A vida longa da baronesa italiana amiga dos escritores

A vida longa da baronesa italiana amiga dos escritores

Depois de tomar chá e de comer uma fatia de um prosaico panetone, a baronesa Beatrice Monti della Corte von Rezzori, de 96 anos, levanta-se num ápice da poltrona da sua sala de trabalho de pé-direito duplo, forrada de um lado a livros e do outro a quadros, e vai fazer o que o amável assistente, Edoardo, um jovem de 31 anos, não consegue: pôr música a tocar. Aproxima-se da moderna aparelhagem, uma bola branca ligada a uma tomada, e grita-lhe: “Alexa, un po’ di Frank Sinatra, per favore!” A máquina obedece de imediato, provavelmente mais pelo volume do que pela delicadeza do pedido, e todos na sala riem, incluindo a própria, semicerrando os olhos verdes. Duas vezes baronesa, Beatrice poderia ser presunçosa, mas até com as máquinas fala de modo gentil. É uma colecionadora de arte, de livros, mas sobretudo de histórias e de amizades. E está sempre pronta a relembrar mais um episódio da sua convivência com grandes escritores.

Anfitriã. O escritor Rui Couceiro servindo champagne à Baronesa durante a residência literária. O seu nome tinha sido sugerido por Alberto Manguel

Na fundação que dirige desde a morte do marido, em 1998, a antiga e prestigiada galerista já recebeu, para residências literárias (retiros dedicados à escrita), mais de 200 escritores. Situada na Toscana, em Itália, a Santa Maddalena Foundation é, para o jornal espanhol El País, “a mais célebre e peculiar” residência literária. Da peculiaridade falarei mais tarde, da celebridade tratarei já. Nesta propriedade isolada de 37 hectares, à qual cheguei com pena do automóvel que me transportava, e receando que uma roda se desprendesse, tão mau era o acesso, já estiveram vencedores do Prémio Nobel, como Annie Ernaux, distinguida em 2022, e Olga Tokarczuk, em 2018. Mas a lista de escritores reputados (e distinguidos com prémios importantes, como o Pulitzer, o Booker, o Princesa das Astúrias, o Renaudot, o Costa, etc.) que já quiseram escrever em Santa Maddalena é longa: Andrew Sean Greer, Anita e Kiran Desai, Bruce Chatwin, Colm Tóibín, Emmanuel Carrère, Michael Ondaatje, Teju Cole, entre muitos outros. John Banville (vencedor do Booker), Michael Cunningham (vencedor do Pulitzer), ou Zadie Smith (autora multipremiada) vêm todos os anos, por vezes duas ou três vezes. Mas o que os leva a gostarem tanto deste lugar? A resposta evidente é que, em Santa Maddalena, encontram um refúgio, um lugar onde não são incomodados enquanto escrevem, uma harmonia absoluta entre espaço, tempo e silêncio. A menos evidente, e que explica o facto de esta residência ser tão apetecível, vou procurá-la na minha própria experiência. Também eu vim para escrever. O convite chegou, por email, de forma inesperada. Vinha assinado pela própria baronesa, que, para além de consagrados, gosta de convidar jovens escritores. O meu nome, descobri depois, tinha-lhe sido sugerido por Alberto Manguel.

Estranhos hábitos numa torre medieval

Cheguei com curiosidade e noventa páginas de um segundo romance. E o que fiz, desde que lá cheguei, até ao momento em que escrevo este texto, três semanas depois, na véspera de partir? Aproveitei o facto de só ter chovido num dos dias, para passear pelas paisagens verdejantes da Toscana? Visitei a cidade de Florença? Não. Fiz aquilo que nunca posso fazer: escrever sem outras obrigações, nem interrupções. Escrevi de manhã, de tarde e por vezes à noite, enquanto uma sedutora amoreira se despia para mim. Pela janela do ateliê que me permitiram escolher, vi caírem, ao longo da primeira semana, todas as folhas amarelas dessa árvore, que se debruça sobre um penhasco, para espreitar um grande lago. Fora isso, lia e conversava com Beatrice, com a amiga Naila, artista romena nascida no Sudão, um poço de vida que se divide entre a Toscana, a Roménia, a Grécia e Amesterdão, e com a ótima cozinheira, Rasika, natural do Sri Lanka, que tem Silva como apelido. À primeira refeição, a baronesa explicou-me que, naquela casa, se bebia sempre vinho; à segunda, vendo que eu gostava de lhe encher o copo, considerou curial que fosse sempre eu a tratar da bebida; ao terceiro, acrescentou-lhe a lareira; e assim se foi compondo uma harmonia que depressa me fez sentir em casa.

