Uma das imagens de marca de Elvira Nabiullina – a governadora do banco central da Rússia – é a utilização de adereços ou de roupas que indiquem a avaliação que faz da economia do seu país e que dão pistas sobre as suas futuras decisões. Já usou um alfinete com uma pomba, para sinalizar um corte nos juros para valores mínimos; um crachá com o símbolo de pausa, para anunciar que iria deixar as taxas inalteradas, e até ostentou um adorno em formato de casa, durante a pandemia, para recomendar o confinamento da população. Após a invasão da Ucrânia, e a julgar pela forma como se apresentou na comunicação das medidas de resposta às sanções aplicadas pelo Ocidente, a líder do banco central pode ter indiciado um prognóstico reservado para a economia do seu país. Nabiullina envergou um vestido preto, pesado, dispensando qualquer tipo de adereço. Alguns observadores da política monetária russa atiraram a hipótese de que estaria a fazer o luto pela morte da economia do seu país ou, no mínimo, a sinalizar que este era o tempo de enterrar a política monetária normal.
Quase uma década depois de ter assumido a liderança do banco central russo, Nabiullina, de 58 anos, enfrenta uma missão quase impossível: manter a economia e o rublo à tona, no meio da barragem de sanções económicas aplicadas pelo Ocidente, nas últimas semanas. Em 2014, após a primeira invasão de território ucraniano e a anexação da Crimeia, a economista conseguiu passar no teste de fogo de defesa do rublo e do sistema financeiro russo. A resposta do banco central granjeou-lhe créditos, tanto dentro como fora de portas. E essa crise levou-a a arquitetar a estratégia da “fortaleza financeira” russa, de acordo com a qual se pretende tornar a economia e o sistema financeiro do país mais resistentes a sanções internacionais e menos dependentes do dólar. Nabiullina aumentou as reservas externas da Rússia para mais de 640 mil milhões de dólares – são as maiores do mundo – e começou a desenvolver, também a partir de 2014, uma alternativa ao SWIFT, sistema de mensagens que permite aos bancos estarem ligados ao sistema de pagamentos internacional. A versão russa, que funciona quase exclusivamente ao nível interno, está agora a ser usada pelos bancos que foram desligados do sistema internacional.