma normalidade, estar a causar tanto alarme entre os chineses.
Wu Zunyou, epidemiologista chefe do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças chinês, disse ao Global Times, um jornal ligado ao governo da China, que as infeções importadas do estrangeiro, a prevalência da variante Ómicron e a percentagem alta de casos assintomáticos são as principais causas deste surto.
De facto, a variante Ómicron é responsável por cerca de 80% dos últimos casos na China. Esta variante é extremamente contagiosa e, devido aos sintomas mais ligeiros associados e ao período de incubação mais curto, é também mais difícil de controlar.
Ainda não há nenhuma indicação de que a China está disposta a suavizar a sua abordagem de “tolerância zero” ao coronavírus. Altos dirigentes chineses têm mostrado confiança e dito que irão superar o problema e que as medidas até aqui tomadas irão resolver a situação. Han jun, o governador da província de Jilin, disse numa conferência de imprensa que iria acabar com as transmissões comunitárias em apenas uma semana, o que gerou uma reação negativa por parte de muitos chineses, que usaram as redes sociais para ridicularizar a afirmação do governador como mais uma promessa que não se cumprirá.
O impacto económico dos confinamentos
Com este confinamento, várias fábricas chinesas vão ser obrigadas a fechar, causando danos económicos que irão ressoar um pouco por todo o mundo. Tendo em conta a importância do setor industrial chinês, as cadeias de abastecimento globais vão ser particularmente afetadas, levando potencialmente à subida dos preços de alguns produtos eletrónicos e automóveis.
Por exemplo, o encerramento temporário das fábricas de carros e peças de carros da província de Jilin vai causar muitos constrangimentos na cadeia de fornecimento da indústria automóvel, já bastante fustigada pelo aumento do preço dos minerais e da energia, pela escassez de semicondutores e pelas pressões da inflação. A pouca produção chinesa que resistir a esta paragem, e que eventualmente poderá ser exportada, vai demorar mais tempo a alcançar o seu destino final. As restrições ordenadas por Pequim abrangem também as estradas da China, e são aplicadas através da implementação de inúmeros pontos de controlo onde os condutores são testados para a covid-19. Empresas como a Toyota ou a Volkswagen importam muito material oriundo de Jilin, e possivelmente terão de aumentar os preços finais dos seus automóveis de forma a compensar os atrasos.
Mais a sul, nas cidades de Dongguan e Shenzhen, estão situadas grandes fábricas dedicadas à produção de iPhones e outros artigos da empresa americana Apple. Muitas delas terão de fechar ou, no mínimo, diminuir significativamente a sua capacidade produtiva. Mesmo assim, de modo a garantir algum tipo de saída e evitar contágios, alguns trabalhadores veem-se forçados a viver dentro dos próprios locais de trabalho. No entanto, segundo o testemunho de Deng Shiwen, dono de uma fábrica em Dongguan, as empresas nem sempre podem escoar os seus produtos: “Eu deixo as coisas que são feitas agora por aqui, por enquanto”, confessou Shiwen ao The New York Times.
Segundo Mary E. Lovely, do ‘think tank’ Peterson Institute for International Economics, nos Estados Unidos, as principais vítimas desta paragem serão as empresas pequenas e médias que dependem dos artigos produzidos na China para a sua sobrevivência. Mas todas serão afetadas de alguma forma.