A imposição de quarentenas e proibições de entrada a cidadãos ou visitantes das áreas mais afetadas, graças à pandemia de Covid-19, teve um efeito que só agora foi analisado: cerca de 200 mil marinheiros mercantes ficaram presos em navios.
Além disso, com o recente aumento de casos na Ásia, provocado pela nova estirpe Delta altamente contagiosa – detetada pela primeira vez em dezembro, na Índia, e já presente em mais de 100 países – muitos países viram-se obrigados a cortar o acesso terrestre aos marinheiros, deixando cerca de 100 mil marinheiros encalhados no mar para além dos seus limites.
No estudo divulgado o mês passado pelas associações comerciais BIMCO e a Câmara Internacional de Navegação (ICS), estimou-se que apenas 1,89 milhões de marinheiros estão a operar um total de mais de 74 mil navios na frota mercante global – número muito reduzido devido à pandemia -, estando a provocar um debate na indústria naval. Esta escassez das tripulações põe em risco o fornecimento de mão-de-obra esperado nos próximos anos.
Este relatório da Seafarer Workforce, que veio substituir o relatório anterior (A Oferta e Procura Globais para os Marinheiros, de 2015) prevê, com base em projeções de crescimento do comércio marítimo, que seriam necessários mais 89.510 oficiais até 2026. Neste relatório é ainda destacado um défice atual de cerca de 26.240 oficiais certificados, e uma procura de marinheiros que ultrapassou a oferta, em 2021.
Segundo o secretário-geral da ICS, Guy Platten, “estamos muito além da rede de segurança de excedentes de mão-de-obra que protege o fornecimento mundial de alimentos, combustível e medicamentos”, e, para que a situação não piore, o relatório salienta a importância de recrutar e manter marinheiros.
“Sem uma ação urgente dos governos, o número de marinheiros vai ficar esgotado”, sublinhou Platten, acrescentando que devia ser dada prioridade de vacinação aos “trabalhadores de transporte essenciais”, visto que apenas 20% dos marinheiros de todo o mundo foram vacinados contra a Covid-19.
“Combinado com um aumento da procura de mão-de-obra, isto está a empurrar as cadeias de fornecimento globais para o ponto de rutura”, acrescentou.
Tendo em conta que a maioria dos marinheiros é de países como as Filipinas, Indonésia e Índia, que têm acesso limitado às vacinas contra Covid-19, o secretário-geral refere que “se não existir uma ação rápida a nível nacional”, a cadeia de abastecimento vai atravessar uma fase de grande instabilidade.