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Recordam-se, há alguns anos, de um personagem humorístico que pagodeava os tiques societários em que uma “múmia paralítica” tinha a função de censura. Esse mesmo personagem, interpretado pelo comediante brasileiro Agildo Ribeiro, tinha uma expressão que me veio imediatamente à memória quando pensei em escrever o que se segue: “posso ssclarecê!”
20 anos da minha existência foram passados num clima político apelidado de “fascista”. Neles, cumpri com o meu dever profissional de estudante. Sim, porque se à época o ensino proporcionado pelo estado não era pago, cada ano de insucesso era um custo acrescido para as contas públicas.
Terminados os estudos e já numa nova era, foi altura de aplicar a informação recebida e tentar repercuti-la da melhor maneira possível no mundo de outras actividades laborais. Em 2014 cumprir-se-á o dobro do período vivido em regime da afirmada, mas não confirmada “democracia”.
Vamos então ao que interessa! Quer na escola primária quer no liceu os níveis de exigência e rigor eram reais. Em ambos os casos, objectivos e compromissos eram definidos programaticamente e os docentes moldavam-nos à sua forma de ensinar. Nos primeiros 4 anos, decorar para aprender e penalizar os erros era intervalado com os recreios e com os famosos TPC.
A partir daqui e já no temeroso Liceu Camões, o número de disciplinas aumentou e a diversidade de competências alargou horizontes. Tive o privilégio de aprender a escrever e a saber falar a língua pátria. Conheci e privei com alguns daqueles que hoje são dignos representantes de organismos nacionais e internacionais. Ao reprovar 1 ano a minha taxa de insucesso escolar foi de 0.077! Ou seja, admito que é esta a percentagem de incompetência que, na fase mais prematura da vida, devo assumir. Para os mais novos relembro que para dispensar dos exames ou das provas orais, após a realização dos exames escritos, a média exigida era de 14 valores.
Por tudo isto e algo mais que, de momento, se torna despiciendo, quantas vezes me tenho questionado: podem-me ssclarecê, aqueles que comigo partilharam este tipo de ensino, se o que vos foi ensinado foi tão diferente da apreensão que à época fiz? Qual o significado da “palavra de honra”, das consequências de “mentir”, da importância de assumir a “responsabilidade dos próprios actos”? A obtenção de bons resultados só interessa quando tal nos é imposto ou se é policiado? Devemos comportar-nos em função das exigências externas ou de acordo com a nossa consciência? Quando no percurso pessoal usufruímos de benefícios que a maioria não dispõe, deveremos somente ter em atenção as regalias que daí derivam sem que as consequências dos nossos actos nos afectem bem como a terceiros?
Pós 25 de Abril e já a estudar e a trabalhar, fui confrontado com a nova realidade do mundo laboral. Depois de algumas experiências iniciais, ingressei numa multinacional. Os preceitos vigentes e o paradigma institucional acentuaram e confirmaram os princípios e os valores aprendidos e interiorizados como benéficos.
Porquê? Muito simplesmente através da observação e constatação dos resultados obtidos. Esses mesmos tiveram repercussão numa carreira profissional que já conta com 31 anos de colaboração com a actividade privada e 34 de descontos enquanto empregado por conta de outrem. Mais ou menos a meio desta caminhada, tive a experiência de trabalhar num organismo público. Foram 2 anos e meio que não quis repetir. As razões não virão agora a propósito, mas somente é importante vincar que era objectivo pessoal consolidar uma carreira profissional que consubstanciasse repercussões de empenho, dedicação e motivação profissionais e pessoais. Aliás, desta forma também contribuiria com mais fundos para o tão necessitado erário público através do pagamento de impostos. Foi o que veio a acontecer. Do meu esforço e trabalho o próprio estado, sem nada fazer, foi beneficiando e, sabe-se agora, esbanjando.
Ao longo desta linha temporal e antes do surgimento do euro, vários artifícios permitiram e viabilizaram que, às elevadas taxas de inflação correspondessem significativos aumentos salariais e fossem praticadas altas taxas de juro.
