O meu interesse pelos livros explica provavelmente por que razão não só sobrevivi à escola secundária como cheguei ao Occidental College, em 1979, com um conhecimento esparso, mas aceitável, de questões políticas e um conjunto de opiniões meio assimiladas que eu arremessava em tertúlias tardias no dormitório.
Retrospetivamente, é embaraçoso reconhecer o grau em que a minha curiosidade intelectual nesses primeiros dois anos de universidade refletia os interesses de diversas mulheres que eu estava interessado em conhecer. Marx e Marcuse para poder ter alguma coisa a dizer à socialista de longas pernas que vivia no meu dormitório; Fanon e Gwendolyn Brooks para a estudante de Sociologia de pele sedosa que nem olhou uma segunda vez para mim; Foucault e Woolf para a bissexual etérea que se vestia quase sempre de preto. Como estratégia para engatar raparigas, o meu pseudointelectualismo revelou-se infrutífero: dei comigo numa sucessão de amizades afetuosas, mas castas. Ainda assim, estas tentativas desastradas serviram um propósito: algo que se parecia com uma mundividência adquiriu forma na minha mente. Fui ajudado nesse processo por uns quantos professores que toleraram os meus hábitos incertos de estudo e as minhas pretensões juvenis. Fui ajudado ainda mais por outros estudantes, na sua maioria mais velhos: miúdos negros da Baixa da cidade, miúdos brancos que se tinham esfolado para chegar à universidade vindos de cidadezinhas, latino-americanos de primeira geração, estudantes do Paquistão, da Índia ou de países de África que vacilavam à beira do caos.
Eles sabiam o que era importante para si e, quando falavam nas aulas, percebia-se que as suas opiniões estavam ancoradas em comunidades reais e lutas reais: “Vejam o que significam esses cortes orçamentais no meu bairro”; “Deixem-me falar-vos da minha escola, antes de se queixarem da discriminação positiva”; “A Primeira Emenda é ótima, mas por que razão o governo dos EUA não diz nada a respeito dos prisioneiros políticos no meu país?” Os dois anos que passei no Occidental representaram o início do meu despertar político. Isso, porém, não significava que eu acreditasse na política. Com poucas exceções, tudo o que eu observava relativamente aos políticos parecia-me dúbio: os penteados modelados a secador, os esgares cruéis, as banalidades e o venderem-se na televisão ao mesmo tempo que, nos bastidores, procuravam cair nas boas graças das grandes empresas e de outros interesses financeiros. Eram participantes num jogo viciado e eu decidi que não queria fazer parte disso.
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