Em Santa Maddalena, há nove quartos disponíveis para os escritores e vários ateliês. Por ser o único autor nesta altura, pude escolher sem restrições e optei pelo ateliê do marido de Beatrice, num antigo celeiro. Não tinha um original de Miró a olhar para mim, como noutro que visitei, mas possuía a dimensão certa, uma mesa grande sobre o soalho largo e alaranjado, a luz apropriada – oferecida por grandes janelas e um candeeiro que pende de um telhado com o travejamento de madeira à vista –, um sofá para ler, um quarto de banho à mão e aquecimento. Ao cabo de várias horas na mesma posição, em pleno inverno, não é difícil enregelar, por isso só pedi um aquecedor extra e também um monitor, para ligar ao computador portátil, de modo a poupar a cervical, excentricidades minúsculas, se comparadas com as de outros autores – e alguns dos que frequentam Santa Maddalena têm manias estranhas. John Banville quer sempre escrever num quarto quadrado, com uma mesa quadrada no centro. Zadie Smith, que, quando esteve pela primeira vez na fundação, tinha medo de cães, agora só escreve se tiver um no espaço em que trabalha.

A torre onde ficam os quartos e os ateliês que não o meu é parte de uma antiga linha defensiva contemporânea de Dante e Petrarca. Escritores como Bruce Chatwin passaram aí invernos inteiros. Bernardo Bertolucci também não a dispensava. Hoje, já tem internet, mas durante muitos anos era um lugar completamente isolado, onde nem os telemóveis funcionavam. Certa vez, a empregada foi lá chamar Chatwin para jantar, mas voltou pouco depois informando os barões de que o sr. Chatwin tinha convidados, umas quatro ou cinco pessoas, cujas vozes ouvira distintamente. Homem prático, o barão decidiu cozinhar mais esparguete. Minutos depois, Bruce Chatwin chegou sozinho para jantar e, à volta de uma enormíssima taça a transbordar de massa serpenteante, tudo ficou esclarecido, entre gargalhadas: Chatwin tinha estado a ler em voz alta aquilo que escrevera e tinha o hábito de o fazer imitando as vozes das personagens.

A atração pela excentricidade

Tal como a dos convidados de Chatwin, outras histórias de Santa Maddalena ganharam a dimensão de mitos e são contadas por todos os funcionários e até pelos amigos de Beatrice, mas muitas estão registadas em fotografias (a baronesa tem dezenas de álbuns enormes e bem organizados), como a da festa em que um dos convidados, cuja identidade não revelarei, anunciou que iria ser ele a preparar o jantar. Contumaz, apossou-se da cozinha, com uma caixa debaixo do braço, e confecionou todos os pratos com “ingredientes especiais”, informou. Beatrice achou tudo aquilo demasiado estranho e recolheu-se, mas a festa foi de arromba. Só no dia seguinte, entre despojos vários, gente a dormir na piscina e no jardim, se percebeu o que continha, afinal, a caixa mágica do cozinheiro. E, se me permitem, eu imagino o menu: pasta com molho de LSD, carne assada com cogumelos alucinógenos e bolo de chocolate com canábis. Quem lá esteve solta gargalhadas e diz-me que não erro por muito.

