Numa conferência de imprensa conjunta com a comissária europeia dos Assuntos Internos, Ylva Johansson, depois de uma reunião de trabalho, Filippo Grandi — que sucedeu ao atual secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na liderança do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) — insistiu que a Europa necessita de dotar-se de “mecanismos previsíveis” para lidar com a chegada de migrantes, e apontou que o forte fluxo testemunhado nos últimos dias na rota do Mediterrâneo central é apenas “mais uma prova”.
Depois de a comissária Johansson observar que “as muitas embarcações a chegar a Itália” com imigrantes ilegais exigem “solidariedade” por parte de outros Estados-membros, designadamente na recolocação, Grandi comentou que, efetivamente, volta a verificar-se um aumento da chegada de migrantes às fronteiras externas da União através do Mediterrâneo, mas desvalorizou os números, destacando antes a falta de uma resposta europeia adequada.
“Sim, houve várias embarcações a chegar [a Itália], mas estamos a falar de números administráveis. Através de um mecanismo racional e acordado, isto seria muito gerível, na nossa opinião”, reparou, lembrando que países muito mais pobres que os europeus estão a acolher migrantes.
Defendendo a necessidade de a Europa aprovar enfim “mecanismos previsíveis para desembarque e recolocação”, o Alto Comissário disse ser sua convicção pessoal de que “isso é o mínimo que a Europa pode fazer”, pois aquilo que é pedido à UE é o que outros países de outros continentes, designadamente de África, estão a fazer.
“Tenho plena consciência de que as negociações em torno do pacto são muto complexas, há diferentes interesses que têm de ser conciliados, mas quero aqui deixar registado, uma vez mais, que o ACNUR está totalmente ao lado da Comissão Europeia e acredita que [o novo Pacto para as Migrações e Asilo] acabará por ser aprovado pela UE.
Em setembro do ano passado, a Comissão Europeia apresentou enfim uma proposta para um novo Pacto para as Migrações e Asilo, mas, embora esta seja também uma prioridade da presidência portuguesa do Conselho da UE no corrente semestre, as grandes diferenças em termos de política migratória que se registam entre os Estados-membros da UE não têm permitido até à data grandes progressos nas discussões.
Mais de 2.000 migrantes chegaram a Lampedusa nas últimas 24 horas, num total de 20 embarcações, o que levou as autoridades da ilha, situada no sul de Itália, a pedir ajuda ao primeiro-ministro, Mário Draghi.
Este ano, já chegaram a território italiano mais de 11 mil migrantes, o triplo do mesmo período do ano passado.
ACC (JPZS/FPA) // EL