Pensa e age numa escala cósmica. O seu nome tornou-se uma espécie de sinónimo de futuro. Já lhe chamaram o “Steve Jobs da indústria pesada” ou o “Henry Ford dos foguetões” devido à sua obsessão pela colonização de Marte – uma das suas ideias mais antigas. E o primeiro grande passo para a concretizar foi dado este fim de semana, com o lançamento da nave Dragon, desenvolvida pela SpaceX, que colocou dois astronautas da NASA na Estação Espacial Internacional.
Um momento histórico na conquista do Espaço, pois foi a primeira nave privada a transportar astronautas até àquela estação. Desde 2011 que não eram lançados foguetões a partir de solo norte-americano. Durante este período, a NASA recorreu aos foguetes russos para realizar as suas missões espaciais e, até este momento, todos os projetos desta natureza eram quase exclusivamente financiados por programas governamentais.
O sucesso desta missão veio também mostrar ao mundo a viabilidade da exploração comercial dos voos espaciais na chamada órbita baixa. Isso abriu espaço para projetos como o da Boeing – que está a preparar uma nave para transportar astronautas, já no próximo ano – e os da Blue Origin, de Jeff Bezos – o dono da Amazon –, e da Virgin Galactic, do milionário britânico Richard Branson, ambas focadas no turismo espacial.
Mas enquanto uns olham para o turismo no Espaço, com voos a algumas centenas de quilómetros de altitude, Musk quer ir mais longe. Muito mais longe. Na sua órbita mais próxima da Terra, Marte fica a cerca de 60 milhões de quilómetros de distância. E Musk não tenciona apenas ir a Marte. A sua obsessão é construir, até 2050, uma autêntica cidade naquele planeta, com capacidade para albergar cerca de um milhão de pessoas. Mas, para isso, será necessária uma frota bastante alargada de naves espaciais para transportar pessoas, equipamento e alimentos. E Elon Musk já começou a planear a construção de cerca de mil naves para concretizar este seu sonho.
De Pretória a Los Angeles
O seu espírito empreendedor e aventureiro está bem presente no ADN da família. Um dos seus avós foi o primeiro homem a voar da África do Sul para a Austrália num monomotor. O outro ganhou uma corrida de carro do sul ao norte de África, entre a Cidade do Cabo e Argel. A sua bisavó foi a primeira mulher que se dedicou à quiroprática no Canadá. Nascido na África do Sul, Elon Musk foi desde cedo um bom aluno. Quanto entrou no liceu em Pretória, era o mais novo e mais pequeno entre os colegas, o que acabou por lhe trazer alguns problemas, não só no relacionamento com outros alunos mas também com a realidade do país. Ainda frequentou a Universidade de Pretória, mas acabou por rumar ao Canadá, onde vivia a família materna. Mais tarde, revelou que a sua ida para aquele país teve como único objetivo facilitar a aquisição da cidadania norte-americana.
Conseguiu entrar na Universidade da Pensilvânia, onde se formou em Economia e Física. Durante o curso, conseguiu dois estágios em empresas sediadas em Silicon Valley, na Califórnia, onde tudo estava a acontecer em matéria de transformação digital.
Em 1995, cria a Zip2, uma empresa que desenvolvia software de mapeamento para a comunicação social. A empresa foi comprada pela Compaq em 1999, no boom das dot.com, por 307 milhões de dólares. Musk recebeu 22 milhões.
Com esse dinheiro, criou a X.com, empresa que viria a dar origem à Paypal, o serviço de pagamentos online. Dois anos depois, vende-a à eBay por 1,5 mil milhões de dólares. Este é o negócio decisivo no seu percurso, que o torna multimilionário e lhe abre as portas para os investimentos seguintes, sempre com a polémica na sua sombra.
O lado escuro
Uma boa parte do seu sucesso deve-se à sua capacidade de se transformar, ele próprio, num assunto à escala mundial. Um dos episódios mais constrangedores ocorreu durante a operação de resgate das crianças da gruta de Tham Luang, na Tailândia, com Musk – que desenvolveu um submarino para retirar as crianças, não utilizado – a envolver-se numa troca de insultos com o responsável pela operação, acabando por insinuar que este era pedófilo. Está na sua natureza agir por impulso. Mas quando caiu em si, rapidamente apagou o tweet e veio publicamente pedir desculpa.
Noutra ocasião, apareceu num programa a fumar um charro, imagem que chocou a sociedade conservadora dos EUA. Musk defende que raramente fuma canábis. “A erva não é muito boa para a produtividade… pelo menos, para mim”, disse. O episódio ia-lhe custando os contratos que, entretanto, a SpaceX tinha assinado com a NASA e com a Força Aérea norte-americana.
Em 2018, anunciou num tweet que um investidor estava prestes a fazer uma oferta milionária pela Tesla. Só havia uns problemas: a Tesla já era cotada, e qualquer negócio desse tipo teria de ser anunciado, com todos os pormenores, pelas vias oficiais do mercado de capitais; e a oferta nunca existiu, levando Musk a uma guerra aberta com os reguladores, que lhe impuseram ações disciplinares e tentaram mesmo que abandonasse a liderança executiva da empresa.
