Os primeiros sinais deste receio da despedida foram dados há alguns meses, quando se soube que os britânicos já tinham começado a gastar menos: segundo as estatísticas internas, a confiança do consumidor baixara 0,9% no final de 2018, logo após a temporada da Black Friday, em novembro. Depois, foi a queda no volume total das compras de Natal, que se revelaram as mais baixas dos últimos dez anos. Agora , com o aproximar do dia D, confirmou-se que os britânicos receiam encontrar cenários a que não estão habituados, como supermercados com prateleiras vazias. E aderiram em massa a esta Brexit Box, um kit de sobrevivência que inclui comida liofilizada suficiente para 30 dias, um filtro de água e ainda um gel instantâneo para fazer fogo.
Um porta-voz do governo bem tentou acalmar os ânimos, assegurando que o país tem stocks suficientes para o que der e vier e que nenhum daqueles items será necessário. Mas, como confessou Lynda Mayall, 61 anos, ao The Guardian, há uma apreensão generalizada de que se possa instalar o caos no país após o Brexit, daí ter comprado a tal caixa para complementar os seus stocks de comida enlatada e papel higiénico.
“Não estou preocupada com o Brexit, estou preocupada com as consequências”, disse ela, questionando se realmente importa saber se está a ser excessivamente cuidadosa: “Estes produtos têm uma validade de 25 anos. Aconteça o que acontecer, fico prevenida”, insistiu.
O caso da Brexit Box não é único: nos últimos dias, uma quantidade razoável de produtos com temas ligados à sobrevivência ao Brexit apareceu à venda, ao mesmo tempo que foi criada uma série de grupos de discussão online. Só ao Preppers, grupo do Facebook que quer discutir “os preparativos que as pessoas estão a fazer para a vida após o Brexit”, aderiram, num ápice, mais de 3500 pessoas.
Mas estes receios de falhas no abastecimento não surgiram do nada: afinal, já em outubro, a empresa de navegação Stena alertara que podia haver problemas no fornecimento de alimentos. Pela mesma altura, a empresa de armazenamento a frio Wild Water também reconhecera que estava a ficar sem espaço.
“Foi por isso que nos lembrámos de montar uma caixa que dê às pessoas o básico que elas precisam”, contou James Blaxe, responsável da empresa Emergency Food Storage UK, que lançou a tal lançou a Brexit Box no mês passado e já vendeu mais de 600 embalagens, recusando estar a aproveitar-se das preocupações das pessoas. “O medo existe desde que a votação aconteceu e a verdade é que ninguém sabe realmente o que vai acontecer”.
Tim Benton, especialista em sistemas alimentares, da Universidade de Leeds, bem insiste que não há qualquer previsão realista de que o Reino Unido possa ficar sem comida, mas reconhece que poderá haver situações em que não se obtem o que se espera, diariamente, nos supermercados. “A questão maior”, sublinha, “é que se corre risco de a maioria dessas interrupções ser causada sobretudo por este pânico crescente”.