No final do ano passado, e já com a inflação a dar sinais de alerta, Christine Lagarde garantiu por várias vezes que era muito pouco provável que o Banco Central Europeu (BCE) aumentasse as taxas de referência ao longo de 2022. Mas menos de 12 meses depois, a autoridade monetária da zona euro está a subir os juros ao ritmo mais rápido de sempre, para responder à escalada dos preços, agravada pelas consequências económicas da decisão de Putin de invadir a Ucrânia, a 24 de fevereiro. Mesmo com o impacto imediato da guerra nos preços da energia e dos alimentos, o BCE decidiu esperar até 21 de julho para tirar os juros do mínimo histórico de 0%. E, desde então, aparenta correr atrás do prejuízo para tentar segurar uma inflação galopante e sem precedentes na história da zona euro. Mas até onde poderá ser preciso ir para retomar as rédeas da evolução dos preços? E será necessário trocar o controlo da inflação por uma recessão na zona euro?
As últimas decisões do BCE mostram que se instalou uma sensação de urgência em Frankfurt, já que em pouco mais de três meses as taxas de referência aumentaram num total de dois pontos percentuais. A última subida ocorreu na semana passada e foi novamente significativa, com um agravamento de 0,75 pontos percentuais. “É o ciclo de subida mais acentuado e agressivo de sempre”, sublinham os analistas do banco ING, numa nota a investidores, realçando que, “nos anteriores dois ciclos de aumentos que se observaram desde o início da união monetária, demorou cerca de 18 meses para que o BCE subisse as taxas num total de dois pontos percentuais”.