Na suposição que os pressupostos macro económicos que sustentaram a actuação dos governantes políticos à data do saudoso escudo são ainda válidos e foram adequados: podem-me ssclarecê se o objectivo de várias desvalorizações monetárias era tornar a economia competitiva? Tal realidade o que reflectia de “verdade financeira”? A quem serviram tais prodígios de magia? É possível a uma moeda fraca corresponder uma economia forte? São os cidadãos responsáveis pelas medidas tomadas? Era exigível que o normal e vulgar português soubesse analisar e apreciar os impactos que tais “espertezas” teriam a médio e a longo prazo na economia nacional?
Eis senão quando surgiu o sempre desejado e apetecível desafio europeu. A utilização do euro! Finalmente estávamos integrados numa comunidade internacional. Tal como um pobre estende a mão, aí estávamos nós sofregamente à espera dos famigerados fundos europeus. Como sopa no mel! Mais uma oportunidade para aplicar o chico espertismo nacional.
A uma economia pujante e a uma divisa que já havia superado a paridade com a sua concorrência (dólar), que melhor cenário para contrair os mais variados empréstimos para os mais diversos fins! Habitação, mobília, carro, férias, aparelhagens, electrodomésticos. O que se quisesse! As taxas de juro e os ponderadores de risco bancário (spreads) estavam a níveis nunca antes vistos. Há que aproveitar antes que haja racionamento!
Já lá vão quase 5 anos que os primeiros indícios da crise apareceram. Como em qualquer problema somente conheceremos a sua real dimensão depois de conhecida a panaceia para a sua resolução definitiva. As inverdades mantiveram-se, as agências de rating foram demonizadas, as desculpas esfarrapadas continuaram, os desvios não auditados e as responsabilidades desvirtuadas. Eis-nos perante o abismo! Como se a solução de algo que não corre bem passasse por prolongar a busca da resolução ou meter a cabeça debaixo da areia. No fim de contas o cidadão mais não fez do que utilizar os produtos financeiros que foram dispostos e disponibilizados na “mesa económica”. Assim podem-me ssclarecê se os bancos usufruíram, ao longo de muitos anos, dos chorudos resultados das operações que cativaram por que motivo não se responsabilizam pela incorrecta aferição dos riscos em que incorreram? Que tipo de análises é que eram realizadas que não previam mudanças de paradigma? Se tal catástrofe não era previsível, o que é previsível, que a sociedade se remeta constante e sistematicamente aos ditames do mundo financeiro e se sujeite às suas imperiosas regras como se nada mais exista? Chegados ao estado que é conhecido, é este fruto de decisões de bons e competentes gestores? Quantas previsões e projecções coincidiram com a realidade? Que motivos sustentam a negação dos factos? Por que razão temos muitos de responder pelos exageros de uns quantos?
Todo este cenário e contexto são fruto e reflexo de uma atitude de confiança de uma significativa maioria para com uma minoria. É lógico! No fim de contas onde vamos se não confiarmos? Talvez valha a pena reflectir que a génese deste valor, tão em vias de extinção, está na palavra dada, na verdade absoluta (latim: fides). Paralela e simultaneamente, como de uma obra do acaso se tratasse, a eleição dos mais variados governantes, quais gestores, se sustentou em níveis de exigência pouco claros e transparentes. Mais uma vez, a acreditação de quem se propõe foi ratificada por uma maioria em favor de uma minoria. Era lícito desconfiar de quem se apregoava e apregoa defensor da pátria? Como o expectável se transformou em inexpectável, há que responsabilizar outros que não os próprios, ou seja, as situações aconteceram não se sabe bem como e quem é que participou! Nesta sequência podem-me ssclarecê a quem serve a minha honestidade de cumpridor e zeloso cidadão português? Por que hei-de aceitar que alguém que não conheço a não ser de ver na televisão, se intrometa e decida unilateralmente que hei-de pagar com a minha remuneração os despropósitos alheios? A quem serve a minha dignidade, empenho e dedicação profissional e pessoal? Se ao longo de 57 anos de vida pugnei por proporcionar melhores e mais meios aos meus, porquê admitir ser vilipendiado nos meus objectivos? Se não contrai empréstimos por opção própria, porque tenho de assumir os desaforos de quem devia e deve dar o exemplo?
Podem-me ssclarecê que regime é este?