Beatrice com a Nobel Annie Ernaux, com o marido Grisha e com Isabella Rossellini e Colm Tóibín

Beatrice não esconde que se sente atraída por gente excêntrica. Foi muito amiga de Henri Michaux, que para além de escrever também pintava, e Salvador Dalí esteve no casamento dela. Mas, talvez por ter crescido em Capri, onde conheceu e privou com figuras como Alberto Moravia, Elsa Morante, Norman Douglas, ou Graham Greene, de entre todos os tipos de excêntricos, prefere os escritores. E eles parecem preferi-la a ela também.

Estranhas pulsões

O que leva alguém a escolher a solidão, a querer apartar-se da família, dos amigos, dos prazeres imediatos e até do ócio, fechando-se horas a fio, dia após dia, mês após mês, por vezes durante toda a vida, para escrever? Que estranha pulsão move os escritores? A necessidade de expulsar o que em demasia se absorve ou sente? A ambição e o sonho da glória? A obrigação de dar uso a um talento? Ou outras insondáveis necessidades? Fiz estas e outras perguntas a Beatrice, que considera que “o que cada escritor quer, mais do que sucesso e vendas, é ter a certeza de que é bom”, ou, em muitos casos, “de que é melhor do que alguém em concreto”. Conversámos longamente sobre este assunto e falámos da minha experiência enquanto pessoa que decidiu escrever e publicar, mas também como editor, como alguém que há vários anos lida com escritores. A curiosidade da baronesa é imensa. Faz muitas perguntas, mas não esconde as convicções, como quando afirma que todos os escritores são narcisistas e que, para eles, “a escrita é sempre mais importante do que as mulheres, ou os maridos”.

Todos os dias, Beatrice me perguntava como correra o trabalho. Queria saber o título, o enredo e vários pormenores. Entendeu todos os meus estados de espírito, da euforia ao desânimo, aceitou as minhas urgências de regressar ao computador, ou as notas tiradas durante as refeições, quando uma ideia surgia, e deu-me bons conselhos. Presenteei-a com um bacalhau assado (na verdade, foi uma omeleta, admito, mas ela gostou muito e não precisei de incluir ingredientes mágicos) e com leite-creme queimado (com uma grande colher de prata, mas este pormenor ela desconhece, porque depois lavei-a bem e areei-a).

A alma de Santa Maddalena

É evidente que o charme do lugar tem larga influência na atratividade de Santa Maddalena, uma enorme floresta no meio da qual se erguem construções milenares e completamente isoladas, sedutoras pela antiguidade e pela beleza de uma decadência cuidada, feita de paredes toscas, madeiras antigas, a que se soma a decoração escolhida a dedo, em antiquários, e complementada por contrastantes peças de arte moderna. Beatrice e Grisha encontraram a casa poucos anos após Calvino, de quem foram próximos, ter lançado o livro A Especulação Imobiliária. Era uma época em que se fugia das propriedades agrícolas como da peste, ambicionando a cidade e as suas promessas de vida próspera. Um amigo tinha sido pioneiro do agroturismo, ao comprar e recuperar a casa ao lado da que vieram a adquirir, e que hoje pertence a Sting, e eles aceitaram ir ver outras que ele identificara. Corria o ano de 1967 e Beatrice e Grisha, diminutivo com o qual se refere ao marido, o escritor austro-húngaro-romeno Gregor von Rezzori, tinham casado pouco antes. Gostaram ambos da segunda que visitaram e consideraram que não valeria a pena procurar mais. Mas Grisha apaixonou-se de tal modo, que Beatrice depressa percebeu que, para não ver o marido apenas aos fins de semana, teria de vender a galeria, em Milão, que estava no auge. Decidiu fazê-lo e nunca se arrependeu.

O bom fantasma de Santa Maddalena

No primeiro Natal passado em Santa Maddalena, Beatrice chegou de uma viagem e viu que o marido, com a ajuda de dois amigos, tinha deitado abaixo a parede da cozinha. Explicou-lhe que não queria cozinhar sozinho. E, assim, nascia o espírito de uma casa, em que cozinha, sala de jantar e sala de estar estão ligadas, uma casa pensada para o convívio e que começou desde logo a receber amigos, para tertúlias, fins de semana e jornadas maiores. Um deles, colega de infância de Grisha, chegou com duas pequenas malas e ficou dois anos.

