O ritual iniciou-se em 1936, apenas com homens, e foi preciso esperar 32 anos para que uma mulher tivesse a honra de acender a chama no estádio. Ao longo deste tempo, a tocha olímpica já viajou pelo mundo das mais variadas formas, subiu ao Evereste, mergulhou na Grande Barreira de Coral, passeou no espaço e até já foi transformada num raio laser.
Berlim, 1936 – A estreia
A chama olímpica tinha sido introduzida, em 1928, nos Jogos de Amesterdão. E em 1932, em Los Angeles, voltou a estar acesa no estádio olímpico. Mas a primeira vez que se realizou uma estafeta para a transportar, desde as ruínas gregas de Olímpia até ao Estádio Olímpico, foi nos Jogos de Berlim, em 1936. O alemão Fritz Schilgen teve a honra de ser o último atleta da estafeta, totalmente composta por homens.
Número de participantes: 3 075.
Distância percorrida: 3 075 km.
Países por onde passou: Grécia, Bulgária, Jugoslávia, Hungria, Áustria, Checoslováquia e Alemanha.
Londres, 1948 – Em nome da paz
Os organizadores tentaram transmitir uma mensagem de paz, numa Europa a recuperar da II Guerra Mundial. Por isso, o primeiro membro da estafeta despiu o uniforme militar antes de pegar na tocha. Foi a primeira vez que a chama viajou de barco, ao atravessar o canal da Mancha.
Número de participantes: 1 416.
Distância percorrida: 3 365 km.
Países por onde passou: Grécia, Itália, Suíça, França, Luxemburgo, Bélgica e Reino Unido.
Helsinquia, 1952 – O primeiro voo
O grande corredor Paavo Nurmi, conhecido como o “finlandês voador”, vencedor de 12 medalhas olímpicas (nove delas de ouro!), foi o atleta que teve a honra de completar o último percurso da estafeta e acender a chama no Estádio Olímpico. Pela primeira vez, a chama voou de avião, desde a Grécia até aos países nórdicos.
Número de participantes: 3 042.
Distância percorrida: 7 492 km.
Países por onde passou: Grécia, Dinamarca, Suécia e Finlândia.
Melbourne, 1956 – Pirotecnia a mais
A última parte do percurso foi completada pelo então jovem corredor Ron Clarke, de 19 anos, que teve que sofrer um pouco para a percorrer, uma vez que a chama usava como combustível uma mistura sólida de magnésio e alumínio que fazia soltar faíscas… e provocar queimaduras.
Número de participantes: 3 181.
Distância percorrida: Cerca de 20 470 km (incluindo o transporte aéreo). Percurso em terra : 4 912 km.
Países por onde passou: Grécia e Austrália, com passagens por Istambul, Basrah, Karachi, Calcutá, Banguecoque, Singapura e Jacarta.
Roma, 1960 – Reencontro com a História
O percurso da tocha foi concebido para fazer passar a chama pelos principais locais históricos de Grécia e Itália, numa homenagem às duas mais importantes civilizações da Antiguidade
Número de participantes: 1 529 (330 na Grécia e 1 199 em Itália).
Distância total: cerca de 1 863 km (transporte barco não incluído) : 330 km na Grécia e 1 533 em Itália.
Países por onde passou: Grécia e Itália.
Tóquio, 1964 – A memória mais dolorosa
A chama foi transportada, no último percurso, pelo jovem Yoshinori Sakai, de 19 anos, nascido em Hiroshima, a 6 de agosto de 1945, precisamente o dia em que foi deflagrada a bomba atómica na sua cidade. Os Jogos foram um exemplo de paz e de concórdia e ajudaram a mudar a imagem do Japão para o exterior.
Número de participantes: 100 603 (cada corredor levava consigo dois de reserva e 20 acompanhantes)
Distância total: 16 240 km fora do Japão e 925 km no Japão.
Países por onde passou: Grécia, Turquia, Líbano, Irão, Paquistão, Índia, Nepal, Birmânia, Tailândia, Malásia, Hong Kong, Taiwan, Okinawa (sob administração dos EUA) e Japão.
