Inesperadamente, demos uma volta ao mundo, à boleia das histórias de vida de Teresa Lopes, ex-hospedeira de mar, e de Alexandre Gasparinho, antigo mergulhador profissional em profundidade. Teresa e Alexandre não se conhecem – mas se outrora o mar por acaso os juntou, agora quem os une é uma andaluza de olhar vivo, Elena Durán. Traduzindo: ambos são hoje dois dos mais de 60 prestadores de serviços do Projeto 55+, que Elena fundou em Lisboa, em outubro.
Vale a pena ficar um pouco no percurso de vida de Elena, para que o passado explique o presente. Há dez anos, quando chegou a Lisboa, Elena manteve uma preocupação em Jaén, pequena cidade andaluza onde nasceu e cresceu. O pai, então com 60 anos, reformara-se de diretor escolar. “Era uma profissão que o envolvia de tal maneira que eu e o meu irmão receámos que a reforma lhe fizesse mal”, conta. No entanto, o ex-responsável por uma escola básica iria surpreender os filhos. O pai especializou-se em grandes caminhadas (ou “trekking”) por trilhos rurais.
Foi este o clique que fez com que a andaluza, 35 anos, deixasse o conforto de um bom lugar nos quadros da filial portuguesa de uma multinacional e se dedicasse a tempo inteiro à concretização de um projeto a que chamou “55+”. Em resumo, pretende ser uma resposta à falta de soluções no País para retirar da “inatividade” e do “isolamento” pessoas daquelas faixas etárias. “Somos para elas uma plataforma intermediária, se têm vontade de estar mais ativas e integradas socialmente e nos apresentam uma especialidade profissional”, diz Elena. Pelo endereço https://55mais.pt, são contratados os diversos serviços disponibilizados, a preços competitivos (ver caixa). Da mesma forma, inscrevem-se os candidatos a prestadores de serviços, que têm de fazer um “exame de validação”. Na sua especialidade, são testados com “pessoas de confiança” da plataforma, as quais dão conta do resultado. Até agora, só foram chumbados os que começaram logo por faltar ao “exame”.
Elena está animada. No “top 3” das contratações, encontram-se a comida ao domicílio, as pequenas reparações e a jardinagem. E, diz a fundadora da plataforma (apoiada pela câmara da capital, a Misericórdia de Lisboa e a Fundação Aga Khan), os prestadores têm conseguido ganhar uma média de 200 euros mensais, explicando ainda que os preços da 55+ incluem uma taxa de 20% para “custos operacionais” do projeto. “O que aqui oferecemos não é um emprego”, sublinha Elena. “É uma ocupação que propicia um complemento financeiro. Mas o que sobretudo pretendemos é ativar, integrar e valorizar estas pessoas.”
SENHORA & CAVALHEIRO
Dir-se-ia que Teresa Lopes se valoriza no primeiro minuto de contacto. Aquela senhora bonita e desenvolta surpreende-nos logo ao dizer a idade que tem: 71 anos. Ninguém lhos dá – mesmo. Encontrámos esta lisboeta a um sábado, num 2º andar de um prédio da Baixa da capital. Tinha acabado de cozinhar um bacalhau com natas (acompanhado de um bom vinho branco alentejano, com queijos como entrada e baba de camelo à sobremesa) para o jantar de um grupo de cinco brasileiros, quatro raparigas e um rapaz, jovens quadros de uma multinacional consultora de design. “Gente, olhem só o cheirinho”, dizia uma das raparigas antes de se sentar à mesa.
Teresa Lopes é quem é pela mundividência que tem. Após completar o antigo 7º ano, foi para Londres trabalhar numa agência de viagens. Depois regressou, casou-se e teve um filho. De seguida, voou para Oslo, onde se tornou hospedeira de mar de uma empresa norueguesa de cruzeiros. Aí trabalhou três décadas. Saiu há dois anos, por vontade própria. “Pareceu-me que eles queriam que eu ficasse até aos 100 anos”, graceja. E o casamento resistiu à distância. Mas Teresa não consegue parar. “Deprimo”, diz. Presta serviços pela 55+ para estar ocupada e pelo rendimento extra, que confessa dar-lhe jeito.
Dois dias após estarmos com Teresa, encontrámo-nos em Sintra com Alexandre Gasparinho, 68 anos. Está ali para cortar pernadas de uma buganvília que cobre a varanda da casa de fim de semana de Guida Costa, 47 anos. Alexandre e Guida falam como se se conhecessem desde sempre. Mas só uns dias antes se encontraram pela primeira vez: a consultora de Recursos Humanos precisava que, no apartamento onde vive, no Estoril, alguém colocasse dois varões para cortinados e pendurasse um televisor numa parede. Descobriu a 55+ nas redes sociais, contratou o serviço e Alexandre fê-lo. “E ainda me arranjou uma tampa de esgoto”, acrescenta, a rir-se. Diz que juntou o “útil ao agradável” – com Alexandre teve “conversas interessantes”.
Calhou-lhe alguém igualmente cheio de mundo. Após uma juventude difícil, Alexandre tornou-se mergulhador profissional em profundidade. Ao serviço de uma multinacional francesa, imergia até aos 200 metros para reparações subaquáticas de válvulas e tubos de plataformas petrolíferas, da Gronelândia a todo o Mediterrâneo. Ao fim de dez anos, um médico passou-lhe um atestado de incapacidade. “É uma profissão que dá cabo dos ossos e não só”, explica. Podia ter-se reformado aos 36 anos – mas recusou a benesse. Emigrou e, regressado a Portugal, fez-se jardineiro e até teve uma pequena empresa da especialidade. Vê-se que sabe da poda a manejar o corta-sebes como se tivesse uma simples vassoura nas mãos.
O 55+ já reúne para cima de 250 inscrições de candidatos a prestadores de serviços em todo o País. Elena Durán e a sua equipa traçaram o objetivo de, em 2020, o projeto se expandir para lá de Lisboa. Oxalá o consigam.
Menu de serviços
Os mais requisitados e os respetivos preços
Comida ao domicílio
1 hora: €8
Pack 5 horas: €38,50
Pequenas reparações
1 hora: €10,50
Jardinagem
1 hora: €8
Pack 10 horas: €75
Acompanhamento sénior
Serviço com deslocações a pé
1 vez: €12
Pack 5 vezes: €57,50
Serviço com deslocações de carro
1 vez: €15
Pack 5 vezes: €72,50
Babysitting
Serviço de companhia
1 hora: €6,50
Pack 10 horas: €60
Serviço com rotinas diárias e deslocações a pé
1 hora: €7
Pack 10 horas: €65
Serviço com rotinas diárias e deslocações de carro
1 hora: €9
Pack 10 horas: €80
Fonte: https://55mais.pt