Já este ano, novo episódio, desta vez no Twitter – tal como Trump, muitas das suas polémicas nascem da sua liberal utilização desta rede social. Enquanto o Presidente norte-americano exigia publicamente a vários estados que retomassem a atividade normal, Musk juntava-se a essa luta para voltar a produzir na fábrica californiana da Tesla. As autoridades impediram essa reabertura várias vezes, levando Musk a desafiá-las: “Se alguém for preso, só peço que seja apenas eu.”
E, por falar em excentricidades, no início do mês, Elon Musk viu nascer o seu sétimo filho, fruto da relação com a atual companheira, a cantora vanguardista canadiana Grimes. Decidiram chamar-lhe X Æ A-12, mas na passada semana tiveram de alterar o nome para X Æ A-Xii, porque o estado da Califórnia não permite que sejam incluídos números nos nomes das pessoas.
Energia e Tesla
Além da conquista do Espaço, Musk é obcecado pelas energias limpas. O seu mais recente projeto é a construção de um novo meio de transporte, o Hyperloop, menos poluente. Trata-se de uma espécie de cápsula gigante capaz de transportar pessoas e mercadorias a uma velocidade próxima dos 1 000 km/hora através de túneis. A ideia foi ridicularizada por muita gente quando Musk a anunciou. Seis anos passados, e já com muitos contratos assinados com governos e cidades em várias partes do mundo, a empresa, denominada The Boring Company, inaugurou este mês o primeiro dos túneis de Los Angeles, com cerca de 60 quilómetros.
Mas o seu maior desafio, até à data, tem sido na Tesla, em que o sucesso dos automóveis tem contrastado com dificuldades financeiras e de produção. A empresa chegou a estar à beira da falência, devido ao atraso de quase três anos na entrega do Model 3 aos clientes, que já tinham avançado dinheiro antecipadamente. “A Tesla enfrenta uma séria ameaça de morte devido à linha de produção do Model 3. A empresa tem tido uma sangria de dinheiro e, se não conseguirmos resolver os problemas num determinado período de tempo, acabaremos por morrer”, disse Musk na altura.
Os dois passos que o tornaram milionário
Zip2
Vendida à Compaq por $307 milhões
Foi o primeiro negócio criado por Elon Musk. Desenvolvia guias de cidades para os jornais norte-americanos – o New York Times foi um dos primeiros clientes. Tratava-se de um diretório com um mapa associado que permitia procurar lojas, sedes de empresas, etc.
Paypal
Vendida à eBay por $1,5 mil milhões
Elon Musk criou, em 1999, a X.com, um dos primeiros bancos virtuais do mundo. Mais tarde, fundiu-se com o seu principal concorrente, a Confinity, dando origem ao que é, hoje, a moderna Paypal. Em 2017, Musk comprou o domínio X.com à eBay “pelo valor sentimental”
Apesar de todos estes contratempos, a empresa continuou em alta. Quando entrou na bolsa, em 2012, cada ação foi vendida a 17 dólares. Hoje, valem cerca de 900 dólares. E foi graças a este desempenho bolsista que, à mesma hora em que a SpaceX se preparava para ir para o Espaço, Elon Musk juntou mais 700 milhões de euros à sua fortuna pessoal, pois o seu contrato prevê uma série de bónus, caso a Tesla atinja determinados objetivos. E uma parte deles foi conquistada na passada quinta-feira, 28.
Esta é apenas uma das tranches desse acordo. Caso consiga atingir todos os objetivos negociados, Elon Musk poderá receber quase 20 mil milhões de dólares, o que, a somar aos 39 mil milhões que tem atualmente, fará dele um dos dez homens mais ricos à face da Terra. Terra essa que, para Musk, é já um planeta demasiado pequeno para a sua ambição.
O império de Elon Musk
O milionário está presente em muitos negócios do futuro, do Espaço às energias renováveis, passando pela Inteligência Artificial
Tesla
O financiador do grupo
É o maior construtor mundial de carros elétricos, mas estende a sua atividade às energias renováveis e à mobilidade partilhada
SpaceX
A paixão de Musk
Além do desenvolvimento de naves espaciais, a empresa trabalha ainda nas telecomunicações e na internet via satélite
Neuralink
Meio humanos
Desenvolve próteses e modelos de maior interação entre o cérebro humano e as máquinas. Faz ainda pesquisa para criação de novos tratamentos para doenças graves
The Boring Company
Novo meio de transporte
É a empresa que está a desenvolver as cápsulas do Hyperloop, capazes de transportar pessoas, em túneis, a mais de 1 000 km/hora
Open AI
A Inteligência Artificial
A ideia é desenvolver tecnologia que permite criar máquinas mais inteligentes do que o homem