México, 1968 – A primeira mulher
Pela primeira vez, uma mulher, Enriqueta Basílio, teve a honra de completar a estafeta da tocha olímpica, que seguiu a mesma rota de Cristóvão Colombo, na sua viagem de descoberta da América.
Número de participantes: 2 778.
Distância total: 13 536 km, incluindo a viagem por barco, e 330 km na Grécia.
Países por onde passou: Grécia, Itália, Espanha, Bahamas e México.
Munique, 1972 – Os cinco continentes
Na cerimónia de abertura, no último percurso da estafeta, o alemão Günther Zahn (Europa) correu acompanhado por representantes dos outro quatro continentes: Kipchoge Keino (África), Jim Ryun (América), Kenji Kimihara (Ásia) e Derek Clayton (Oceânia).
Número de participantes: cerca de 6 200.
Distância total: 5 532 km, incluindo 1 819 km na Grécia e 457 km na República Federal da Alemanha.
Países por onde passou: Grécia, Turquia, Bulgária, Roménia, Jugoslávia, Hungria, Áustria e República Federal da Alemanha.
Montreal, 1976 – Enviada por laser
Para transportar a chama desde a Grécia até ao Canadá, os organizadores dos Jogos pensaram numa solução tecnológica: transformaram o fogo num impulso elétrico que atravessou o Atlântico e que depois se transformou num feixe de laser, com que se reacendeu a tocha. Pela primeira vez, duas pessoas completaram o último percurso: Sandra Henderson, de Toronto, e Stephane Préfontaine, de Montreal, foram escolhidos para simbolizar as comunidades anglófola e francófona do país.
Número de participantes: 500 na Grécia e 261 no Canadá.
Distância total: 775 km, incluindo 514 na Grécia.
Países por onde passou: Grécia e Canadá.
Moscovo, 1980 – Emoção com boicote
Nuns Jogos manchados pelo boicote de 65 nações, lideradas pelos Estados Unidos, a cerimónia de abertura ficou marcada pelo espetáculo dado nas bancadas, com centenas de jovens a empunhar placas que iam formando desenhos, entre os quais o do urso Misha, a mascote olímpica mais famosa de sempre. Foi por cima dessas placas que o basquetebolista Sergei Belov subiu com a tocha para acender a chama olímpica.
Número de participantes: cerca de 5 435, incluindo 3 000 na União Soviética.
Distância total: cerca de 5 000 km, incluindo 1 170 na Grécia e 2 302 na União Soviética.
Países por onde passou: Grécia, Bulgária, Roménia, União Soviética.
Los Angeles, 1984 – Um hino eterno
Para a cerimónia de abertura, John Williams compôs o tema “Olympic Fanfare and Theme” que se tornou, desde então, um dos temas musicais mais reconhecidos do movimento olímpico e que costuma ser usado nas cerimónias de entrega das medalhas. O percurso da tocha, em solo americano, ligou Nova Iorque a Los Angeles. Os dois últimos segmentos da estafeta foram percorridos por Gina Hemphill, neta de Jesse Owens, que teve a honra de entrar no estádio, entregando depois a tocha a Rafer Johnson, o vencedor do decatlo nos Jogos Olímpicos de 1960, em Roma (o seu substituto, se algo corresse mal, era Bruce Jenner agora conhecido como Caitlyn Jenner, desde a mudança de sexo).
Número de participantes: 3 636 nos Estados Unidos.
Distância total: 15 000 km nos Estados Unidos.
Países por onde passou: Grécia, Estados Unidos.
Seoul, 1988 – O regresso do velho herói
A chama fez a sua entrada no estádio empunhado por Kee Chung Sohn, o lendário vencedor da maratona dos Jogos de Berlim, em 1936, mas em que foi obrigado a competir com o nome de Kitei Son e com as cores do Japão, devido ao facto de, nessa época, a Coreia do Sul estar sob domínio nipónico. Depois, ele passou a chama a três jovens que subiram num elevador e, em conjunto, acenderam a pira olímpica – causando algumas “baixas” entre os pombos que, entretanto, ali tinham poisado.
