O aviso já estava feito: depois de as chuvas passarem e as indundações começarem, lentamente, a resolver-se, o grande perigo seriam as doenças: malária, diarreias e cólera estão no topo das preocupações, devido à falta de condições de higiene e de água potável. Num país onde a larga maioria das crianças sofre de sub-nutrição, o cenário é ainda mais preocupante.
Dados do Hospital Central da Beira citados pela imprensa moçambicana davam esta terça-feira, 26, conta de que já há 68 186 pessoas com doenças diagnosticadas, sendo que 2 558 crianças com menos de 5 anos estão com malária. Outras 1 798 apresentam diarreias agudas e os médicos temem um surto violento de cólera. Um dos habitantes da Beira ouvido pelo jornal Carta de Moçambique procurava pedaços de madeira para construir um caixão para a filha mais nova: não a levaram as águas do Idai, mas levou-a a cólera cerca de uma semana depois.
Alguns dos técnicos de saúde ouvidos pelos jornalistas moçambicanos lamentam que as autoridades não tenham tido, antes do desastre, a preocupação de combater de forma mais efetiva a cólera, dado o potencial epidémico desta infeção. Numa altura em que a água potável é escassa, e em que os medicamentos não abundam na região, o caso pode agravar-se. Recorde-se que o principal tratamento para esta inflamação do intestino delgado incide, precisamente, pela reidratação oral, no acesso a boas condições de saneamento básico e a água potável.
Dados da Organização Mundial da Saúde, apontam para que, todos os anos haja 3 a 5 milhões de casos de cólera no mundo todo, e que desses, 100 a 120 mil resultem em morte.