A ideia das redes sociais como “câmara de eco” não é nova, mas os resultados de um paper publicado esta semana pelo National Bureau of Economic Research (NBER) confirmam essa arquitetura e mostram como utilizadores do Twitter replicam mensagens geradas automaticamente por contas controladas por algoritmos. Esses bots criam nova informação e contribuem para um sentimento de consenso favorável a determinado candidato ou campanha. Os autores do estudo – Yuriy Gorodnichenko, Tho Pham e Oleksandr Talavera – olharam para a forma como os bots influenciaram as opiniões dos humanos e, em específico, analisaram a votação que determinou o Brexit e a eleição presidencial norte-americana de 2016.
“Por exemplo, a mensagem de um bot pró-saída [do Reino Unido da EU] gera uma resposta de humanos pró-saída e praticamente não há resposta de humanos pró-permanência. Além disso, as mensagens dos bots com determinado sentimento geram em grande medida mensagens humanas com o mesmo sentimento”, pode ler-se no estudo. A velocidade é muito elevada. A informação é disseminada e absorvida pelos utilizadores do Twitter em 50 a 70 minutos, o que indicia uma grande permeabilidade em assuntos muito importantes. “Estes resultados confirmam a perspetiva de ´câmaras de eco’. O Twitter e outras redes sociais criam redes para indivíduos que partilham ideias políticas semelhantes de forma a que eles tendam a interagir com as mesmas comunidades e, assim, reforçar as suas crenças.”
A informação vinda de quem está fora da bolha tem mais probabilidades de ser ignorada. A consequência é uma amplificação da polarização, o que torna o consenso mais difícil.
Tanto no Brexit como nas eleições dos EUA, estes bots parecem ter desempenhado um papel com alguma relevância. Os autores do estudo reconhecem que eles “espalham e amplificam desinformação, o que influencia aquilo que os humanos pensam sobre determinado assunto, reforçando as crenças dos utilizadores humanos”. Tendo sido bastante utilizados nos dois escrutínios, ambos renhidos, os bots “podem ter contribuído marginalmente para os resultados do Brexit e das eleições dos Estados Unidos em 2016”.
O estudo avança até com uma estimativa aproximada de quantificação. Nos EUA, 3,23 pontos percentuais dos votos em Trump podem ter sido decisivamente influenciados pela atuação dos bots. No Brexit, esse impacto terá sido de 1,76 pontos.
Perante este nível de impacto, os autores reconhecem que é necessário debater como se pode limitar a influência de bots. Embora a regulação dos fluxos de informação seja algo que deve ser tratado com pinças, sublinham que “proteger a diversidade [de opiniões] não significa que devamos permitir que sejam despejadas mentiras e manipulações de tal forma que o público não possa tomar decisões bem-informadas”. Sugerem a divulgação dos responsáveis pelas contas de Twitter, melhoria da literacia mediática e um código de conduta para as redes sociais, mas admitem que saber onde desenhar a linha, entre a liberdade e a regulação, “é a questão central para a sociedade”.