Um estudo publicado esta semana, no jornal científico americano Cell, sugere que as rotinas de treino utilizadas por astronautas antes, durante e depois de viagens espaciais, podem ser aplicadas a doentes oncológicos como forma de reduzir o impacto a longo prazo dos tratamentos. Os investigadores concluíram que os astronautas durante as missões espaciais, que duram em média 6 meses, experimentam os mesmos danos físicos e psicológicos que um paciente com cancro durante os tratamentos de quimioterapia, imunoterapia e terapias alvo.
Em 1961, o astronauta americano Alan Shepard era o segundo ser humano a viajar para o espaço, e desde aí, a NASA tem vindo a desenvolver um detalhado regime de treino para que a saúde dos astronautas se mantenha estável. Os astronautas têm de passar por um rigoroso treino na preparação para voos espaciais, incluindo rotinas intensas de exercícios para manter a forma física e evitar os efeitos nocivos relacionados com o efeito de gravidade zero e isolamento.
Durante décadas, cientistas e investigadores desenvolveram medidas para ajudar os astronautas a lidar com os efeitos de viver em órbita. Esses efeitos incluem diminuição da massa muscular, da densidade óssea e do volume sanguíneo, efeitos relacionados com o contacto com a radiação cósmica e ainda aquilo que os astronautas chamam “brain fog” (se quisermos traduzir, “cérebro enevoado”) uma condição que provoca falta de concentração e memória. Geralmente todos estes efeitos afetam os pacientes durante e após os tratamentos, mas, no que respeita ao exercício físico, os conselhos médicos são, geralmente, muito diferentes daqueles dados aos astronautas – que descansem e façam exercício apenas com autorização médica.
Jessica Scott, investigadora no Memorial Sloan Kettering Cancer Center e uma das autoras do estudo, alerta para o facto de muitos doentes morrerem devido aos efeitos colaterais dos tratamentos e não apenas por causa do tumor. “Já começámos a implementar elementos do programa de treino da NASA em alguns dos nossos ensaios clínicos em pacientes com cancro”, adianta. “Por exemplo, estamos a usar certas avaliações idênticas às usadas em astronautas.” “Hábitos simples de exercício, como usar uma passadeira de corrida, podem fazer uma grande diferença para pessoas com cancro.”