A pandemia da Covid-19 está a ter cada vez mais impacto na economia de países como o Iémen onde, para além do cenário de guerra que parece não ter fim à vista, os preços dos alimentos e da água continuam a aumentar substancialmente.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo International Rescue Comitee (IRC), quase 62% de 150 famílias do sul do Iémen não tinham condições económicas para comprar comida e água potável. Além disso, nas zonas onde o vírus não foi controlado, como é o caso das províncias do sul, a principal preocupação das famílias é o agravamento da situação económica e da falta de comida. Isto fez com que o medo de contrair a doença se tornasse uma preocupação muito menor em comparação com o medo de passar fome, como afirma Marcus Skinner, conselheiro sénior de política do IRC, citado pelo The Guardian. Acrescenta, ainda, que o aumento dos preços dos alimentos, causado pela Covid-19, está a ter um enorme impacto na economia das famílias porque cerca de 85% dos alimentos são importados.
Muitas famílias tiveram de acarretar com dívidas que não conseguiam pagar, reduzir substancialmente a quantidade de alimentos consumidos e vender os seus bens como as terras e os animais. Outras tiveram, ainda, de enviar os seus filhos para trabalhar ou pedir dinheiro na rua para ajudar com as despesas, como relata Tamuna Sabadze, diretora do IRC para o Iémen, citada pelo The Guardian.
A juntar ao cenário de guerra e redução significativa dos apoios humanitários, a crise alimentar revela-se, assim, uma das maiores preocupações no Iémen atualmente. De acordo com um relatório da Integrated Food Security Phase Classification, cerca de 3,2 milhões de pessoas (40% da população) encontra-se numa situação de insegurança alimentar extrema. A somar a isto, estima-se que metade de todas as crianças do país com menos de 5 anos se encontrará desnutrida até ao final de 2020.
O IRC está a apelar à ONU para aumentar o financiamento humanitário no Iémen, e aos países envolvidos no conflito para que deixem de prestar apoio militar.