Os números são perturbadores. No Japão, em outubro de 2020, suicidaram-se 851 mulheres. Enquanto que, um ano antes, em outubro de 2019, este valor se situava nos 466, o que representa um aumento de 83 por cento. Acrescente-se ainda que, no que diz respeito ao sexo masculino, o aumento da taxa se ficou pelos 22 por cento.
A professora e especialista em suicídio no Japão, Michiko Ueda, da Universidade de Waseda, mostra a sua surpresa perante os factos. “Este padrão de suicídio feminino é muito, muito incomum. Nunca vi um aumento tão grande em toda a minha carreira como investigadora neste tema. O problema da pandemia é que as indústrias mais afetadas são aquelas que empregam mais mulheres, como o turismo e a restauração”, sustenta a especialista em declarações à BBC.
Em 2020, no Japão, morreram 8 mil pessoas vítimas de Covid-19, sendo que, por suicídio, foram mais de 20 mil, segundo The Japan Times. De forma a lidar com este problema, o país está a apostar em medidas contra a solidão: além de ter sido constituído um grupo de trabalho, foi criado o cargo de ministro da Solidão. O primeiro-ministro, Yoshihide Suga, nomeou, assim, para a nova pasta Tetsushi Sakamoto, que já era titular da revitalização regional. Sakamoto está também encarregue de combater a queda da taxa de natalidade. “Espero desenvolver atividades que previnam a solidão e o isolamento social e que protejam os laços entre as pessoas”, disse Sakamoto, citado pelo The Japan Times. O Governo pretende pôr em prática, rapidamente, novas políticas públicas para fazer face à solidão, um dos problemas acentuados pela pandemia.
No Japão, as taxas de suicídio elevadas não são um problema novo, dado que durante muito tempo foi o país desenvolvido com maior taxa de suicídio. Em setembro do ano passado, uma atriz muito popular, Yuko Takeuchi, foi encontrada morta em sua casa e há quem pense que a cobertura noticiosa de suicídios de celebridades como Takeuchi pode, ela própria, conduzir a um aumento do número de suicídios. Yasuyuki Shimizu, uma antiga jornalista que agora se dedica ao problema, considera mesmo que, através das estatísticas, é possível confirmar o efeito nos dez dias seguintes.