Imagem da biblioteca da casa, com milhares de livros

Quando o marido morreu, e não tendo filhos nem irmãos, a baronesa enganou a solidão inventando uma nova vida, mas mantendo o princípio: transformou a casa numa residência literária e deu início a um tempo marcado pela amizade de e com dezenas e dezenas de escritores. Soube enviuvar substituindo o amor de Grisha pela amizade dos escritores, que arranjam todas as desculpas para ficar em Santa Maddalena, ou para regressar logo que possível, e dedicando-se ainda mais aos cães. É fanática por pugs, os animais de companhia dos imperadores chineses. Sempre que viaja de avião, leva uma declaração do psiquiatra a dizer que não se pode afastar da cadela, sendo assim autorizada a transportá-la ao colo. Mas o que parece ardiloso é verdadeiro, dado que Beatrice é completamente dependente de Miss Rosine. Já teve 20 outros pugs, e essa paixão levou a que o estilista Valentino, “que andava sempre rodeado por cinco homens lindíssimos, cinco apolos”, quisesse ser seu amigo, por partilhar da mesma obsessão. Santa Maddalena é, de resto, frequentada por figuras como Isabella Rossellini, a sua melhor amiga, e por muitas outras personalidades das mais variadas áreas da cultura. Têm é de ser bons conversadores. Beatrice divide as pessoas entre aborrecidas e divertidas, e diz que ser aborrecido “é uma maldição”.

Mas quem está sempre presente naquela casa é a pessoa que primeiro a sonhou, um homem alto e carismático, desaparecido há 25 anos, o barão Gregor von Rezzori. Dito assim, parece que estamos a evocar um fantasma, mas Grisha não só está presente a todo o momento nos retratos que atestam a sua boa figura, ou em pormenores como as duas banheiras no meio do enorme quarto de banho da suíte que partilhavam, como comparece em todas as conversas. Não há nenhuma em que Beatrice não evoque o nome dele. Refere-se a ele como “lindo”, “encantador”, “génio”, “charmoso”, “irresistível”, “capaz de escrever em sete línguas e de seduzir em mais”.

Certo dia, levou-me a caminhar pelo jardim, para ver uma pirâmide feita em ferro, com exatamente 1,88 m de altura, adiantou. Depois, sentámo-nos num banco de pedra, que fica defronte, e mostrou-me uma fotografia que levava no bolso. Nela, via-se o marido a apontar para o preciso local em que hoje está a pirâmide. “Foi aqui que ele quis que eu enterrasse as cinzas dele”, disse de seguida. Vai daí, mandou um escultor fazer a pirâmide, uma espécie de mausoléu artístico com a altura exata de Grisha, que protege as cinzas do homem que ama.

A linguagem revela o espírito

Está bom de ver que não é possível escrever sobre Santa Maddalena sem dedicar grande parte do texto à baronesa. Também não seria difícil convertê-la em personagem de romance, tanto mais que a linguagem revela o espírito e a palavra que esta mais usa, quando conversamos em inglês, é “amusing”, que significa divertido. Tem um sorriso fácil, que a morte da mãe aos seis anos felizmente não lhe roubou, um sorriso de quem gosta de se divertir e de quem sabe ter tido uma vida rica de experiências. Até à pandemia, passava parte do ano em Nova Iorque, mas o lugar onde mais gostou de morar, ainda mais do que em Santa Maddalena, foi na cidade de Lindos, na ilha de Rodes, na Grécia. Foi nessa casa, que descreve como a mais encantadora que já viu, que Grisha assinalou os seus 80 anos, durante uma semana, com 80 amigos mais um: a mulher.

Quando o marido morreu, a baronesa enganou a solidão inventando uma nova vida: transformou a casa numa residência literária e deu início a um tempo marcado pela amizade de e com dezenas e dezenas de escritores

Em mais do que um artigo a vi apresentada como “a última grande mecenas”. O já referido texto do El País, que aponta a peculiaridade de Santa Maddalena, explica que “o único critério de seleção” dos escritores convidados é o “próprio instinto” de Beatrice. Ao cabo de três semanas a morar com a baronesa, eu diria que foi a solidão dela que fez de Santa Maddalena um lugar inefável.

