Lembra-se do filme “Groundhog Day”? Bill Murray é obrigado a reviver o mesmo dia vezes e vezes sem conta. Parece estar a acontecer o mesmo com o Governo e a sua capacidade de executar investimento público. Com já se tornou hábito, o Executivo voltou a ser obrigado a rever em baixa a sua estimativa para o ano corrente.
Vamos recuar 12 meses. No anterior Orçamento do Estado, Mário Centeno previa que o investimento público disparasse 40,1% em 2018, em comparação com o ano anterior. Era uma variação impressionante. Contudo, no documento que apresentou hoje, a expetativa de crescimento desta rubrica está reduzida a 16,3%. Uma diferença de quase 400 milhões de euros.
Isto significa que o investimento público deverá fixar-se em 2,1% do PIB em 2018, não chegando ainda aos 2,2% observados em 2015, no último ano do governo anterior (ainda que em termos nominais já esteja quase 300 milhões acima)
Esta não é a primeira vez que algo deste género acontece. Em 2016, foi estimada uma quebra de 6% que, um ano mais tarde, já era assumida como de mais de 16%. Esse ano marcou o nível mais baixo de investimento público desde, pelo menos, 1995. Em 2017, o Ministério das Finanças orçamentou um crescimento de 22%, que se verificou serem 18%. Agora, nova revisão ainda mais substancial.
Mário Centeno tem sido acusado pelos parceiros à esquerda do PS – e até por membros do Executivo – de utilizar o investimento público como uma almofada para compensar eventuais derrapagens nas contas. Uma crítica que as Finanças recusam, uma vez que grande parte destes projetos são financiados por fundos comunitários (o que significa que o impacto no défice é mais limitado).
Agora, para 2019, a previsão de crescimento do investimento público é mais modesta. O Executivo espera uma variação de 17,1% face a este ano. Veremos se, desta vez, esse valor se confirma.