“O hostel foi feito para hospedar turistas e assim ajudar a financiar a associação. Em relação aos voluntários, logo no início oferecíamos as dormidas e a alimentação aos que chegavam para ajudar, no entanto nem sempre a dedicação era a esperada e desde que colocamos uma quota de pagamento para ficarem nas nossas instalações. Percebi que a motivação ficou maior. Todos os que chegam querem ajudar”, explica, em entrevista à Lusa, a presidente da associação, Silvia Punzo.
Acrescenta que além de veterinários, recebem turistas com outras formações que se disponibilizam para trabalhar no canil e passear os cães que a SiMaBô (‘como tu’, em crioulo cabo-verdiano) acolhe.
Silvia Punzo, italiana, mas há vários anos radicada em São Vicente, explica que a estratégia de hospedagem de turistas ajuda a suportar os custos de funcionamento da ONG de proteção de animais em São Vicente, com clínica e um canil que alberga cerca de 120 cães e 23 gatos.
Admite que os custos de funcionamento chegam a 900 euros mensais, a maior parte garantida com as receitas das dormidas dos turistas no hostel da associação e da residência para voluntários.
No início, conta, não acreditava que a estratégia de receber pela dormida dos voluntários fosse funcionar, no entanto o tempo demonstrou ser eficaz e há três anos que é assim que funciona.
“Desde 2018 decidimos inscrever-nos nestas plataformas de voluntariado internacional e passamos a colocar uma pequena quota e por acaso somos dos projetos mais baratos e por isso conseguimos muitos turistas”, afirma.
Além disso, garante que algumas vezes os turistas decidem trazer consigo doações para a associação que ajudam nas campanhas, no tratamento e no sustento dos animais.
As restrições impostas pela pandemia da covid-19, desde logo no turismo, representou alguma instabilidade nas finanças da organização, e ao fim de mais de um ano de crise Silvia Punzo mantém a SiMaBô funcionar e não dispensou nenhum dos 18 funcionários.
“Foram as minhas orações, porque não despedimos ninguém, não cortámos o horário a ninguém e nem mexemos no salário, não parámos de trabalhar. Mas durante algum tempo não pagámos a renda do hostel porque contámos com a boa vontade do dono da casa”, sublinha.
Desde a reabertura das fronteiras e do país ao turismo, a presidente desta ONG conta terem chegado pelo menos 20 voluntários e outros hóspedes.
Ainda assim, as dificuldades obrigaram a que campanhas de castração, que a associação promovia antes da pandemia, fossem reduzidas, apesar de estarem a ser já retomadas, em várias localidades de São Vicente, promovidas pela organização e os seus voluntários.
O trabalho voluntário da SiMaBô com estrangeiros não é recente. A associação foi criada em 2008 por 13 pessoas de nacionalidades diferentes, que além de cabo-verdianos reunia cidadãos de Portugal, Rússia, Itália e Costa Rica, com o intuito de proteger os animais através da castração e assim prevenir a proliferação canina e consequentes abandonos.
“Estávamos preocupados com o número de animais abandonados e doentes e optámos pelo melhor meio de controle, com a castração, porque protege de doenças, de tumores, protege de fugas e previne o abandono, já que por cada animal a mais é mais provável ter mais animais nas ruas”, explica.
No entanto, admite que a mão de obra voluntária nacional atualmente escasseia, pelo que apela aos cabo-verdianos a abraçarem o projeto da SiMaBô, até como forma de intercâmbio com os voluntários internacionais.
Desde o início das intervenções, esta ONG conta ter castrado mais de 15 mil animais, na ilha de São Vicente.
Além do serviço de hospedagem, SiMaBô conta, como receitas, com as quotas dos sócios e doações de ração promovidas por algumas superfícies comerciais e particulares.
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