Foram emitidas novas recomendações nos EUA relativas ao rastreio do cancro do pulmão, que é, nesse país, o cancro mais letal. Estas novas diretrizes, estudadas por vários especialistas da United States Preventive Services Taskforce, que analisaram novos dados de vários estudos, pretendem tornar esse rastreio mais abrangente, com o objetivo de serem descobertos mais precocemente novos casos deste cancro em pessoas de risco elevado princopalmente devido ao tabaco e, consequentemente, conseguir-se maiores taxas de sucesso nos seus tratamentos.
As novas recomendações, publicadas também na revista médica JAMA, prevêem duplicar a realização anual de tomografias computorizadas, uma vez que devem incluir, a partir de agora, pessoas entre os 50 e 80 anos (nas diretrizes de 2013, a idade mínima era 55 anos) que fumaram pelo menos um maço por dia durante 20 anos ou mais – antes, eram 30 anos -, e que ainda fumam ou pararam de fumar nos últimos 15 anos. Isto faz com que mais de 14 milhões de pessoas nos EUA realize esta triagem anual, um aumento de 6,4 milhões relativamente aos anos anteriores.
De acordo com os especialistas da task force – que integra 16 médicos, cientistas e especialistas em Saúde Pública -, estas mudanças vão passar a incluir mais mulheres e afro-americanos, já que estes grupos tendem a desenvolver cancro do pulmão em idades mais precoces e com menos exposição ao tabaco, além de, tendencialmente, não fumarem tanto relativamente aos participantes – todos homens e brancos -analisados no estudo que deu origem às recomendações de 2013.
Porque é que o risco difere entre género e raça? Ainda não há respostas concretas
Entre 80 e 90% dos doentes com cancro do pulmão fumam ou já fumaram e estima-se que o tabaco provoque 70% dos cancros do pulmão. Contudo, apenas 20% dos fumadores o desenvolvem. Em relação às mulheres, 20% das que desenvolvem cancro do pulmão nunca fumaram, mas este número cai para metade nos homens.
De acordo com Mara Antonoff, cirurgiã pulmonar em Houston, Texas, alguns estudos falam sobre “influências hormonais nas mulheres” mas, em relação às diferenças entre raças, ainda não há uma resposta. “Temos dados de base populacional que mostram que eles têm tendência a desenvolver cancro de pulmão mais jovens e com menos exposição ao tabaco, mas ainda não encontrámos um mecanismo” que justifique esses dados, explica a investigadora.
O grande problema, agora, passa pelo acesso de todas as pessoas a este exame, já que o seu custo nos EUA é de cerca de 300 dólares. Ou seja, nem todos os que são incluídos nas diretrizes de rastreio anual conseguem pagar o exame ou têm um seguro que o cubra. De acordo com o Affordable Care Act, conhecido por Obamacare, as seguradoras devem cobrir qualquer rastreio amplamente recomendado pela task-force, sem custos diretos.
Este exame tem riscos e há especialistas que falam na hipótese de a exposição cumulativa à radiação possa, ela própria, provocar cancro. Contudo, a tomografia de baixa dosagem envolve uma pequena quantidade de radiação e, por isso, o risco é considerado pequeno, principalmente comparado com o risco de cancro de pulmão provocado pelo tabaco, afirmam os especialistas.
Em Portugal, a tomografia computadorizada de baixa dosagem já é, desde 2011, um procedimento considerado seguro para o rastreio do cancro do pulmão em situações de risco devido à elevada carga tabágica, e os critérios para a inclusão num programa de diagnóstico precoce incluem: idade entre os 55 e os 74 anos, com indicador superior a 30 unidades de maço ano (UMA, nº de maços por dia x os anos que se fumou) e cessação do tabaco há menos de 15 anos; ou idade superior a 50 anos, indicador UMA superior a 20 e presença de outros factores de risco, como doença pulmonar ou antecedentes familiares de cancro do pulmão, por exemplo.
No País, surgem mais de 5 mil novos casos de cancro do pulmão por ano, o que representa cerca de 9% do número total de casos de cancros. Alé disso, este cancro é responsável por 20% das mortes provocadas por cancro em Portugal.