Cada vez mais, a Turquia tem vindo a ser escolhida por muitas marcas de roupa, calçado e acessórios como centro de produção a baixo custo, em detrimento de países como a China o Vietnam ou o Bangladesh.
A alta qualidade dos tecidos, a atenção ao pormenor, a mão de obra qualificada, as boas relações comerciais com exportadores de matérias-primas e, principalmente para a Europa, o posicionamento geográfico, que permite entregar os produtos em metade do tempo do que aquele que levariam a chegar da Ásia, têm atraído para o país grandes nomes da venda a retalho.
A Inditex, por exemplo, tem 194 parceiros na Turquia com uma força de trabalho de mais de 383 mil pessoas. Já a Hugo Boss abriu, em 2020, uma “fábrica do futuro” no país, que emprega quatro mil pessoas e produz milhões de peças por ano. O investimento de 1,3 milhões de euros ficou pago em 18 meses, assegurou, na altura, à Portugal Textil, Joachim Hensch, diretor-geral da área das indústrias têxteis da marca.
Mas, a 6 de fevereiro deste ano, as forças da Natureza falaram mais alto do que as do Mercado. Dois sismos devastadores atingiram o sudeste da Turquia e o norte da Síria, matando mais de 40 mil pessoas e deixando centenas de milhares desalojadas. A perda de milhares de vidas humanas preocupa os governos, mas as empresas também já começaram a fazer contas aos prejuízos que terão de enfrentar.
PIB pode reduzir 1%
Um conjunto de dados personalizado, disponibilizado pela Open Supply Hub, dá conta de, pelo menos, 9270 fabricantes de roupa, calçado e têxteis localizados junto dos epicentros dos sismos. O jornal Ekonomi informou ainda que centenas de fábricas de têxteis em Kahramanmaras pararam as operações, podendo necessitar de seis meses para reiniciarem a produção.
A Bloomberg Economics calcula que a calamidade possa reduzir em cerca de 1% o PIB do país. E diminuiu a sua previsão de crescimento real do PIB para este ano de 3% para 2,6%. O site do canal de televisão avançou ainda alguns números que ilustram bem a situação.
- A Mango tem 663 fábricas, 70 lojas e cerca de 1300 funcionários em toda a Turquia, um dos maiores fornecedores da marca.
- A Levi Strauss tem 17 instalações na Turquia e três fábricas na zona do sismo.
- A VF, proprietária da North Face, tem duas fábricas na zona do sismo, mas a empresa diz que qualquer impacto nas operações comerciais é mínimo.
- A H&M tem 105 fornecedores e 179 fábricas na Turquia, mas a maioria deles não está nas áreas afetadas.
Onda de solidariedade
Apesar do impacto da catástrofe natural na indústria, valores mais altos se elevaram e muitas das empresas com fábricas na Turquia decidiram enviar ajuda humanitária.
A Amazon anunciou uma doação inicial de cinco mil dólares a organizações não governamentais empenhadas em ajudar as vítimas. Criou também a possibilidade de os clientes dos Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Holanda, Suécia e Emirados Árabes Unidos doarem dinheiro para a Cruz Vermelha/Crescente Vermelho. A empresa abriu ainda, na página turca, uma página de doações de produtos, a qual, após três horas, registava já cinco mil doações.
Os dois primeiros camiões, enviados a 7 de fevereiro para Hatay, uma das províncias mais atingidas da Turquia, continham aquecedores, cobertores e outros produtos para ajudar os socorristas e as vítimas a manterem-se quentes no clima frio e condições adversas que se registam no país.
Já a VF disse à Bloomberg que vários de seus fornecedores perto do epicentro abriram as portas para abrigar e alimentar famílias locais . A fundação da empresa doou ainda, segundo a Bloomberg, 100 mil dólares ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. O dinheiro destina-se a ser usado para fornecer ajuda imediata a salvar vidas.
A Inditex doou três milhões de euros ao Crescente Vermelho para apoiar as operações de resgate, forneceu bens de primeira necessidade, como cobertores, lonas, kits de cozinha e água, e 500 mil peças de vestuário.
O Grupo H&M também anunciou estar a distribuir roupas de inverno para as vítimas do sismo e ter doado 100 mil dólares à AFAD, o serviço de gestão de desastres do governo turco. Além disso, a H&M Foundation doou ainda 500 mil dólares à Cruz Vermelha/Crescente Vermelho e à Save the Children para apoiar os esforços destas organizações na região.