Uma investigação realizada a profissionais de saúde franceses nos dois hospitais da Universidade de Estrasburgo, conduzida por uma equipa do hospital e pelo Instituto Pasteur, conclui que as pessoas que tiveram sintomas leves de Covid-19 podem ter adquirido imunidade durante pelo menos várias semanas.
Os investigadores analisaram 160 pessoas que haviam testado positivo ao vírus, mas apenas apresentaram sintomas leves e não precisaram de cuidados médicos. As amostras de sangue revelaram que quase todos os participantes no estudo desenvolveram anticorpos ao coronavírus 13 dias após a infeção. Após 28 dias, 98% ainda tinham anticorpos neutralizantes.
A presença de anticorpos também pareceu aumentar ao longo do tempo. Ficaram imunes 79% dos pacientes depois de 13 a 20 dias após o início dos sintomas, 92% após 21 a 27 dias, seguido de 98% após 28 a 41 dias.
“Sabia-se que as pessoas contaminadas gravemente com a doença desenvolveram anticorpos 15 dias após o início dos sintomas. Agora sabemos que isso também é verdade para quem tem sintomas menores, mesmo que os níveis de anticorpos sejam mais mais baixos”, disse Arnaud Fontanet, um dos autores do estudo e chefe do departamento de Saúde Global do Instituto Pastor, num comunicado.
Os investigadores dizem que esta descoberta sugere que as pessoas que foram infetadas com o Covid-19, mesmo que tenham apenas sintomas leves, criam uma proteção contra a reinfeção do SARS-CoV-2, “pelo menos até 40 dias” após o início dos sintomas. No entanto, ainda não está claro se esta imunidade dura mais tempo.
Ter anticorpos contra um vírus específico não significa necessariamente que estamos totalmente protegidos da infeção, até porque os níveis de imunidade podem diminuir progressivamente com o passar do tempo. Este novo estudo não garante que as pessoas que tiveram uma infeção leve por Covid-19 tenham alguma imunidade longa e significativa à reinfeção.
A equipa vai continuar a investigar, analisando a resposta dos anticorpos dos pacientes e a sua capacidade de neutralização a longo prazo. “Sim, temos bons resultados durante um mês, mas não temos como prever quanto tempo isso vai durar”, disse Kevin Ariën, professor de virologia do Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia (que não esteve diretamente envolvido neste estudo) ao Financial Times. “Presumimos que as pessoas infetadas nesta primeira onda do Covid-19 estarão protegidas se houver uma segunda onda no outono, mas não sabemos realmente o que acontecerá”.
O estudo, que ainda não foi revisto por especialistas, está disponível no site MedRxiv, que divulga estudos em curso e por onde têm passado inúmeras investigações sobre a Covid-19.