A solidão da baronesa

Natural de Brescia, filha de pai italiano e de mãe arménia, de uma das famílias mais poderosas do Médio Oriente, Beatrice cresceu “com uma grande dor e solidão” dentro dela. A mãe morreu de tifo quando tinha 25 anos e Beatrice apenas 6. Sem saber lidar com a morte da mulher, o pai desapareceu para África. “Era um sonhador”, diz Beatrice, desculpando-o. Quem a criou foi um avô, muito conservador, que a obrigava a vestir-se apropriadamente para jantar. Sentavam-se a uma mesa enorme, cada um numa ponta. Uns anos mais tarde, o pai voltou a Itália, para integrar o exército e combater na guerra, contra a Abissínia. Acabou prisioneiro, durante cinco anos, dormindo no chão. Quando o libertaram, com menos trinta quilos, Beatrice tinha crescido e o pai não a reconheceu. A baronesa guarda estas mágoas, mas fala dele com carinho: “Ele não era apenas o meu pai, era o meu sonho.” E, olhando-me nos olhos, pergunta-me como teria sido a vida dela, caso a mãe não tivesse morrido tão cedo.

“Viver tanto tempo”, explica-me, “tem uma desvantagem: a de se ver morrer as pessoas antes de nós.” Uma das que mais lhe custou ver partir foi, sem dúvida, Bruce Chatwin, que gostava a tal ponto dela e de Santa Maddalena que, durante dois anos, planeou comprar a casa ao lado – já tinha projeto e tudo. Até que, um dia, em frente da casa sonhada, informou Beatrice de que afinal não a iria comprar, pois não era uma casa boa para a mulher viver sozinha. Foi assim que informou a amiga de que estava doente; morreu pouco tempo depois.

O segredo de uma vida longa

Pergunto-lhe como se lida com o desaparecimento dos amigos. “Fazendo novos amigos”, responde. É este o truque da baronesa Beatrice Monti della Corte von Rezzori, nascida em 1926. Depois, diz que quer apresentar-me a uma pessoa, o seu médico, o dr. Tonino. Embora não tivesse mais de um metro e sessenta, o aperto de mão era o de um gigante. Entabulámos conversa. No seu rosto bem esculpido, com barba e cabelo feitos à navalha, uma boca austera oferecia um inglês animado. Vestia um blazer bonito e elegante. A dado momento, discretamente, chega-se a mim e explica-me que ser pequeno tem vantagens e dá como exemplo as várias ocasiões em que dançou com o rosto entre os seios de senhoras. Para além de espirituoso, o dr. Tonino revelou-se um cavalheiro encantador, homem cultíssimo. Tivemos uma muito agradável conversa sobre Antonio Tabucchi, de quem foi amigo, sobre Fernando Pessoa e até sobre a tradição académica coimbrã. Mas a grande surpresa veio já depois de ele regressar a casa. Beatrice mostrou-me o álbum de fotografias do aniversário de Grisha, na Grécia, em 1994, e a páginas tantas identifiquei um indivíduo que perguntei se seria o pai do dr. Tonino, por ser exatamente igual ao homem que eu conhecera ao almoço. “No, no, questo è il dottore in persona”, ou seja, aquele era o próprio dr. Tonino, mas quase 30 anos antes. Eu não podia crer. Não se lhe notava qualquer mudança. A foto parecia ter sido tirada no dia anterior. Mais extraordinário ainda foi saber que o dr. Tonino, que faz caminhadas, nada, joga golfe e ainda namora uma senhora 20 anos mais nova, tem 94 anos. Talvez este jovem médico partilhe com Beatrice segredos para uma vida longa, aos quais se juntarão, por certo, a obrigatória boa genética, cuidados com a saúde e, a meu ver, a solidão, que ela soube evitar rodeando-se de escritores e que tem sido, digamos assim, o motor da vida longa da baronesa.

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