A uns dias das eleições em Espanha, a divulgação de gravações de conversas entre o ministro do interior espanhol, Jorge Fernández Díaz, e o diretor do gabinete antifraude da Catalunha, Daniel de Alfonso, em que conspiravam para implicar dirigentes partidários catalães em escândalos de corrupção, nas vésperas do referendo sobre a independência da Catalunha, em 2014, estão a pôr todos os partidos contra o PP de Rajoy (numa das conversas, o ministro diz que o presidente do governo em funções teria conhecimento da operação) e a ressuscitar um caso denunciado em 2012: nessa altura, o El País escreveu que Fernández Diaz, um mês depois de ter sido nomeado ministro do interior, no fim de 2011, terá mudado toda a cúpula das polícias e criado um grupo de polícias infiltrados, e sob anonimato, cuja função seria reunir informações contra os líderes dos partidos políticos independentistas catalães e as suas famílias.
O caso ficou conhecido como “polícia patriótica”e tinha como objetivo lutar contra o movimento de secessão da Catalunha: para o efeito terão sido usadas investigações reais com provas que não eram válidas em julgamento. Num dos casos, comissários e polícias terão viajado para a Suíça num avião oficial para comprar informação a uma fonte; terão voltado a Madrid com extratos de uma conta. O caso acabou na imprensa na tentativa de forçar uma investigação judicial, mas a operação fracassou, porque o juiz não aceitou aquelas notas como prova.
No caso que abalou a família Pujol, investigando a sua fortuna no estrangeiro, por exemplo, as informações seriam verdadeiras, mas os métodos usados para obtê-las não seriam legais.
Desde que foi divulgada a conversa entre Díaz e Alfonso, pelo diário espanhol Público, a maioria das forças políticas tem pedido a demissão do ministro do Interior assim como uma explicação sobre a utilização da Polícia Nacional e de outros serviços do Estado por parte do governo do PP. Jorge Fernández é o número 1 da lista do PP por Barcelona.
Rajoy diz que nada sabe. Diáz diz-se vítima de conspiração na reta final de uma campanha e fala de excertos “descontextualizados e editados”. Alfonso admite que as conversas existiram mesmo e que Diáz lhe fez “sugestões” depois de aquele lhe ter dito que existiam “indícios muito fracos” contra Roger Junqueras, da Esquerda Republicana, e Felip Puig, histórico dirigente da Convergência da Catalunha.
O líder socialista critica com veemência o uso de recursos do Estado para “fortalecer a projeção do PP na Catalunha”. Pablo Iglesias, líder do Podemos, diz que o caso “é suficientemente grave para que haja demissões imediatas”. E o líder do Cidadãos afirma que “em democracia a polícia está ao serviço da democracia e não dos partidos políticos”.