Número de participantes: 380 na Grécia e 1 467 na Coreia do Sul.
Distância total: 358 km na Grécia e 4 168 na Coreia do Sul.
Países por onde passou: Grécia e Coreia do Sul.
Barcelona, 1992 – Como uma flecha
A chama chegou a Espanha, de barco, aportando junto das ruínas de Empúries, uma antiga colónia grega fundada no ano 600 antes de Cristo, na costa da Catalunha. Depois de passar por 652 localidades, incluindo as capitais das 17 regiões autonómas do país, chegou ao Estádio Olímpico, na colina de Montjuic, onde o arqueiro paralímpico Antonio Rebollo a disparou literalmente como uma flecha para a pira. Um momento surpreendente e que ficou na história como um dos melhores das cerimónias de abertura, devido ao risco associado. E se ele tivesse falhado o alvo?, perguntaram-se muitos.
Número de participantes: 9 849, incluindo 365 na Grécia.
Distância total: 367 km na Grécia e 5 940 em Espanha.
Países por onde passou: Gécia e Espanha.
Atlanta, 1996 – Nas mãos de Ali
Nos Jogos do Centenário, a chama fez uma paragem especial no Estádio Panathinaiko, palco dos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna, em 1896, onde representantes das anteriores 17 cidades-sede estiveram presentes. A chama entrou nos EUA por Los Angeles e o primeiro a pegar na tocha foi Rafer Johnson, o homem que acendeu a pira nos Jogos de 1984. A 19 de julho, a tocha entrou no estádio transportada pelo pugilista Evander Holyfield, natural de Atlanta. A grande surpresa da noite foi a aparição, no momento final, de Muhammad Ali, o atleta mais admirado da América (campeão olímpico nos Jogos de Roma, ainda sob o nome de Cassius Clay). A tremer, devido a sofrer de Parkinson, Ali acendeu a pira perante a comoção e o aplauso generalizado dos mais de 100 mil espectadores no estádio.
Número de participantes: cerca de 800 na Grécia e 12 467 nos Estados Unidos.
Distância total: 2 141 na Grécia e 26 875 km nos Estados Unidos.
Países por onde passou: Grécia e Estados Unidos.
Sydney, 2000 – A chama que arde na água
O percurso da tocha para os segundos Jogos Olímpicos realizados no Hemisfério Sul (depois de Melbourne, 1956) foi revolucionário: para além de passar por inumeras ilhas do Pacífico Sul, a chama viajou no vaivém Atlantis e mergulhou na Grande Barreira de Coral. A longa estafeta terminou no Estádio Olímpico de Sydney, nas mãos de Cathy Freeman, atleta de origem aborígene, que acendeu a pira… escondida num lago artificial montado no estádio.
Número de participantes: cerca de 900 na Grécia, 1 500 na Oceânia e 11 000 na Austrália.
Distância total: 1 693 km e 436 milhas marítimas na Grécia, cerca de 17 000 na Oceânia e 27 000 na Austrália.
Países por onde passou: Grécia, Guam, Palau, Micronesia, Ilhas Salomão, Papua Nova Guiné, Samoa Americana, Ilhas Cook,Tonga, Nova Zelândia e Austrália.
Atenas, 2004 – A estafeta global
Pela primeira vez, e para celebrar o regresso dos Olímpicos à sua pátria, foi organizada uma estafeta global, que levou a chama aos cinco continentes e a todas as cidades que tinham organizado os Jogos. A chama chegou, finalmente, ao Estádio Olímpico de Atenas na sexta-feira, 13 de agosto, e o último a transportá-la foi o velejador Nikolaos Kaklamanakis, que correu com a tocha por entre todos os atletas que tinham acabado de completar o desfile, na cerimónia de abertura. Nesse momento, a pira desenhada pelo arquiteto Santiago Calatrava começou a mover-se e desceu até ao relvado, onde foi acesa.
Número de participantes: cerca de 7 700 na Grécia e cerca de 3 600 na estafeta internacional.
