Aqui fica a lista de algumas das mais relevantes regiões do planeta com aspirações separatistas
Veneza
A província de Véneto é a herdeira da poderosa República de Veneza, um estado autónomo durante mil anos, que dominou o comércio marítimo durante séculos e que só perdeu a independência no início do século XIX (primeiro para a Áustria, depois para a Itália). Um região rica, quase quatro vezes maior do que o Algarve e com 4,9 milhões de habitantes, nunca perdeu verdadeiramente a vontade de se separar de Itália, evocando o seu passado e o facto de ter de contribuir para subsidiar as províncias mais pobres do sul. Mas nos últimos anos tem ganho novo fôlego: as sondagens mais recentes mostram que a maioria dos venezianos apoia a independência. O Tribunal Constitucional transalpino tem impedido um referendo nesse sentido, mas admitiu um plebiscito sobre a autonomia, já marcado para 22 de outubro.
País Basco
Quando a ETA se encontrava mais ativa, não era na independência da Catalunha que se falava, mas sim na do País Basco, uma região com uma língua e uma cultura ainda mais vincadamente diferentes das de Madrid. Mas o terrorismo, em vez de fortalecer, enfraqueceu o movimento independentista. Os homicídios – mais de 800 vítimas – da ETA viraram a opinião pública (incluindo grande parte da local) contra os terroristas e, por arrasto, contra a sua causa. A derrota das armas levou a organização separatista a entregar as armas voluntariamente, em 2011. Mas mantém o objetivo de lutar por um Euskal Herria independente, que incluiria ainda uma pequena região em território francês.
Flandres
As guerras políticas entre o sul da Bélgica, onde se fala predominantemente francês, e o norte, de língua holandesa, tiveram o seu auge nas eleições legislativas de junho de 2010: os nacionalistas flamengos venceram no norte, os socialistas ganharam no sul e não houve entendimento. Durante 18 meses, a Bélgica, “capital” da União Europeia, não teve governo – conquistando assim um recorde mundial. A possibilidade de uma efetiva divisão geográfica entre francófonos e neerlandeses está sempre em cima da mesa, dadas as identidades culturais e linguísticas. Mas, na verdade, sucessivos inquéritos à população têm revelado que o povo prefere uma belga unida.
Xinjiang, Hong Kong e Tibete
Apesar da mão-de-ferro com que se governa e esmaga ímpetos revolucionários, a China debate-se com vários movimentos independentistas. Um deles é em Xinjiang, a sua maior província (18 vezes maior do que Portugal), com uma população etnicamente diversa, com os defensores da independência a acusarem a China de ter ocupado, em 1949, o que era então uma república independente. Do mesmo se queixam muitos tibetanos: em 1959, o território foi definitivamente incorporado na China comunista, que citou direitos sobre a região (que já pertencera à República chinesa, antes de declarar unilateralmente a sua independência em 1913). Mas, na realidade, o “paraíso na terra” anterior à anexação, proclamado por tibetanos no exílio, era uma sociedade feudal e esclavagista, o que foi usado como argumento para a “libertação”. Finalmente, Hong Kong – a antiga cidade-estado, que mantém um estatuto de autonomia dentro da China, tem sido a mais vocal na sua busca por uma ainda maior autonomia governativa. As manifestações pró-democracia de 2014 e 2015, no entanto, não convenceram Pequim. E tudo se mantém na mesma.
Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte e Gibraltar
Sendo uma união de estados, o Reino Unido sempre se debateu com aspirações separatistas. O mais forte tem sido o da Escócia, que avançou mesmo com um referendo em 2014. O não à independência venceu por pouco (55%, contra 45% do sim), mas o Brexit reavivou o sentimento, e já está em discussão a probabilidade de um novo plebiscito. O País de Gales, com a sua língua própria, tem igualmente um longo histórico de pretensões independentistas, e o partido nacionalista galês conquistou espaço no parlamento, nas últimas eleições. A Irlanda do Norte, por seu lado, palco de sucessivos atentados terroristas por parte do IRA, mantém vivo um sentimento anti-inglês e uma ligação umbilical à Irlanda. Finalmente, Gibraltar: na realidade, a possível independência está bloqueada pelo tratado que Inglaterra assinou com Espanha, em 1713 – se a pequena região abandonar a Coroa, passará a ser espanhola.
Curdistão
Esta semana, os curdos iraquianos votaram em referendo para decidirem sobre a sua independência, e os resultados dificilmente poderiam ser mais claros: 92,73% disseram “sim” à secessão, numa votação com níveis de participação acima dos 70 por cento. Mas este é apenas o início de uma longa batalha. O governo do Iraque não reconheceu o referendo antes, declarando-o inconstitucional, e assim que soube dos resultados tentou imediatamente isolar o governo regional curdo, cancelando todos os voos para a capital, Irbil. Os passos seguintes são uma incógnita. Mas, para já, enquanto se aguardam novos desenvolvimentos, a dor de cabeça do Iraque deverá alastrar aos países vizinhos com regiões em que uma grande parte da população é curda: Turquia, Irão e Síria. No limite, poderia formar-se um novo país feito de pedaços de quatro países. Mas nenhum desses quatro deixará que isso aconteça sem dar luta. Muita luta.