As creches estão a preparar a reabertura a 18 de maio, ainda sem conhecerem na totalidade as recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS) em matéria de higiene e segurança para estes espaços. Há, no entanto, algumas certezas. O uso de máscaras por educadores e auxiliares será obrigatório, os espaços deverão ser arejados através da abertura de portas e janelas e as “aulas” ao ar livre privilegiadas, a limpeza e desinfeção terão de ser reforçadas e o distanciamento físico entre crianças conseguido através de medidas como a redução do número de alunos por “turma” ou a orientação das mesas de trabalho no mesmo sentido.
Contudo, a reabertura das creches, que acolhem crianças até aos 3 anos, só acontecerá a 18 de maio se os seus responsáveis assim o entenderem, já que o momento de receber os mais pequenos poderá ser adiado por duas semanas, até 1 de junho, a data prevista no plano do Governo para o arranque dos jardins de infância, do ensino pré-escolar e dos ATL. Essa poderá ser a opção de alguns estabelecimentos caso a DGS venha a atrasar ainda mais a divulgação das suas orientações.
Nas creches, estão a ser feitas as contas ao aumento de custos com a formação e equipamento de proteção individual dos educadores e dos auxiliares, que terão de sair do lay-off para voltar ao ativo, assim como com a desinfeção e limpeza dos espaços. Ao mesmo tempo que os encargos sobem, o número de crianças tende a encolher, já que alguns pais receiam que os filhos adoeçam no regresso à creche, infetando o resto da família. Como os apoios do Estado se vão manter até final do mês de maio, poderão optar por manter os mais novos em casa por mais algum tempo.
Numa sessão de trabalho na sexta-feira, 8, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, admitiu dificuldades na reabertura das creches, explicando que a quase ausência de sintomas nas crianças aumenta o risco de transmissão a adultos e idosos. Contudo, num documento de trabalho partilhado com a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), podem ler-se algumas orientações discutidas nessa reunião, que deverão ser publicadas pela DGS nos próximos dias:
- Uso de máscara cirúrgica pelos educadores e auxiliares. Nas crianças, só é permitida a partir dos 6 anos. Antes dessa idade, não sabem manusear uma máscara e correm o risco de sufocar
- Reforço na higienização de todos os espaços, incluindo limpeza e desinfeção de mesas e cadeiras entre turnos e nas salas de refeitório
- Distanciamento entre crianças, no recreio e zonas de refeição
- Berços e camas utilizados sempre pela mesma criança e colocados a uma distância mínima de 2 metros entre si
- Divisão fixa das crianças por “turmas” mais pequenas
- Mesas de trabalho orientadas no mesmo sentido (por exemplo, voltadas para a frente e não em “U”, como é habitual)
- Brinquedos e material didático não devem ser partilhados. Os brinquedos pessoais ficam em casa
- Arejamento dos espaços através da abertura de portas e janelas. O sistema de ar condicionado não deve ser usado
- Os pais ficam à porta das creches e as crianças devem mudar o calçado à entrada
- No transporte das crianças em viaturas das creches, ou de empresas de serviços, vigoram as mesmas regras dos transportes públicos
Confrontados com estas orientações, psicólogos e educadores têm alertado para as dificuldades de evitar que as crianças mais pequenas mexam ou puxem as máscaras dos profissionais com quem estarão em contacto – e que são as mesmas pessoas com quem lidavam de cara descoberta, antes da pandemia de Covid-19. Por outro lado, a permanência prolongada em casa, nos últimos dois meses, pode tornar mais complicado o regresso às creches, onde os funcionários terão de tentar restringir o contacto físico e a proximidade entre as crianças, correndo mesmo o risco de prejudicar a aprendizagem, a socialização e o desenvolvimento da afetividade nos mais pequenos.
Antes da reabertura das creches, cerca de 29 mil funcionários de mais de 2400 estabelecimentos vão ser testados à Covid-19, no âmbito de um programa nacional de rastreio já em curso, semelhante ao que tem estado a ser aplicado nos lares de terceira idade. Em Portugal, estima-se que cerca de 100 mil crianças com menos de 3 anos estejam inscritas em creches.