Distância total: 6 600 km na Grécia e mais de 78 000 km noutros países.
Países por onde passou: Grécia, Austrália, Japão, Coreia do Sul, China, Índia, Egito, África do Sul, Brasil, México, Canadá, Estados Unidos, Bélgica, Holanda, Suíça, França, Reino Unido, Espanha, Itália, Alemanha, Suécia, Finlândia, Rússia, Ucrânia, Turquia, Bulgária e Chipre.
Pequim, 2008 – Uma data mágica
No caminho para Pequim, a chama foi levada a algumas das maiores Chinatowns do mundo, percorreu a antiga Rota da Seda e foi transportada até ao cume do monte Everest. Na última noite, antes de ser levada para o Estádio Olímpico, a chama ficou na Cidade Proibida, morada dos antigos imperadores. Depois, fez a sua entrada triunfal na mais espectacular e gigantesca cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos que o mundo jamais presenciou, numa data mágica para a simbologia chinesa: 08/08/2008. O último percurso da estafeta coube a Li Ning (ginasta vencedor de seis medalhas nos Jogos de Los Angeles 1984 e dono da maior marca chinesa de equipamento desportivo, com o seu o nome) que foi içado por cabos e deu uma volta ao estádio, suspenso no ar.
Número de participantes: 21 800, incluindo 630 na Grécia.
Distância total: 137 000 km, incluindo 1 528 na Grécia e 97 000 na China.
Cidades por onde passou: Almaty, Istambul, São Petersburgo, Londres, Paris, São Francisco, Buenos Aires, Dar es Salaam, Muscat, Islamabad, Nova Deli, Banguecoque, Kuala Lumpur, Jacarta, Camberra, Nagano, Seoul, Pyongyang, Ho Chi Minh City, Macau.
Londres 2012 – Ode aos jovens
Depois de acesa na Grécia, a chama chegou a solo britânico e o primeiro a transportá-la foi o velejador Ben Ainslie, triplo campeão olímpico, iniciando uma rota que levou o símbolo dos Jogos Olímpicos a quase todos os locais do Reino Unido. Uma grande percentagem dos escolhidos para levar a tocha foram jovens com menos de 18 anos. Na noite da cerimónia de abertura, a chama foi transportada de barco, desde a Torre de Londres atá ao estádio, por David Beckham e Jade Bailey, que depois a passou a Steve Redgrave – cinco vezes campeão olímpico em remo! O percurso final foi, no entanto, cumprido por sete jovens atletas, com idades compreendidas entre os 16 e os 19 anos, simbolizando, assim, a passagem do espírito olímpico para a nova geração.
Número de participantes: 500 na Grécia e 8 000 na Grã-Bretanha.
Distância total: 15 775 km, com 2 900 km na Grécia e 12 875 na Grã-Bretanha.
Países por onde passou: Grécia e Grã-Bretanha.
Rio 2016 – A estafeta vai começar
A chama é acesa dia 21 de abril, em Olímpia, numa cerimónia em que a atriz grega Katerina Lahou interpretará o papel de “alta sacerdotisa”. Depois de acesa, através dos raios solares refletidos e ampliados por uma lente, a chama passará para a tocha, empunhada pelo ginasta grego Eleftherios Petrounias, campeão mundial de argolas, dando inicio à estafeta. No dia 26, uma das portadoras da tocha, na cidade Maratona, será a portuguesa Rosa Mota, campeã olímpica da maratona nos Jogos de 1988. Durante o seu trajeto na Grécia, a chama será também transportada por um refugiado sírio, como forma de chamar a atenção do mundo para o problema dos refugiados. O trajeto grego termina a 27 de abril, com uma cerimónia no estádio Panathinaiko, em Atenas, palco dos Jogos Olímpicos de 1896 – os primeiros da era moderna. Após deixar a Grécia, a tocha será exposta no Museu Olímpico em Lausanne, na Suíça, até 2 de maio, e depois parte para o Brasil, onde, a 3 de maio, se inicia nova estafeta que apenas terminara a 5 de agosto, na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos.